Epilogo- O Ninho da Águia

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O inverno passou e a neve deu lugar ao sol e as flores que começavam a desabrochar.

Meu pai e irmão haviam deixado Locksley dois dias depois daquela reunião em que Jack os tinha jurado lealdade. Eu nem mesmo deixara meu quarto para me despedir e, na verdade, rezava para nunca mais revê-los.

Depois de nossa última conversa na torre, Jack passara a me evitar e me tratava com uma cortesia distante quando nos encontrávamos durante o dia. Thiago, talvez enciumado por causa dele ou por que ainda remoía seus desejos de vingança contra Gawain, passava muito tempo perdido em pensamentos melancólicos.

E assim, entre a melancolia de Thiago e a indiferença de Jack, eu e Robert nos tornamos melhores amigos por mais inacreditável e surpreendente que isso fosse.

Talvez tenha sido a convivência forçada nos dias de nevasca... Ou porque Robert gostava de jogar o xadrez tanto quanto eu, ou porque nós dois nos sentíamos solitários.

Quem pode explicar como se forma uma amizade? Apesar das implicâncias mútuas, que se tornavam cada vez mais uma espécie de brincadeira entre nós, nos tornamos inseparáveis.

E no final de uma tarde, mais uma vez eu estava de volta à torre.

O terror que eu tinha de lugares como aquele simplesmente desaparecera. E agora, assim como Robert, eu fugia para o local onde podíamos ver o mundo do alto, nos distanciando de tudo para refletir com mais clareza.

Ao subir o último degrau da escada, como esperava, encontrei Robert ali. Ele tinha o arco na mão e aljava de flechas nas costas, seus cabelos loiro-escuros brilhavam com reflexos dourados sob a luz do sol, e os olhos ainda mais dourados ardiam como se um fogo interno o impulsionasse.

— Hei! — eu o chamei.

Ele virou-se e sorriu quando percebeu que era eu que chegava. Aquele sorriso fez meu coração parar por um instante, pois qualquer outro coração teria parado de bater. Robert era belo como um deus quando os raios de sol o iluminavam do jeito certo.

Respirando fundo, devolvi o sorriso e me aproximei.

— O que está fazendo aqui? — ele perguntou.

— Não gosto muito de festas — respondi meio aborrecido, parando ao lado dele. Lá embaixo, no pátio do castelo, entre danças, músicas e um enorme banquete, os moradores de Locksley comemoravam o casamento de Elizabeth e John que acontecera pela manhã.

— Aposto que está se escondendo de Jack e Thiago...

Dei de ombros, fingindo ignorar o comentário certeiro.

— Todos estão atrás de você! — avisei-lhe. — Seu pai me pediu para chamá-lo e quer ouvir uma de suas canções

— Meu pai? Tem certeza? — Robert franziu o cenho.

— Bem... Ele deve ter bebido demais! — Ergui uma sobrancelha e sorri, irônico. Thomas ainda não tinha perdoado o filho por ter colocado o feudo em risco.

Robert soltou uma risada, retirou uma flecha da alijava que trazia às costas e encaixou-a na corda do arco.

— Um último disparo e já descemos. Amanhã estaremos na estrada e vim me despedir do castelo.

— O "trio dos deserdados". Eu, você e Thiago! — exclamei com animação. — Provavelmente faremos sucesso ao nos unirmos a Richard, o rebelde duque da Aquitânia, que guerreia contra o próprio pai. Poitiers será o lugar perfeito para nós.

— Sim! A "Corte do Amor". Minha mãe me contou sobre garotas lindas como flores que usam vestidos extravagantes e são ousadas como abelhas na primavera! — Os olhos dourados brilharam de expectativa.

GillianOù les histoires vivent. Découvrez maintenant