Amigos

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A cabana ainda queimava, lançando uma fumaça escura para o céu e o barulho de madeira ardendo ressoava.

Os soldados flechados estavam caídos ao chão. Eu e Jack fomos até eles para examinar se ainda estavam vivos. Entretanto, logo vimos que todos estavam mortos. Eu estremecia de horror, mas tentava me fingir de corajoso, enquanto Jack agachava-se, os benzia e murmurava algumas preces.

Robert estava parado diante do resto da cabana em chamas e murmurava sozinho. De repente, saiu correndo para o campo que cercava a cabana e agachou-se em meio à relva alta. Em seguida, chamou por Jack com a voz aflita.

Um pouco depois, eles trouxeram um rapaz muito jovem e de cabelos loiros, desmaiado entre os braços deles, e o levaram para o galpão.

Eu fiquei fora. Meus olhos se demoravam nos homens mortos na grama e na cabana em fogo. O medo que não tivera ao salvar Robert agora ameaçava me dominar. Ainda não sabia em qual encrenca o arrogante Locksley se enfiara, mas era bem fácil perceber que não era nenhuma brincadeira.

Um pouco depois, Jack saiu do salão.

— Quem era o rapaz ferido? — perguntei a ele.

— Percy, amigo de Robert. Ele vai ficar bem... — Jack me olhou com uma expressão preocupada. — Mas Robert tentará resgatar Elizabeth e John.

— Resgatar? — Eu franzi a testa, sem conseguir esconder minha ansiedade. — De onde?

Jack balançou a cabeça e deu de ombros. Sabia tanto quanto eu sobre o que acontecia. Depois, afastou-se e foi procurar os cavalos.

Quando Robert deixou o galpão, eu e Jack já estávamos prontos, segurando as redeas de nossas montarias.

Então, ele nos contou o que acontecera. Como tentara salvar Mildred, uma curandeira acusada de bruxaria, enfrentando em um duelo o acusador, Sir Lacran, lorde de Aslan. Como neste, ele e John haviam se tornado inimigos deste lorde, e que o cavaleiro que os atacara era Gawain, sobrinho dele.

Finalmente, terminou voltando-se para mim com um olhar de acusação:

— Francis, seu irmão, apaixonou-se por Elizabeth. Ele está em Aslan e juntou-se a Sir Lacran para ordenar o ataque.

Eu me surpreendi com a novidade. Há meses não via meu irmão e não sabia do que acontecia com ele. Contudo, podia imaginar Francis fazendo algo deste tipo. Ao escutá-lo, eu sentia meu coração pesar cada vez mais. Primeiro, por saber do envolvimento de Francis; segundo, porque percebia que Robert me encarava como se me odiasse, apenas porque eu era um Hastings. Abri a boca para me defender, mas ele já afastava-se.

— Tenho só mais uma coisa a fazer antes de irmos — nos avisou, indo em direção um chiqueiro que ficava alguns passos atrás da casa e abrindo a portinhola do cercado.

— Saí daqui Gillian! — disse para um porco, enquanto o atiçava para fora. — No caso de eu não voltar, você vai ter que se virar sozinho para arrumar seu alimento! Tomara que os camponeses te peguem!

O porco grunhiu e saiu rastejando.

— Vai, Gillian! Ou vai virar um belo ensopado! — gritou e bateu palmas.

O animal finalmente correu e sumiu entre as árvores. Então, Robert voltou-se para nós.

Eu cerrava as sobrancelhas e grunhia, indignado e furioso.

— Você deu meu nome a um porco? — vociferei com o cenho franzido. Já quase me arrependia de ter tirado ele da cabana. Devia ter deixado o idiota queimar até a morte!

GillianOnde histórias criam vida. Descubra agora