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Abro a porta receosa e já arrependida em ter concordado conversar com Paco hoje. A última coisa que eu preciso é de outra briga com ele, meu emocional já está extremamente abalado nessas últimas duas semanas.

— Oi — diz timidamente

— Oi — respondo no mesmo tom e o deixo entrar. É estranho estar em um clima tão constrangedor com ele. Paco me estende duas sacolas plásticas e rolo os olhos — Não precisa ficar comprando essas coisas...

— Eu sei, mas eu gosto — dá de ombros e vai em direção a Pantera, tirando do bolso do paletó um ratinho de borracha para o bichano. Eu sorrio tristemente observando a cena, sentindo falta de uma terceira pessoa sentada naquele tapete. Fernando...

— Quer beber alguma coisa? — pergunto antes que eu me lembre de algo mais. Não quero me afundar ainda mais nesses sentimentos sombrios que me cercam ultimamente — Tem suco de laranja.

— Quero sim, obrigado.

Sirvo dois copos enormes de suco, adicionando mais açúcar e gelo ao copo dele, porque é assim que gosta e sento ao seu lado no sofá.

— Dulce, o que aconteceu? Dá última vez que te vi, você estava bem. Seus olhos tinham voltado a brilhar um pouco e agora... Você está quase tão triste quanto antes. É por minha causa?

Sinto um nó se formar em minha garganta ao me lembrar de tudo o que aconteceu nas últimas duas semanas. Desde que saí daquele hospital, não vi mais Christopher, o que me confirma a escolha que ele fez.

Luna e Alexandre apareceram em minha porta no dia seguinte, empolgados porque o irmão prometeu que fariam diversas coisas legais juntos. Eles aparecem aqui pela manhã, antes de partirem para algum passeio diferente, sempre me convidam e eu sempre recuso. Christopher está se despedindo deles e eu não consigo fazer parte disso.

— Tanta coisa aconteceu... É uma longa história, mas não é devido à briga que tivemos.

— Por que não me conta tudo?

— Não penso que você vá querer ouvir isso, Paco... Eu não quero brigar.

— Sobre isso, Dulce... — Paco me olha constrangido — Preciso pedir desculpas a você, agi igual a um babaca. Estava com o ego ferido, o coração partido e morrendo de ciúmes, mas eu nunca devia ter dito aquelas coisas.

— Paco...

— Espero que você saiba que falei tudo da boca para fora e que eu nunca vou ser capaz de me perdoar por ter te machucado naquele dia.

— Está tudo bem — o tranquilizo segurando sua mão e ele nega com a cabeça.

— Não. Não está. Eu nunca deveria ter tentando ofendê-la, principalmente usando sua vida sexual. Dulce, eu te conheço, sei quem você e... E tudo o que importa é que você seja feliz.

Olho atentamente para o homem a minha frente e sorrio agradecida por conseguirmos nos manter amigos, apesar de tudo. Fernando jamais ficaria em paz em saber que os pais se odiavam ou viviam brigando. Paco me apoiou em tudo, ele ficou ao meu lado no luto, concordou com a separação, com a mudança e continua aqui, disposto a me ouvir.

Apesar da briga e de tudo o que foi dito, eu o conheço bem o suficiente para saber que está verdadeiramente arrependido e sei que ele sempre estará ao meu lado, independentemente de qualquer coisa.

— Eu me apaixonei por ele...

Paco se mexe desconfortavelmente no sofá, me encara surpreso e deixo que ele assimile a informação. Me coloco em seu lugar por um momento, saber que a pessoa com quem você dividiu sua vida na última década, de quem você acaba de se separar, está apaixonada por outra pessoa. Me sentiria tão desconfortável quanto ele, mesmo que já não o ame como antes.

O vizinho de cimaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora