Duelos do Amor

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Os que dizem ser o amor algo doce, feliz e prazeroso não o conhecem de verdade. Ele é intenso e perigoso, semelhante a um animal selvagem.

É como estar perto do fogo, hipnotizado pelas labaredas, sabendo que se cair dentro delas será devorado. O coração dói como se uma lança o tivesse ferido, mas ainda assim desejamos que aquela dor não acabe nunca.

Naquela noite, foi isso o que senti por Thiago, e minhas dúvidas se o que fazíamos era certo ou errado rapidamente foram devoradas pelas chamas. Ambos ardemos entre caricias fortes, quase desesperadas, ansiosos para aplacar o desejo que nos consumia, entrelaçando pernas e braços.

Os lábios dele e o corpo não eram suaves; eram duros, masculinos, e nosso amor foi quase uma luta. Um duelo, cheio de paixão e desejo, intenso e voraz.

Por parte da noite, dominamos um ao outro, guerreamos e ardemos, como em meio à uma batalha. Depois caímos em um sono profundo, abraçados diante da lareira.

Quando acordei, já era manhã. Um raio de sol atravessava a fresta da janela e batia no rosto de Thiago, iluminando seus longos cílios e tingindo sua pele de reflexos rubros. Ele ressonava de lábios levemente entreabertos, com os cabelos revoltos e escuros tampando parte do rosto, e o tronco de músculos torneados pelos treinamentos físicos relaxados sobre nosso leito improvisado. Era belo como um deus, mas tentador como um anjo caído.

Meu coração continuava a doer, insaciável, como se a noite de amor não tivesse passado de um sonho. Ergui a mão e acariciei o rosto dele, admirando-o.

De súbito, ele abriu os olhos e segurou minha mão.

― Pare!

― Pare? ― Eu franzi a testa, hesitando.

Ele sentou-se. Eu o imitei. Ficamos ali, os dois imóveis, olhando um para o outro com expressões meio constrangidas; Thiago, com olhos misteriosos, e eu, com um olhar confuso.

"Não gostou?", quase perguntei, o que seria péssimo. Mas felizmente, ou infelizmente, na verdade não sei bem, de repente a porta do quarto se abriu.

― Uau! ― ouvi uma exclamação, entre surpresa e divertida.

Mas que praga..., resmunguei. Parado à nossa frente estava Robert, de sobrancelhas erguidas e com um sorriso arrogante nos lábios.

Por sorte  nossos quadris estavam cobertos pelas mantas. No entanto, era bastante óbvio que, sob ela,  nós dois estávamos despidos.

Thiago havia empalidecido. Contudo, eu não me deixei abater.

― As regras de educação pedem que se bata a porta antes de entrar... ― rosnei para Robert, devolvendo-lhe um olhar orgulhoso.

― Eu bati... ― ele retrucou.

E ao invés de sair do quarto, continuou nos encarando por um momento. Depois foi até uma poltrona e sentou-se, cruzando a perna como dono do lugar. O que ele de fato era, pois estávamos no castelo do pai dele... De qualquer maneira, aquela atitude irritou-me.

Enfim, Thiago resolveu descongelar e, puxando a manta que nos cobria, envolveu-se nela e se pôs de pé. Em uma pequena saleta anexa havia um local para as toaletes diárias, e ele foi para lá, carregando suas roupas e deixando-me a sós com Robert.

Eu tinha me coberto com uma almofada, e o prepotente idiota continuava a me encarar com um sorriso  nos lábios.

― O que quer? ― rosnei de novo, cerrando o cenho e estreitando os olhos para tentar parecer ameaçador.

― Meu pai deseja levá-los para conhecer o feudo... ― ele explicou, e inesperadamente, seu sorriso irritante transformou-se em um sorriso de verdade.

Não sei dizer como eu soube, mas a expressão estampada no rosto dele me disse muito mais do que centenas de palavras. Ele percebera que eu e Thiago havíamos passado a noite juntos, mas acabara de decidir que não havia problema. Não condenava-me ou nem mesmo me considerava um estranho.

Eu havia notado a perturbação e a dúvida nos olhos de Thiago ao acordar, e isso também me fizera duvidar de meus sentimentos.

Poderia ter me culpado, angustiando-me desesperadamente... Esse era meu jeito típico de agir. Mas o olhar de Robert, naquele momento, afirmando em silêncio que estava tudo bem amar a quem eu desejasse, salvou-me disso.

Senti meu peito se aquecer de alegria. Eu amei Robert, seu sorriso e seus olhos dourados, e quase me esqueci de Thiago. Não me acusem de infidelidade! Foi só por um instante.

Thiago reapareceu. O rosto dele estava contraído. Ele olhou para Robert e depois para mim com  olhos faiscantes de ciumes. Devo confessar que gostei de ver aquilo.

Robert se levantou com um pulo. Seu semblante voltava a mostrar a usual arrogância.

― Não demorem... Meu pai já os aguarda. E acredite-me ―  ele arregalou os olhos de uma maneira exagerada ―  é melhor não aborrecê-lo! ― exclamou, e depois saiu em passos rápidos.

 Thiago torceu os lábios e grunhiu.

Eu estava feliz. Ainda assim, grunhi de volta. E erguendo-me, aproximei-me dele. Bati um dedo em seu peito, desafiando-o.

― Jamais pense em me desprezar de novo. Nem por um segundo! ― afirmei de queixo erguido, e virando-me, afastei-me com um andar confiante para a saleta ao lado.


Nota da autora: capitulo curtinho, mas intenso. Deixem seus comentários. Mega curiosa para saber o que vocês acharam!

GillianHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin