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Tem duas semanas que eu não vejo as crianças. Me convenci que seria impossível Christopher me manter longe delas, já que eu sempre os encontrava pelo condomínio, mas isso não está mais acontecendo, assim como as visitas à minha casa. Christopher realmente os proibiu de terem qualquer contato comigo, exceto Lucas.

Ele continua me esperando todos os dias durante a semana. No começo, fiquei com medo de que Christopher armasse um barraco em minha porta, mas Lucas contou que ele está ciente das caronas e que não costuma se meter em sua vida. Pela forma que falou, percebi que guarda muita mágoa do irmão e se Christopher não tomar cuidado, essa relação será prejudicada permanentemente.

Eu me encontro mais uma vez em frente ao computador, encarando sua tela em branco e sem conseguir escrever uma única linha quando ouço a campainha tocar desesperadamente. Alguém simplesmente encostou o dedo nela e não o solta até que eu abro a porta.

— O que aconteceu? — pergunto assustada ao ver Luna chorando.

— O Gael... Por favor, me ajuda! — implora em meio a soluços. Não penso duas vezes antes de bater à porta atrás de mim e correr escada acima. Não sei o que está acontecendo, mas o estado de Luna me deixou muito assustada.

O apartamento está com a porta aberta e noto que tem algumas pessoas que eu não conheço ali. Christopher está com um olhar desesperado e entendo o motivo ao ver Gael desmaiado em seus braços e com os lábios roxos.

Quando você se torna mãe pela primeira vez, tudo é motivo de desespero. Eu entrava em choque quando via Fernando sentir dor, se machucar ou chorar por algum motivo desconhecido. Eu era a mãe desesperada que incomodava os pediatras e enfermeiros devido a uma mordida de mosquito ou brotoeja no meu bebê enquanto Paco sempre foi o pai racional, era ele quem conseguia agir de forma prática e fria, e só agora entendo o porquê.

Se já tem uma pessoa desesperada e você também fica assim, as coisas podem sair do controle mais rápido, então ao ver o estado de Christopher, ajo  o mais friamente possível.

Puxo Gael do seu colo sob seus protestos e me sento no braço do sofá, deito o bebê de bruços em meu braço e seguro suas bochechas com a maior delicadeza que posso apesar da minha pegada firme, com a outra mão, bato em suas costas com certa força.

— O que você está fazendo? Vai machucar ele! — Christopher grita tentando me impedir.

— Cala a boca e se afasta, Christopher!

Depois de bater cinco vezes em suas costas, viro Gael de barriga para cima e realizo cinco compressões com dois dedos na altura de seus mamilos. Meu toque é forte o suficiente para saber que ele vai ficar com hematoma depois, mas isso não me importa agora. Então o viro de bruços novamente para repetir o processo.

Um dia, Fernando se engasgou quando eu o amamentava e eu quase tive um ataque cardíaco achando que tinha matado o meu bebê. Paco estava no jardim e saí correndo de casa, gritando e chorando tanto que chamou atenção de todos os vizinhos. Graças a Deus, um deles era policial e simplesmente me ajudou ali mesmo. Depois disso, Paco fez um curso de primeiros socorros e fez questão de me ensinar todos os procedimentos, mas como eu disse, eu nunca era a racional da história.

A tampinha de garrafa pet voa pela sala quando os paramédicos entram no apartamento e Gael começa a chorar desesperadamente. Ouço alguém aplaudindo ao fundo, mas apenas levanto o bebê em meus braços, abraçando-o com força enquanto ele se agarra ao meu pescoço, porque depois desse susto, ele só precisa de carinho. Respiro aliviada e agradeço mentalmente por estar sentada, pois meu corpo inteiro treme agora que a adrenalina passou.

— Você é a mãe dele? — um paramédico para em minha frente e nego com a cabeça.

— Vizinha. Você precisa examiná-lo, não é?

O vizinho de cimaWhere stories live. Discover now