58

4K 265 167
                                    

"Há duas semanas, Dulce me apareceu em casa com mini vaso sanitário, dizendo já estar na hora de desfraldar o Gael. Fiquei confuso com a informação, nunca tinha cuidado de um bebê antes, então ela me explicou que as crianças não deixam de usar fralda magicamente, precisamos ir tirando aos poucos e seria um processo de adaptação. O que pode ter de tão difícil em deixar de usar uma fralda? É só apresentar o vaso sanitário para ele e explicar o que deve fazer ali, certo? Errado! Ela começou a levar Gael para o tal penico a cada quinze minutos, comemorando cada vez que ele fazia algumas gotinhas de xixi e dando um adesivo a ele a cada acerto. Fiquei um pouco deslocado e preocupado com a sanidade mental da minha namorada, por comemorar tanto um xixi no lugar certo, até os escapes começarem a acontecer...

Xixi no sofá, na cama, no chão, na cadeira, no segundo dia eu já estava tão exausto de limpar xixi fora do lugar que passei a comemorar junto com a ela a cada acerto (Foi a vez de Luna me encarar como se eu fosse maluco, provavelmente preocupado com a minha sanidade mental). Após uma semana, Gael já sabia ir sozinho para o penico toda vez que queria fazer xixi e as fraldas só eram usadas durante a noite (colocadas depois que ele dormia e tiradas antes dele acordar, outro processo, segundo Dulce). Pensei que tudo estaria numa boa agora, certo? Errado! Chegou a vez do "Tchau, cocô".

Gael se recusava a fazer cocô em qualquer lugar diferente da fralda e já não queríamos colocar ela. Então a ordem médica foi deixar ele sem fralda, em algum momento ele não ia segurar mais. Ele sentia vontade de fazer cocô e pedia pela fralda, nós o levávamos para o penico, liamos um livro, cantávamos, fazíamos de tudo, mas não rolava. Como uma espécie de vingança maligna planejada por uma criança de dois anos e meio, o xixi no chão voltou a acontecer. Isso me deixou frustrado e exausto, mas Dulce seguia plena, dizendo que isso era normal e uma hora daria certo.

Sozinho em casa com Gael, ele correu para o corredor dos quartos e o vi se abaixar e fazer força. Tinha acabado de tirar sua roupa para dar banho e corri em sua direção para pegá-lo, só não esperava que o mocinho tivesse feito xixi no meio do caminho e a única coisa que senti foi minhas costas batendo com tudo no chão alguns segundos depois que deslizei por ele. Quando Lucas chegou em casa, eu estava deitado por cima do xixi, mas pelo menos Gael se solidarizou comigo e foi sozinho para o penico e fez o bendito cocô. Conseguimos o desfralde e de quebra, uma pequena lesão na lombar"

— Você sabe que está doendo, não é? — ele resmunga quando eu jogo a cabeça para trás gargalhando.

— Amor, desculpa — respiro fundo tentando me controlar, mas é um pouco difícil — Nossa, está muito bom! Quando vai postar?

— Amanhã — diz fraco e preciso morder o lábio para prender o riso — Para de rir! Já não basta as crianças.

— Oh meu Deus! — sento ao seu lado na cama e beijo sua testa — Já tomou o remédio?

— Já! — passo a mão em seu cabelo, penteando-o para trás — Estou com saudade de você — seu olhar tem um brilho malicioso que me faz sorrir de lado.

— Também estou, mas você está há três dias sem nem conseguir sentar direito por causa dessa queda. Não vamos piorar a situação, ok? O médico disse uma semana sem esforço.

— Pelo menos alguém vai se divertir com essa situação — rola os olhos e rio.

Christopher decidiu criar o blog para postar seus textos falando sobre o dia a dia com os irmãos uma semana depois que eles voltaram para nós, há cinco meses. E o que eram poucos leitores no começo, se transformou em dezenas rapidamente depois que a história dele vazou na imprensa com o processo de Victor, Manuel e do juiz.

Victor não chegou a ficar nem uma semana preso, pagou a fiança e foi solto, ao contrário dos outros dois que tinham uma longa ficha para prestarem conta. Christopher poderia ter entrado com um processo de danos morais por tudo o que aconteceu, mas preferiu deixar essa história de lado e concordei, não precisávamos passar alguns anos indo a tribunais e vivendo esse estresse por causa de dinheiro. Além disso, muitas pessoas se solidarizaram com a situação e passaram a querer acompanhar de perto. Suas redes sociais estão bombando e isso está abrindo muitas portas para ele.

O vizinho de cimaOnde histórias criam vida. Descubra agora