Irmãos

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Apavorado, passei a apalpar as paredes, tentando descobrir alguma saída. Mil perguntas passavam por minha cabeça e muitas ideias terríveis.

Como já comentei em algum momento, sou bastante imaginativo. Por alguns instantes, o pânico me fez pensar no pior.

As freiras deviam ser na verdade bruxas, e logo me devorariam em alguma espécie de ritual satânico... Já me via entre elas, amarrado à uma mesa de sacrifícios. Um pentagrama estava desenhado na parede. A abadessa se aproximava; seus olhos de rato estavam brancos, e ela erguia uma faca sobre meu peito...

"Devoraremos seu coração, meu jovem rapaz", ela diria, e depois soltaria uma risada demoníaca.

Murmurando uma prece, tropecei em algo na escuridão e quase caí. Tateei à minha frente e descobri que era uma cama. Sentei-me na beirada, cruzando os braços para me proteger do frio naquela cela escura. Será que me deixariam ali por anos e somente abririam a porta quando eu já houvesse me tornado um esqueleto sem vida?

A possibilidade me fez esquecer o ritual satânico e eu fiquei ali, imóvel e angustiado, por um longo tempo.

Em meu coração, havia apenas uma esperança: Thiago. Felizmente, ele não me acompanhara, e agora era o único que poderia me tirar da enrascada. Praguejei baixinho, infeliz com a ideia de que viera resgatar uma dama, mas agora era eu mesmo que precisava ser salvo...

E Elise? De súbito, a preocupação me assaltou. Teria sido devorada no ritual das bruxas? Minha imaginação era tão vívida que já considerava a fantasia como pura realidade. Confesso que apavorei-me de verdade.

Lembrando-me de que estava armado, tirei a espada e a adaga da cintura. Levantei-me e fui tateando pelas paredes até a porta. Coloquei-me atrás dela, pronto a atacar quem entrasse.

Meus braços doíam. Eu já tinha a certeza de que me deixariam ali eternamente, quando de repente, a porta se abriu. Escondido na sombras, apertei os punhais das armas, preparando-me para investir em quem entrasse.

A luz avermelhada das tochas clarearam o quarto. Três soldados entraram carregando-as, trazendo espadas desembainhadas na outra mão. Um vulto, coberto pelo capuz negro de uma capa,  veio atrás deles.

Com um rugido, ataquei de surpresa e consegui desarmar o primeiro soldado.

Mas então, subitamente reconheci o brasão estampado nas túnicas. Era o de Hastings!

― Gillian! ― O vulto coberto pela capa havia recuado para um canto e baixado o capuz.

Dei um passo para trás e torci o rosto, espantado ao ver quem era.

Francis.

Apesar do susto, suspirei de alivio. Não haveria ritual satânico... Baixei as armas, sentindo-me aborrecido pela presença dele, mas pelo menos em segurança.

Jamais deveria ter feito isso. Surpreendentemente, os soldados investiram, agarrando-me pelos braços e obrigando-me a soltar as armas. Em seguida, um deles tirou uma corda que levava presa ao cinto e começou a amarrar meus punhos atrás de minhas costas, como se eu fosse um prisioneiro comum.

Eu me contorcia e grunhia, indignado, tentando me soltar. Contudo, os outros me seguraram com apertos firmes nos braços, enquanto o terceiro terminava de me prender.

― O que estão fazendo? Enlouqueceram? ― perguntei aos soldados. 

― Seguimos ordens de Sir Francis ― um deles explicou-me.

Voltei-me para Francis, que estava parado e observava a cena com um riso de deboche nos lábios.

― Não, irmãozinho... Quem enlouqueceu foi você! ― Ele adiantou-se e parou bem perto. Seus olhos escuros tinham um brilho sarcástico. ― Veio salvar Elise?

GillianOnde histórias criam vida. Descubra agora