Capítulo 46 - Para a Capital

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 Para o bando de Loenna, as horas marchando sob o sol quente pareceram uma tortura. Haviam se abastecido com garrafas de água no manancial do acampamento, mas o sono lhes consumia, as pernas padeciam e a fome fazia seus ossos doerem. Ali, todos fediam; Alguns, apenas suor. Outros tinham o odor podre do sangue de seus inimigos impregnado na pele. Eliah, grávida, passou mal em diversos pontos do trajeto. Lenrah Moran mal conseguia suportar o próprio cheiro, tendo vomitado cerca de três ou quatro vezes durante toda a viagem; Era o odor fétido da morte, da dor e da guerra.

Não desistam! — À frente, Loenna motivava seus seguidores. Todos eles pareciam cansados e abatidos. — Estamos quase chegando!

Fowillar grunhiu algo ininteligível, como era de seu costume; Estava mais mal humorado que o usual e sua expressão não era das melhores.

Eu acho que estou com cãimbra. — Ele murmurou baixinho para Loenna, agarrando sua perna direita com uma das mãos. A líder, vendo-se sem resposta, não disse nada.

Chegamos. — Loenna carregava um saco com objetos Eran em mãos. Algumas roupas banhadas a ouro, armas brancas bem esculpidas e com brasões meticulosamente desenhados, chapéus e anéis. Imaginou que conseguiria trocá-los por algumas moedas de ouro na capital. — Todos vocês têm algum objeto de valor retirado dos Eran, Kantaa ou Saphira. Vamos procurar alguém que os troque por um pouco de comida e estadia.

Estão todos manchados de sangue. — Murmurou um rapaz que carregava um burro consigo. — Não acho que vão ter muito valor.

Loenna ignorou o comentário, suspirou fundo e seguiu sua viagem procurando um mercador. O que notou, porém, foi que as pessoas da capital pareciam bastante interessadas no tráfego de seu bando; Alguns abriam a janela apenas para observá-los, os que estavam na rua rumorejavam com seus parceiros ao lado, o movimento dos cavalos parava apenas para permiti-los passar. Estranho, de fato bem estranho.

E, o que era mais estranho ainda: Depois de quinze minutos caminhando pela capital, Loenna não havia notado nenhum Eran, Kantaa ou Saphira cruzando seu caminho. Era quase como se eles não tivessem ali.

Em um dado momento, uma senhora abriu a janela, notou a caravana que passava diante de sua casa; Sorriu, sumiu por alguns segundos e, quando reapareceu, tinha um buquê de flores em mãos.

Salve Loenna Nalan e seus seguidores! — Ela afirmou, antes de jogar as flores. — Os heróis e heroínas do povo!

Num só ato, a senhora deixou o buquê cair sobre os peregrinos. E o que aconteceu em seguida fez Loenna parar de marchar: Todos os que ali estavam presentes, dentro de suas casas ou fora delas, se puseram a aplaudir a assoviar para o bando cansado; Uma multidão de apoiadores que louvavam os feitos daqueles que ansiavam por justiça.

Salve Fowillar Nalan! — Um homem berrou da rua, e Fowillar se viu obrigado a sorrir. — O homem que traiu os Saphira e trouxe justiça ao povo!

Salve Lenrah Moran! — Era uma garota loura numa janela. — O príncipe tão jovem que prometeu à sua família um mundo melhor!

Salve Nassere Dreyan! — Um velho de voz fanha berrou atrás de uma carroça de frutas. — O homem que derrotou o poderosíssimo Monvegar Eran!

Nisto, Serpente soltou uma leve risada anasalada. Nassere, não muito disposto a revelar a verdade, sorriu e abriu os braços, tomando para si os louros da vitória.

E, repentinamente, um homem mais velho saiu de meio à multidão. Era barrigudo, extremamente branco, careca, usava óculos e não tinha mais que um metro e sessenta e cinco, além de ter um mal gosto para roupas; Loenna imediatamente o reconheceu.

Caos e Sangue | COMPLETOWhere stories live. Discover now