Prisioneiros II

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Gawain berrou de raiva e jogou o pergaminho amassado em meu colo. Ele enviara um emissário até Hastings com um pedido de resgate, e aquela carta era a resposta.

— Seu pai disse que não pagará uma moeda por sua cabeça! — rugiu, enquanto andava de um lado para o outro no exíguo espaço na torre.

Eu e Thiago o observávamos em silêncio, sentados nos duros bancos de madeira.

Uma semana se passara. A quantidade de comida que nos traziam era o suficiente apenas para nos manter vivos, e a lareira continuava apagada. As noites frias de outono tornavam-se ainda mais geladas devido ao vento que entrava pela janela desprotegida. Estávamos sujos, famintos, e nosso ânimo declinava a cada dia.

— Meu pai e eu não temos as melhores relações... — retruquei, dando de ombros e o encarando com desprezo.

Gawain veio em minha direção e agarrou-me pela gola da túnica.

— Devia ter calculado! Um segundo filho, um inútil! Traiu o próprio irmão, assassinou um nobre... — gritou e, erguendo a mão, deu um tapa forte em meu rosto.

Mordi os lábios para não gemer e olhei de canto para os dois soldados que nos apontavam balestras armadas.

— Covarde! — ainda assim, xinguei Gawain. Minha raiva era tanta que vencia o medo. — Por que não entra aqui sozinho e...

A mão de Gawain ergueu-se de novo, preparando outro golpe.

De repente, Thiago avançou e segurou o braço dele.

— Pare! — berrou.

Um dos soldados adiantou-se rapidamente, ameaçando-o com a espada e obrigando-o a afastar-se.

Gawain soltou-me, voltou-se para Thiago e tirou uma adaga do cinto. A lâmina cintilou na penumbra fria da torre.

— Cansei de ser educado! Se soubesse que hospedá-los só me traria despesas ao invés de algum lucro e que suas famílias não se importavam com vocês, ao menos teria me divertido! — Encostou o fio da lâmina no pescoço dele. — Vou levá-lo para o calabouço e vamos nos distrair um pouco!

— Não! — Thiago protestou ao ver o perverso brilho de prazer cintilar nos olhos verdes do escudeiro. Deu um passo para trás e ergueu as mãos, preparado para lutar.

— Vamos! — Gawain lhe ordenou mais uma vez. — Ou mando meus homens atirarem em seu amigo! — Fez um sinal de cabeça para os soldados e estes voltaram as flechas na minha direção

Eu havia me levantado e preparava-me para pular em cima dele. Vi Thiago estremecer, olhando para mim, hesitante.

De repente, Gawain arrancou a balestra de um soldado, mirou-a para mim e disparou. A flecha perfurou minha coxa, e eu caí de joelhos com um grito de dor.

Pegando outra flecha do soldado, ele armou a balestra novamente e voltou-a para meu peito.

Thiago adiantou-se com as mãos levantadas.

— Eu vou com você!

Com esforço e segurando um gemido, eu me ergui. Podia perceber que os olhos de Gawain mostravam um prazer perverso, enquanto ele avaliava Thiago demoradamente. Em toda minha vida, jamais odiei alguém como naquele momento.

— Espere! — gritei, desesperado. — Sei quem poderá pagar nosso resgate! Escreverei outra carta!

Gawain já estava na porta, seguido pelos soldados que empurravam Thiago. Ele parou e retornou, observando-me atento, provavelmente pensando se acreditava em mim.

GillianKde žijí příběhy. Začni objevovat