Hastings II

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Um pouco depois, cruzávamos sob o pórtico da muralha e seguíamos pelas ruas estreitas da vila, subindo em direção ao castelo. Os aldeões paravam e me cumprimentavam, fingindo humildade ao me reconhecerem.

Contudo, eu podia ler nos rostos deles o que pensavam.

Lá vai o filho mais novo dos Hastings... Ele tenta conseguir o lugar do irmão... Dizem que até mesmo tentou envenená-lo... Pobre Francis! Tão nobre e honrado, mas é obrigado a aguentar vis traições. Já havia escutado isso diversas vezes entre sussurros dos servos e criados, quando achavam que estavam sozinhos. Como sempre, eu erguia a cabeça e seguia com uma expressão indiferente. Por dentro, me sentia cada vez mais solitário.

Por fim, entramos no pátio do castelo.

 Os cavalariços e pajens adiantarem-se para me receber. Contei sobre o acidente com meu cavalo e pedi que o trouxessem para o castelo. Alguns correram, obedecendo-me prontamente, e por um momento considerei que ao menos havia alguma vantagem em ser o filho do conde. 

Desmontei com um pulo, e só então me dignei a virar para Thiago, que me seguira o tempo todo. Apesar do dia frio, ele suava. Suas roupas de escudeiro estavam desarrumadas pela corrida e sujas de lama e gelo, devido ao nosso tombo. O cabelo dele se arrepiara ainda mais.

 Era uma figura triste... Pobre coitado! Meu irmão jamais o aceitaria como companhia.

— Vamos! — Fiz um sinal com o dedo, pedindo que ele me acompanhasse para dentro do salão.

Uma grande lareira trazia um pouco de calor e iluminava o  ambiente gelado e escuro, de janelas estreitas e colunas de pedra carcomidas pelos anos

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Uma grande lareira trazia um pouco de calor e iluminava o  ambiente gelado e escuro, de janelas estreitas e colunas de pedra carcomidas pelos anos. Nas paredes, tapeçarias bordadas com cenas de guerra, brasões e armas antigas se esforçavam para dar cor e animar o lugar, mas sem sucesso nenhum.

 Meu pai sentava-se na cadeira de espaldar alto, acima de um tablado de madeira. A barriga dele era um tanto proeminente, e o corpo já deixara seus melhores dias esquecidos no passado. Os cabelos curtos, antes escuros como os meus, agora estavam acinzentados. Suas roupas eram suntuosas, e muitos poderiam confundi-lo com o rei se não o conhecessem.

Cavaleiros, pajens e escudeiros de confiança o cercavam. O local estava cheio.

Como  temia, minha chegada era aguardada, e rostos nada amigáveis se voltaram em minha direção. Ao me ver entrar, meu pai aprumou o corpo, cerrou o cenho e  e fuzilou-me com um olhar indignado.

Parei diante dele, notando que Francis estava em pé logo atrás da cadeira. O pescoço de meu irmão  estava envolto por uma bandagem exagerada, como se tivesse sido ferido em uma batalha violenta nas Cruzadas.

Escondi um suspiro e engoli em seco, antevendo o sermão. Thiago, sem saber de nada, postara-se ao meu lado e olhava tudo com uma expressão curiosa e inocente.

Com um grunhido de fúria, meu pai se levantou.

— Soube que mais uma vez tentou agredir o seu irmão durante o treinamento! — A voz dele era um pouco mais fria do que o dia de inverno.

GillianWhere stories live. Discover now