Locksley

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O sol já descia no horizonte sob as colinas quando finalmente pudemos avistar o castelo de Locksley sob uma colina. Abaixo dele, a vila se estendia até o rio e o lago que beirava a estrada.

O castelo era uma construção defensiva tal como Hastings, com altas torres rodeadas por uma muralha.  Os arredores eram de uma beleza pacífica de campos verdejantes e férteis, onde numerosos rebanhos de ovelhas pastavam calmamente.

Havíamos passado o dia cavalgando. Felizmente, Francis e seus soldados não tinham nos perseguido, mas nós três estávamos cansados e preocupados com nosso futuro.

Na estrada eu esforçara-me para recordar tudo o que sabia sobre o conde William Fitzbur e os Locksley.

Lady Bethany era de Poitiers na Aquitânia, a famosa Corte do Amor, e casara-se Thomas Locksley, cavaleiro do exército de nosso rei, Henrique II.

Thomas administrava não somente as terras do feudo de Locksley, mas também as de todo o condado. O conde William Fitzbur era viúvo.  Sua esposa morrera logo após o parto de Marion, a única filha do casal, e ele recusara-se a casar novamente.

Lady Bethany era madrinha de Marion e se tornara responsável pela criação dela. Portanto, o conde e a filha recém-nascida haviam deixado o castelo de Fitzbur e transferido a sede do condado para Locksley, o castelo vizinho, distante apenas uma dezena de léguas. 

Desde então, as duas famílias moravam juntas, o que era muito comum entre os da nobreza. Contudo, boatos corriam... No entanto, era melhor esquecer-me deles, porque em confusões eu já estava enterrado até o pescoço.

Eu refletia, calculava e repensava a história que contaria ao conde Fitzbur. Precisaríamos da ajuda dele, portanto eu deveria revelar parte do ocorrido. 

Assim que cruzamos os portões que davam acesso ao pátio do castelo, eu pedi à Elise, que voltara a montar seu próprio corcel:

― Não conte sobre o ataque de Francis. O noivado dele e da filha do conde não deve ser cancelado. Deveria ser cuidadosos...

O rosto dela tinha uma aparência cansada e as roupas estavam desarrumadas pelo dia de viagem extenuante. Ela franziu a testa e me encarou com desprezo.

― Como ocultar tal fato? Deixaremos Francis safar-se sem uma represália?

Thiago evitava me olhar. Seus olhos estavam inquietos, e ele cavalgara grande parte do dia em silêncio. Devo confessar que naquele momento eu me preocupava apenas com o futuro dele.

― Se o noivado for rompido, meu pai jamais perdoará Thiago. E a família dele sofrerá as consequências ― expliquei-me, enquanto cavalariços aproximavam-se para nos receber.

Ela voltou-se para Thiago e o examinou por um momento. Depois, voltou-se para mim e assentiu com o queixo.

― Farei como me pede. Mas jure-me que um dia se vingará ― a voz dela estava cheia de ódio.

Deixei escapar um suspiro e engoli em seco. Sentia-me envergonhado, pois meu silêncio me tornava cúmplice do ataque.

― Ele é meu irmão... Não posso jurar vingança.

Mais uma vez, ela me fitou indignada. Thiago permanecia calado, e eu já não sabia mais quais das duas atitudes me deixava mais confuso. Ele ao menos podia falar algo, pedir por sua família, e então eu me sentiria melhor. Mas não o fez, e um capitão de armas já se aproximava para recebermos.

Apresentações trocadas, ele ordenou a um soldado que se apressasse para avisar sobre nossa chegada imprevista.

Um pouco depois, éramos encaminhados por um valete ao salão principal, um aposento comprido com uma grande lareira ao final. Poderia ser semelhante a Hastings... No entanto, tudo ali mostrava o toque feminino de uma dama que amava a beleza e o luxo.

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