Uma Surpresa

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Os dias passavam lentamente

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Os dias passavam lentamente.

Meus aposentos eram amplos; a antessala confortável, cheia de almofadas, mesas, poltronas e lareira enorme. Ao lado, ficava o quarto onde eu dormia. Minha cama era macia, ornamentada por mantas e tecidos bordados com fios dourados. Assim como as roupas que eu usava, parecia ser a cama de um príncipe.

Eu não estava em uma masmorra, mas odiava ficar preso. Costumava ter uma vida ativa, com treinos físicos, duelos e caçadas.

Ficar parado o dia inteiro era uma tortura, embora eu tivesse a companhia dos livros para me ajudar. Mandara os pajens os trazerem da biblioteca, e logo diversos volumes se espalhavam por minha antessala.

Passei os primeiros dias lendo sem parar, até meus olhos cansarem. Eu dormia, acordava, e lia de novo. De vez em quando, a neve caía e me alegrava, porque então eu não me sentia preso. Em dias como esses, estaria também em meu quarto lendo.

Contudo, em outros dias, o céu se abria e o sol aparecia. Eu me aproximava da janela, coberto por uma das mantas e vestindo somente minhas roupas de baixo. Permanecia por horas, olhando para fora e sentindo pena de mim mesmo. Não me considerava apenas um prisioneiro durante o castigo, mas sim por toda minha vida. Diversas vezes quisera ir embora e deixar os olhares que me acusavam para trás, mas sempre recuara, com medo.

Eu era um covarde.


Passados alguns dias, inesperadamente quatro pajens e um valete, recém saídos da infância, entraram no meu quarto. Após me cumprimentarem de maneira breve, começaram a recolher os livros e levá-los para fora.

— O que estão fazendo? — Joguei-me diante de um deles e abri os braços, desesperado, impedindo-o de sair.

— São ordens de seu irmão e do conde... — o garoto explicou, sem disfarçar um sorriso ao ver minha careta de pânico.

Suspirei e sentei-me em uma poltrona, deixando o ar escapar com força e encolhendo os ombros, desanimado. Demorara para Francis perceber que eu me distraía em minha prisão, e que por isso o castigo perdia parte do efeito.

 Por sorte, havia previsto esta possibilidade e escondera a Odisseia de Homero embaixo da cama. Relê-la com atenção seria o suficiente para me consolar.

O último dos garotos já cruzava o batente, quando pulei da poltrona e puxei-o pelo braço de volta. A seguir, corri para um baú encostado no canto da sala, abri o tampo, e de dentro tirei um pequeno saco. 

Moedas tintilaram. Retirei uma delas e a ergui diante do pajem.

— Se me fizer um favor, essa moeda será sua.

O garoto tinha dois livros nos braços e quase os derrubou. Provavelmente nunca havia visto um besante de ouro na vida. Eu o balancei na frente dele e o atirei para o alto, sentindo-me subitamente alegre. Amava desperdiçar o dinheiro de meu pai como se fosse água.

GillianWhere stories live. Discover now