Capítulo 49 - Toda história tem seu fim

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Dois dias depois, Fowillar, Loenna e Euler estavam prostrados de pé em um antigo auditório Eran ao ar livre. A notícia de que a mais nova governante de Carmerrum teria um pronunciamento a fazer havia corrido o país todo graças ao empenho de seu marido e do sagaz Euler Christol, de forma que pessoas de todos os cantos atenderiam a este momento.

O estômago de Loenna se revirava. Não tinha certeza se conseguiria ser uma boa governante e tampouco se transmitiria confiança aos seus governados, mas o que mais lhe incomodava era que agora era sua obrigação fazer de Carmerrum um país mais justo.

E de fato o pronunciamento de Loenna tinha status de evento: As pessoas que sentavam-se nos degraus e juntavam-se à plateia pareciam ter saído de uma comemoração importante. Ternos luxuosos, vestidos finos, cortes de cabelo especialmente preparados para essa ocasião. Nos primeiros bancos, sentava-se a linha de frente de Loenna, seus tão fiéis seguidores que a acompanharam por essa jornada durante tanto tempo; Era satisfatório vê-los verdadeiramente aprumados, e não sujos de suor, terra e sangue. Aya estava, inclusive, maquiada (E o coração de Loenna deu umas três cambalhotas ao vê-la assim; A enfermeira estava realmente linda.), Nassere havia feito a barba e Lenrah, usando tons suaves de azul, trouxera consigo o pai que, depois de meses, conseguira se manter sóbrio.

Eliah também estava lá; Sua gravidez de três meses ainda não lhe dava a barriga, mas quem a via alisando o próprio ventre sabia que uma nova vida estava por vir. Vestia-se usando um colar de pérolas Kantaa que combinava bastante com o vestido turquesa que escolhera. Loenna tinha certeza que essa criança teria um lugar especial em seu governo.

E, em seguida, voltou sua atenção para Fowillar. Ele sustentava um sorriso travesso por entre a barba rala. Seu cabelo estava volumoso e bem penteado e ele usava um terno escuro com uma gravata borboleta. Em uma mão, como sempre, carregava o costumeiro cigarro.

O que é tão engraçado? — Às vezes, Loenna sentia falta do Fowillar rabugento e ranzinza de outrora. Contudo, não podia negar que o Fowillar brincalhão era verdadeiramete divertido.

É bom vê-la de roupas limpas, ao menos uma vez. — Ele disse, soprando a fumaça. — Você fica mais leve.

Loenna não era uma grande fã dos vestidos. Soraya havia lhe feito o favor de limpar sua saia e sua blusa preferida (que há muito tempo não viam água) e agora o branco da blusa era tão brilhante que cegaria o transeunte mais desavisado. Seu cheiro era o de lavanda e a garota finalmente sentia-se limpa, depois de tanto tempo.

Eu gostaria de estar tão bem por dentro quanto estou por fora. — Ela admitiu, com um suspiro. — E se eu não conseguir, Fowillar? E se eu não for uma boa governante?

E por que você não seria? — Ele lhe devolveu a pergunta.

Eu não sei... — Loenna esfregou os próprios braços. — Eu não sou muito boa com decisões coletivas. E eu tenho apenas 26 anos...

27. — Corrigiu Fowillar. Loenna piscou, confusa, por um momento.

Que dia é hoje? — Ela se deu conta de que havia perdido completamente a noção do tempo.

Hoje é dia cinco de março. — Fowillar sorriu e envolveu Loenna num abraço. — Parabéns, Loenna.

É... — Quanta coisa havia acontecido no último ano! No último cinco de março, Loenna estava roubando um crânio na cidade dos Kantaa. Agora, estava comemorando seu aniversário em grande estilo, com todos os seus parceiros vitoriosos de guerra. — Obrigada, eu acho.

Disponha. — Fowillar se desvencilhou de Loenna. — Quanto ao seu último questionamento... Apenas o tempo lhe dirá, garota. Mas eu sempre estarei aqui para lhe ajudar; Eu estudei para isso, afinal. Se você me permitir, seremos uma boa dupla ao longo destes anos.

Caos e Sangue | COMPLETOWhere stories live. Discover now