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Pantera está aninhado no topo da torre que fica próxima à janela da sala. Ele dorme de barriga para cima, com a cabeça caída levemente para o lado e a língua para força da boca, se não fosse pelo seu ressonar suave e rabo mexendo ocasionalmente, pensaria que está morto. Incrível que depois que me criamos uma conexão, começo a achá-lo extremamente fofo em tudo que faz e já tenho uma coleção de fotos repetidas em minha galeria.

Paco foi embora há alguns minutos, me sinto mais aliviada, porém inquieta e decido subir até o apartamento de Christopher. Não quero deixar Pantera sozinho, mas está dormindo tão gostoso que não quero acordá-lo, também não conseguiria subir com ele e a caixa de areia, então saio do apartamento fazendo o mínimo de barulho possível. Depois da noite que nos reconciliamos, eu não tinha voltei a dormir lá em cima, porque não quero que as crianças saibam de algo que não definimos.

Entro usando minha chave e o encontro sentado no sofá, seus olhos encontram os meus quando abro a porta. Noto que tem o semblante preocupado, mas seus lábios se esticam em um sorriso quando ele me vê.

— Incomodo? — pergunto timidamente.

— Claro que não. Vem aqui.

Tranco a porta atrás de mim e me junto a ele no sofá, sentando-me entre suas pernas e enterrando meu rosto em seu peito. Christopher envolve seus braços em volta do meu corpo, apertando-me carinhosamente e sinto a paz me invadir.

— Você está bem? — pergunta, pressionando os lábios em meu cabelo e concordo — Quer conversar sobre o que aconteceu mais cedo?

Sei que ele está curioso e preocupado sobre a cena que presenciou. A forma como Paco me abraçou chorando, as coisas que dissemos... Christopher é esperto e tenho certeza que entendeu um pouco da situação e sei que não me pressionaria para falar, por mais que queira me ouvir.

She's got eyes of the bluest skies, as if they thought of rain, i hate to look into those eyes, and see na ounce of pain — cantarolo em um sussurro, sentindo-o acariciar meu cabelo lentamente.

Guns N' Roses? — pergunta confuso e concordo sem me afastar — Gosta dessa música?

— Sabia que meu pai tinha olhos azuis? — pergunto sem respondê-lo — Tenho duas irmãs e três sobrinhos e nenhum de nós puxou a seus olhos — rio pelo nariz — Então, quando Paco se aproximou de mim depois do parto, com um bebê embrulhado em uma manta amarela e vi seus olhos azuis, não existia outro nome que ele pudesse ter.

— Ele se parecia com seu pai?

— Fernando era uma mistura minha com o Paco, mas os olhos... Eram os olhos do meu pai e eu os amava tanto. Senti como se fosse uma benção sua, sabe? Ele nasceu exatamente no dia que meu pai morreu e com seus olhos. Parecia um sinal divino de que tudo ficaria bem em minha vida, de que nunca mais haveria dor.

— Eu sinto muito que tenha passado por tudo isso — ele pressiona seus lábios em minha cabeça outra vez e me aconchego mais em seu peito.

Guns N' Roses era uma das bandas favoritas do meu pai, acabei herdando seu gosto musical. Meu pai gostava de viajar de carro e minha mãe odiava, assim como minhas irmãs, mas eu sempre gostei muito. Então sempre que tinha uma oportunidade, era eu quem o acompanhava — sorrio contra seu peito lembrando-me dessa época — Era maravilhoso pegar estrada enquanto berrávamos as músicas, meu pai amava rock.

— Não sabia que você gostava também.

— As músicas eram uma memória afetiva muito forte e passei alguns anos sem ouvi-las depois do acidente... — esfrego meu nariz em seu pescoço, aspirando seu cheiro antes de voltar a me deitar — Um dia eu estava ouvindo essa música e Nando se interessou pela batida. Foi a primeira vez que teve contato com o rock e foi incrível, era divertido vê-lo tentar cantar enquanto pulava e balançava a cabeça.

O vizinho de cimaOnde histórias criam vida. Descubra agora