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Quando chego em casa, estou tão frustrada que não consigo nem mesmo escrever sem descontar nos personagens. Minhas horas trabalhadas não rendem nada. Eu estou precisando fazer outra coisa para me distrair, então quando Maite manda mensagem sugerindo cinema, topo na mesma hora.

Mando uma mensagem a Christopher, avisando que não poderei ajudá-lo mais tarde com as crianças e faço questão de explicar que não foi pelo que aconteceu. Sua resposta é curta e direta, não deixando transparecer se acredita em mim ou não, não que eu esteja preocupada com isso. Hoje é sexta-feira e eu realmente preciso aproveitar um pouco.

— Nem acredito que você aceitou, sempre nega meus convites — Maite diz assim que entra em meu carro.

— As coisas estão começando a melhorar agora, então...

Ela não toca mais no assunto, mas é nítido o quanto fica feliz com isso. Se tem uma coisa que nunca poderei reclamar, é sobre falta de apoio. Minha família e meus amigos sempre estão ao meu lado em todos os momentos que preciso.

Escolhemos uma comédia, já que de drama minha vida está cheia e não estou com paciência para romances. Compro o maior balde de pipoca disponível, pretendendo descontar minha frustração nele.

Durante o filme, quando rimos e comentamos algo, me dou conta do quanto senti falta disso. Sair com ela apenas para me divertir, não tendo o trabalho como uma desculpa para nos encontrarmos, como vem acontecendo desde que Fernando morreu.

— Quer estender a noite? — pergunto assim que saímos do cinema. Maite me olha espantada, mas concorda — Um barzinho talvez? Não estou bebendo, mas estou com saudade de comida de boteco.

— Vamos! Estou com saudade de jogar conversa fora com você e é uma boa oportunidade para paquerar.

Ela me guia até um bar no centro da cidade e antes mesmo de encontrarmos uma mesa, já peço ao garçom uma bela porção de batata frita e bolinho de camarão. Não posso beber por causa dos medicamentos, mas posso comer e isso eu faço como ninguém.

— Me conta as novidades, vai. Falou em paquerar, significa que acabou mesmo com o Will?

— Ah, não sei! Não aguento mais esses nossos términos, mas nunca resisto e acabo voltando, né? Talvez eu esteja precisando respirar novos ares.

— Você está precisando sair mais. Sempre trabalhando, está precisando conhecer gente nova, quem sabe assim desencana dele, sabe que não gosto do Will.

— Com minhas melhores amigas casadas, fica difícil sair para conhecer gente nova — brinca me fazendo rir baixo.

— Não sou mais casada, querida, mas pode esquecer meu nome se sua intenção for me arrastar para essas boates que você gosta, sabe que odeio.

— Você e o Paco não voltam mesmo? — nego enquanto bebia meu suco — Agora que você está melhorando, não pensa em tentar outra vez?

— Amiga, nos beijamos há um mês e foi... Nem sei explicar direito. O beijo foi bom, mas não me senti absolutamente nada por ele, entende?

— Entendo, talvez você ainda não esteja pronta para um relacionamento e está tudo bem! Você não precisa de um homem para ser feliz.

Prefiro não contar a ela sobre Christopher. Não quero ter que explicar que me aproximei por causa das crianças, não sei qual será sua reação por eu estar tão próxima delas e tenho medo que acabe contando algo para minha família.

Maite está aproveitando que eu sou a motorista da rodada e está bebendo sem se preocupar, descontando a mágoa do coração partido no álcool, por causa do babaca do ex-namorado. Cansada dos sucos, começo a pedir alguns drinks sem álcool e cada vez que o garçom vem a mesa, traz porção de algum petisco. Maite bebe e eu como, extremamente justo. Nós conversamos sobre diversas besteiras, sem entrar em nenhum assunto que envolva meu filho.

O vizinho de cimaWhere stories live. Discover now