Um Julgamento

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Alguns dias se passaram.

Do alto da marulha, eu e Thiago, ao lado de Thomas Locksley, observávamos a chegada de um pequeno exército cruzando a estrada em meio aos campos que cercavam o castelo. Eram vinte homens no máximo, cavaleiros usando armaduras e trazendo  armas de batalha.

Montavam devagar e com as espadas embainhadas, sinal de que chegavam em paz. No entanto, o fato de vestirem as armaduras era um alerta de que a paz era temporária e logo poderia transformar-se em guerra.

Um pouco antes, um mensageiro do grupo chegara a Locksley, mas eu não precisaria de apresentação para reconhecê-los. Mesmo antes de ver o brasão bordado nas bandeiras que flutuavam presas as pontas das lanças, eu já sabia. Meu pai e Francis estavam em meio aos outros cavaleiros. 

Junto deles vinham cavaleiros desconhecidos por mim. O brasão era o mesmo do conde William, mas as cores que os homens usavam eram diferentes.

— Andrew Fitzbur é irmão do conde. — Thomas tinha o cenho cerrado ao explicar quem eram, e sua voz estava tensa. — Quando Willian veio morar em Locksley com Marion, deixou seu castelo para o irmão. Mas Andrew não se contentou apenas com isso. Há anos procura convencer os nobres dos feudos vizinhos para se juntarem a ele. Diz-lhes que cobrará menos impostos e doará mais terras a quem o ajudar, se algum dia tornar-se o conde de Fitzbur.

Aquela noticia me surpreendeu. Estava tão preocupado com meus próprios problemas que nunca prestara atenção na política da região.

— No entanto, como eu administro o condado — Thomas continuou — também fui conquistando simpatias para William, que é o conde por direito. Poucos se atreveriam a atacá-lo.

— Então, porque se preocupa? — Foi Thiago quem perguntou, enquanto observava a aproximação dos homens com os olhos semicerrados e a testa contraída.

Thomas suspirou, desviando  o olhar para Thiago.

— Porque não viverei para sempre. William sempre deixou este tipo de problema em minhas mãos...  Ele não saberia o que fazer.

Ele não precisou continuar. Subitamente, eu entendi tudo.

—  E Marion se casaria com Francis — devolvi-lhe um olhar sério — porque assim vocês teriam os Hastings para protegê-los.

Thomas curvou os lábios em um sorriso triste.

— Mas pelo Robert jeito irá conseguir o que queria... O fim do noivado e uma guerra entre os Hastings e nós. E  Andrew Fitzbur se juntará ao seu pai.

Empalideci ao ouvir aquilo. A ideia de que o castelo de Locksley pudesse ser destruído me atormentava. Eu começava a amar o lugar e seus moradores muito mais do que algum dia amara Hastings e minha própria família.

 Locksley era um local de risos, músicas e trovadores. Certamente tinham seus problemas como todos os lares tinham, mas eu podia sentir o amor que inundava os que ali viviam. Como Robert pudera desprezar isso tudo? O amor dele por Marion colocaria em risco sua própria família... 

Eu o recriminava, mas ao mesmo tempo, o compreendia. Ele amava Marion e lutara por ela com todas as suas forças. No entanto, a situação era bem mais grave do que eu imaginara.

Abaixo de nós, os cavaleiros cruzaram o pórtico sob a muralha e entraram no pátio.  As patas pesadas dos cavalos ressoaram no chão de pedras, enquanto cavalariços e pajens corriam para recebê-los. 

Thomas virou-se para fazer o mesmo, mas eu me coloquei diante dele e interrompi seus passos.

— Perdoe-me se causamos algum problema... — encarei-o gravemente. — Se um dia houver uma batalha, eu e Thiago lutaremos ao seu lado.

GillianWhere stories live. Discover now