— Estou me sentindo ridículo.
As roupas de Quentin eram muito largas, tanto para ele próprio quanto para Fowillar. O rapaz tropeçava nas próprias calças, se incomodava com o tecido que sobrava da blusa, o chapéu parecia querer engolir sua cabeça. Os sapatos o deixavam desconfortável e ele não se reconhecia com a pintura no rosto; Aquilo que para o namorado era tão natural, para Fowillar era um grande martírio.
— Você está ótimo. — Quentin ajeitou o chapéu de Fowillar mais uma vez, já que este era tão insistente em cobrir-lhe os olhos. — A Loenna vai reforçar o que eu digo, você vai ver.
— A Loenna que se exploda. — Bufou Fowillar.
Quentin e Fowillar saíram das sombras. Loenna aguardava à luz do sol, amolando suas facas e adagas, parecendo pouco interessada em qualquer coisa que os dois teriam a lhe mostrar.
— Loenna! — Chamou-lhe Quentin. — Apresento a você... O palhaço pipoquinha!
Loenna desviou o olhar. Fowillar lançou um meio-sorriso amargo e acenou para ela, claramente desconfortável. A garota encarou-o de cima a baixo, de seus sapatos largos até seu chapéu que não cabia na cabeça, e emitiu um sorrisinho leve. Quentin riu e começou a pular, animado; Sabia que a irmã não era a pessoa mais sorridente do mundo.
— Está vendo? — Dizia ele para Fowillar. — Ela sorriu. Você está ótimo, Fowillar, você está...
— Ele está engraçado. — Interrompeu ela. Fowillar balançou negativamente a cabeça.
— Bem... — Ponderou Quentin. — Considerando que você é um palhaço... Isso quer dizer que você está ótimo.
— Ou que estou ridículo. — Fowillar deu de ombros. — Desista, Quentin, eu não sou engraçado. Eu sou chato e ranzinza.
— Ora, pare de ser negativo. — Quentin puxou Fowillar pelos braços. — Venha, eu vou lhe mostrar o que você deve fazer.
Acompanhado de Loenna, Quentin conduziu Fowillar a uma avenida movimentada e frequentada por pessoas de todos os tipos: Trabalhadores, vadios e grandes magnatas. Ali conviviam os filhos do mais humilde ferreiro até jovens Eran, Kantaa e Saphira. Era um grande ponto de conversão entre as duas mais discrepantes realidades do país.
Loenna puxou o capuz para cima, temendo ser reconhecida. Fowillar encarou Quentin com uma expressão de desânimo, observando todas aquelas pessoas que transitavam por ali sem se sentir capaz de cativar nenhuma delas.
— Eu não vou conseguir. — Murmurou Fowillar. Quentin deu-lhe um tapinha nas costas.
— Ah, claro que vai! — O sorriso de Quentin era enorme. — Eu te ensinei como fazer. Mas vou te dar uma ajudinha, veja só...
E deu um passo à frente. Loenna encostou-se numa parede e se pôs a contar as formigas que passavam pelo chão, entediada.
— RESPEITÁVEL PÚBLICO! — E apontava para Fowillar. — É uma honra estar com vocês hoje! Meu nome é Quentin e eu venho aqui para apresentar a vocês o palhaço pipo...
Antes que Quentin pudesse terminar sua frase, um grupo de adolescentes roubou o chapéu de Fowillar de uma vez só e saiu correndo por uma alameda escura.
— EI! — Quentin se revoltou, e Fowillar notou que jamais o havia visto tão bravo. — Que diabo é isso? Devolva o meu chapéu!
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Caos e Sangue | COMPLETO
AdventureCarmerrum é um país pequeno, com poucos habitantes, onde não há governo e o poder político é controlado por três famílias muito ricas que vivem em constante atrito entre si. E o restante da população, para seu infortúnio, se desdobra por inteiro par...