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Eu estou com as crianças em uma sala especial no tribunal aguardando o fim da audiência e tentando ao máximo transparecer uma calma que eu não tenho para que elas não fiquem nervosas. Conversamos com eles depois que passamos o final de semana do ano novo em uma casa de praia que a família de Christian tem, e nenhum dos dois reagiu muito bem a possibilidade de serem obrigados a morar com o tio.

Paco nos disse que teríamos que trazê-los para a última audiência, dependendo do resultado, eles nem voltariam para casa com nós dois, mas preferimos deixar para conversar no último momento, o que foi bom, porque ambos estão revoltados demais e não teriam aproveitado em nada aqueles dias.

— Será que ainda vai demorar muito? — Lucas pergunta em um suspiro.

Já estamos aqui há mais de duas horas e nem mesmo consigo saber o que está acontecendo dentro daquela maldita sala. Principalmente depois que encontrei Paco e já não vi tanta confiança em seus olhos, meu coração está apertado e não estou com um bom pressentimento sobre isso. Desde a primeira audiência, eu sinto que Manuel vai aprontar alguma coisa.

— Finalmente! — Lucas diz animado ao ver a porta ser aberta.

Christopher e Paco entram, então meu namorado caminha até onde Luna e Alexandre estão sentados, ajoelha no chão e os abraça enquanto começa a chorar compulsivamente. Não... Não... Meu Deus! Olho para Paco que apenas maneia com a cabeça e sinto as lágrimas escorrem por meu rosto.

— Não... Não pode ser!

— O quê? Não me diga que vamos ter que morar com ele — Lucas grita ao apontar para o tio que entrou na sala.

— Vocês têm apenas meia hora para se despedirem, nem um minuto a mais — Manuel diz, um sorriso presunçoso em seus lábios e sinto vontade de pular em cima dele e socá-lo, mas estou estagnada sentindo o peso da notícia.

— Eu não quero ir com eles! — Lucas esbraveja e Paco o olha.

— Você não precisa ir com eles, já tem dezessete anos e disse em seu depoimento com quem quer ficar, mas seus irmãos terão que ir.

— A decisão é sua, meu filho, mas queremos receber todos vocês — Luciane diz e Lucas a fuzila com os olhos.

— Não estão me dando nenhuma decisão, não vou deixar meus irmãos sozinhos com vocês!

Eu nem consigo assimilar direito o que está acontecendo, apenas passo meus braços em volta das crianças e Christopher, mantendo Gael no meio e choro com eles. Isso não pode estar acontecendo, essas crianças precisam do irmão e ele precisa delas. Depois de terem passado por tanto sofrimento e superarem, como pode ser certo que sofram outra vez?

— Não queremos ir embora — Luna chora, agarrando-se a Christopher.

— Eu também não!

— O tempo acabou — Manuel cantarola.

— Crianças, venham, prometo que vão gostar do quarto que preparamos — Luciene diz tentando tirar Gael do meu colo, mas o menino se agarra ao mesmo pescoço e começa a chorar desesperadamente.

— Não queremos saber do quarto, queremos ficar com o Christopher — Luna grita.

— Você precisa aprender a parar de gritar, mocinha — Victor diz irritado — Vamos logo, eu ainda preciso trabalhar.

Com muita dificuldade, eles conseguem arrastar as crianças para fora enquanto elas choram e chamam por mim e por Christopher. Minha vontade é de pegá-los e sair correndo, querendo protegê-los de tudo, mas quando tento avançar, Paco me segura pelos ombros. Christopher nem consegue dizer nada, seus soluços estão ecoando pelo ambiente e quando as crianças são retiradas da sala, ele cai sentado em uma cadeira. 

O vizinho de cimaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora