No Mercado

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As ruas de Nottingham estavam cheias; mulheres observavam o movimento das janelas e crianças corriam com gritos de excitação entre os que passavam.

Os arqueiros caminhavam juntos, formando um grupo ruidoso, contando piadas e histórias enquanto caminhavam. Discretamente, eu seguia os passos deles em direção à praça central, onde havia uma feira com bancas de alimentos e produtos de todas as regiões da Inglaterra.

Acompanhado de perto por Robert e Jack, John parou diante de uma delas. Comprando peixe defumado e um grande pedaço de pão, montou alguns sanduíches com um ar experiente e ofereceu o lanche aos dois.

Em outra banca mais atrás comprei um pedaço de torta e fiquei ali meio escondido, engolindo a comida quase sem sentir o gosto, enquanto mantinha meus olhos nos dois rapazes.

Menestréis e artistas apresentavam-se nas esquinas e as pessoas circulavam contentes com o dia de festa. Os arqueiros comiam em pé observando o animado movimento do local enquanto discutiam com Robert sobre a final do torneio, e ele os ouvia atento.

Jack estava ao lado dele. De repente notei que os olhos dele se fixavam nos meus e envergonhado por ser descoberto recuei um passo. No entanto Jack apenas sorriu, erguendo a mão em cumprimento, e veio em minha direção.

— Está sozinho? — Ele olhou para os lados, talvez esperando encontrar uma escolta para o nobre vestido como um príncipe.

Eu assenti em silêncio. As palavras me faltavam. Será que ele desconfiava que eu os seguira como um cão de caça? Eu devia estar mesmo maluco...

Ficamos parados nos olhando sem saber o que dizer um para o outro.

Repentinamente percebi que Marion, usando um vestido vermelho e um penteado elaborado que a deixava ainda mais bonita, aproximava-se de braços dados com meu irmão.

Ambos passaram por nós sem nos ver. Mais adiante notei que Robert também os vira e congelara com o rosto torcido em uma expressão de cólera.

— Encrencas... — Eu o apontei para Jack, que virou-se para observar Robert, e depois voltou-se de novo para mim com um meio sorriso.

— Encrenca é o sobrenome de Robert... — Ele meneou a cabeça, desanimado.

Robert pulava diante de meu irmão e de Marion, interrompendo os passos deles. O rosto dele estava vermelho e as mãos crispadas. Era fácil perceber que o ciúmes o devorava.

— Olá! — Robert cumprimentou-os com olhos faiscando de rancor. — Vejo que estão se divertindo hoje!

— Rob! — Marion soltou um grito de surpresa e largou meu irmão, pulando no pescoço dele e abraçando-o. — Você está aqui! Por que não nos procurou?

Robert a empurrou para longe.

— Deixe-me, Marion! — pediu em tom gelado.

Ela afastou-se com uma expressão magoada.

— Mas que mal educado! — rugi querendo defender Marion e comecei a andar na direção deles.

No entanto fui impedido por Jack que colocou a mão sobre meu ombro e sussurrou em meu ouvido:

— Espere...

Eu parei. 

Francis passou um braço em torno dos ombros de Marion e encarou Robert com desdém, avaliando o grupo de arqueiros que o cercava.

— Você é mesmo um bom arqueiro? Depois que nos casarmos possa lhe dar uma vaga entre meus soldados... — comentou de um jeito arrogante.

Robert soltou um riso sarcástico.

— Não vejo problema nenhum em ser um soldado ou um arqueiro, mas escolherei para quem pretendo dar minha lealdade! Não sou do tipo que as pessoas podem vender ou comprar... — retrucou, dirigindo um olhar acusador à Marion.

Ela empalideceu com o insulto. Francis colocou a mão no punho de sua espada, dando um passo para trás.

Robert fez o mesmo.

Jack correu e se interpôs entre eles, cumprimentando Marion com um aceno de cabeça.

— Hei! Temos que ir! — disse, puxando Robert pelo braço.

Robert estava paralisado, o corpo tenso como um animal selvagem pronto para o ataque, e não se mexeu, continuando a encarar Francis com um olhar feroz.

Jack pousou a mão sobre a dele.

— Lembre-se! Você ainda tem o torneio para vencer! — insistiu.

Finalmente isso fez com que Robert voltasse a si. Ele retrocedeu, soltando o punho da espada.

Francis também recuou, encarando-o como se ele fosse um ser desprezível.

— Vamos embora, Marion! Não devemos perder mais tempo com seu vassalo... — disse. E com um último olhar de aversão na direção de Robert, puxou-a para longe.

Robert observou os dois se afastarem. Tinha a testa contraída e um olhar perdido.

 Por um momento fiquei com pena dele. Tanto eu como ele não tínhamos muita sorte no amor...

— Será que sempre que estamos com você teremos que impedir uma luta? — John de Barnesdale, ao lado dele, erguia as sobrancelhas e fingia espanto. — Não achei que este torneio ia ser tão emocionante... Deveria ter trazido minha cota de malha e um machado!

Robert respondeu apenas com um grunhido mal-humorado.

— Vou voltar para o torneio — retrucou com um olhar sombrio, e a seguir deixou-os.

Passou por mim como o vento; um pouco depois Jack retornou.

— Vamos assistir à final do torneio? — Ele deu uma piscadela e sorriu, não parecendo nada abalado com a quase briga de seu amigo. Com certeza já devia estar acostumado ao temperamento de Robert.

Eu assenti e sorri de volta, meio fascinado.

E Thiago? Alguns devem estar se perguntando.... Thiago? O maldito escudeiro que ousara me abandonar? Já mal me lembrava dele. Ou pelo menos, assim eu pensava naquele dia.

GillianOnde histórias criam vida. Descubra agora