Na Floresta

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Um pouco mais tarde, deixávamos o mosteiro. A lua cheia clareava o caminho, e a floresta que cercava a abadia recortava-se escura contra o céu de estrelas. Teria sido um bonito trajeto... No entanto, eu ainda tinha as mãos presas atrás da costas. Elise cavalgava ao meu lado, e soldados e meu irmão nos cercavam como se fossemos prisioneiros.

Minha garganta queimava de ansiedade. Pressentia que havia algo errado. Por que Francis nos mantinha assim?

― Irmão, ― por fim acabei dizendo, atemorizado, quando percebi que ele deixava a estrada principal e entrava por uma trilha estreita em meio às árvores ― há uma hospedaria à duas milhas daqui. Podemos passar a noite por lá.

Ele montava diante do grupo e não olhou para trás. Os soldados haviam acendidos tochas e iluminavam o caminho, e também seguiam em silêncio.

Os olhos de Elise se voltaram para mim, preocupados.

― Onde estamos indo? ― voltei a insistir, lutando para disfarçar o pânico em minha voz. Conforme penetrávamos entre as árvores, a vegetação se adensava, assim como a escuridão. Na floresta, qualquer coisa poderia acontecer e jamais ninguém saberia, a não ser os soldados que podiam ser facilmente subornados.

Estávamos a mercê do humor de Francis, e este parecia bastante sombrio. Eu podia pressentir que ele tinha algum horrível plano em mente.

Finalmente, chegamos à uma pequena clareira. Desmontando, Francis pediu que me retirassem do cavalo e amarrassem minhas mãos ao galho de uma árvore. Mais uma vez comecei a me contorcer e lutar, grunhindo e tentando me libertar, contudo logo me prenderam.

Então, meu irmão aproximou-se de Elise e, agarrando-a pela cintura, retirou-a do cavalo. Como eu havia feito, ela se debateu entre as mãos dele, xingando e praguejando alto, enquanto ele a arrastava para longe de nós.

― Francis! ― eu berrei, nervoso e irado.

Ele parou e voltou-se. Iluminado pela luz fraca das tochas, os olhos dele brilhavam com uma luz ameaçadora.

― Vou apenas experimentar sua noiva. Não se preocupe! Ela irá gostar...

Eu ainda puxava a corda para me soltar, mas isso me fez parar, imóvel e aterrorizado.

― Não! ― protestei, sentindo-me gelar.

Ele riu e apertou Elise entre os braços, tentando beijá-la. Ela virou o rosto e rosnou, inclinando-se para escapar, mas sendo impedida pelas mãos dele que a agarravam firmemente.

Desesperado, vi que ele desaparecia com Elise na escuridão da floresta. Voltei a gritar, chamando-o e ameaçando os soldados, jurando mil castigos se eles não me soltassem.

Entre as árvores, escutava os protestos de Elise e sons de luta. Depois, uma pancada mais forte, e a seguir, o silêncio.

Caí de joelhos, fechando os olhos e encolhendo-me, imaginando o que acontecia. Murmurava maldições e pragas, jurando que mataria meu irmão quando ele enfim me soltasse.

De súbito, ouvi o som de passos correndo. Surpreso, abri os olhos a tempo de ver Thiago surgir das sombras e atacar os três soldados com um pesado galho de árvore, cortado para ser usado como um cajado.

Ele revirava a arma em suas mãos tão velozmente que mal pude acompanhar os movimentos, enquanto acertava a parte de trás das cabeças dos homens, derrubando-os desacordados aos seus pés.

Um instante depois, Elise, descabelada e com um olhar assustado, ajoelhava-se ao meu lado e começava a soltar o nó da corda que envolvia meus punhos.

Thiago também agachou-se perto e, mais hábil, cortou a corda com a adaga que tirara da cintura.

― E meu irmão? ― sussurrei, meio rouco, ainda tremendo e apavorado.

GillianWhere stories live. Discover now