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Gael se acalma depois de algum tempo, mas ainda é possível ouvi-lo fungar e suas mãos estão agarradas em meu cabelo.

— Christopher... — Luciene chama e a encaramos — Eu não sabia que o Victor tinha feito isso, mas... Isso é ridículo! Você não deveria levá-las, sabe que não tem a capacidade de cuidar delas!

— Ele não tem capacidade para cuidar das crianças, mas o seu querido marido precisou comprar o juiz para conseguir a guarda, não é? — pergunto sarcástica.

— Isso não é da sua conta! Você é outra que nem deveria estar perto dessas crianças, principalmente depois do surto que...

— Cala a sua boca! — sobressalto com o grito furioso de Christopher e Gael acaba se assustando e voltando a chorar baixinho — Você não vai abrir sua boca para falar assim dela depois de tudo o que fizeram! Vocês têm noção do sofrimento que causaram nas crianças? Do que nos fizeram passar durante esses meses?

— Sofrimento? — ri irônica — Essas crianças são umas pestes! Sofrimento é que elas têm nos feito passar.

— Você tem uma casa estruturada, babás e ajuda diária, e não está aguentando nem mesmo o período de adaptação delas? — digo entrando na frente de Christopher quando o vejo cerrar os punhos com raiva — Claro que iam aprontar, estão fazendo de tudo para chamar atenção e a culpa é de vocês! Christopher passou por isso sozinho, em um apartamento pequeno, como vocês fizeram questão de lembrar o tempo inteiro, e só tinha a minha ajuda por algumas horas. Ainda assim, conseguimos conquistar o amor e a confiança deles, a ponto de Gael nos reconhecer como pais depois de meses sem nos ver.

— Vamos nos acalmar aqui, por favor! — pede um dos policiais e respiro fundo — Senhora, eles têm a autorização do juiz para levar as crianças.

— Mas é um absurdo! Não tenho culpa que meu marido se precipitou, qualquer um que veja o comportamento dessas crianças, vê que ele não tem condições de cuidar deles.

— Senhora Casillas, eu vou explicar a senhora o que vai acontecer daqui para frente...

Paco começa a dizer, querendo evitar que a briga se estenda. Nem preciso olhar para Christopher, para saber que ele continua furioso, posso sentir seu corpo tenso atrás do meu e me sinto da mesma forma. Ainda estou abalada por Gael me chamar de mãe, mas não ficaria calada ouvindo-a falar dele.

— Eu preciso de um pouco de ar — digo a Christopher — Vou esperar vocês lá fora.

Sento em um banco do jardim, deixando Gael de frente para mim. O bebê se afasta um pouco, me encarando com os olhos ainda brilhado e o rostinho avermelhado por conta do choro. Passo minha mão por seu rosto, tentando enxugar o vestígio das lágrimas e ele sorri.

— Mamãe! — diz animado. Meu coração se aperta um pouco e trago a saliva — Mamãe, sadade!

— Eu também senti sua falta, meu amorzinho — sorrio e beijo sua testa.

Gael coça o nariz e funga, provavelmente incomodado com o catarro que se formou pelo choro. Tento limpar com a mão, mas ele esquiva o rosto ainda fungando.

— Ei! Está precisando e ajuda? — Christopher mostra a bolsa dele e concordo.

— Procura alguma toalhinha aí para eu limpar o nariz dele — coloco Gael sentado de lado quando ele me estende a toalha e o faço assoar o nariz — Pronto, já terminou — digo quando ele esquiva o rosto resmungando.

Christopher senta-se ao meu lado e Gael se joga no colo dele, abraçando-o pelo pescoço. Eu sorrio vendo-os juntos outra vez, sempre achei que ficam lindos assim.

O vizinho de cimaOnde histórias criam vida. Descubra agora