Capítulo 32 - Erimar Lahem

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Era perto de meia noite. Soraya limpava a bancada do bar enquanto ouvia os murmúrios dos bêbados a frente. Fumava seu cigarro, perdia-se em seus pensamentos. Era apenas mais uma noite qualquer; Não era um dia de pouco movimento, sequer um de muito. Alguns moribundos tentavam cantá-la, mas ela, em seus cinquenta e três anos de vida, já havia aprendido a se manter longe de homens. Nenhum deles era Monvegar Eran, mas sua experiência com este já era o suficiente para convencê-la a optar pelo celibato. Tanto a experiência afetiva em si quanto o que ela havia gerado.

Enquanto se perdia entre seus pensamentos e o cigarro, uma nova cliente adentrou o bar. Parecia ser mais uma aventureira: 30 anos de idade, alta e magra. Possuia o rosto cortado diagonalmente por uma cicatriz que atingia parte dos lábios. Usava uma regata que deixava a mostra mais uma série de cicatrizes, todas elas vermelhas e pulsantes, e não parecia ter medo da morte, reparou Soraya; Devia ter sido muito bonita um dia.

A mulher sentou-se em frente a Soraya e a cumprimentou, fazendo seu pedido logo em seguida:

Por favor, — Pediu. — Eu gostaria de uma cerveja. A mais amarga que você tiver.

Soraya assentiu. Levantou-se e tratou de escolher uma bebida do gosto da moça, mas algo naquela mulher a deixava inquieta — E não eram suas múltiplas mutilações. Era quase como se ela a conhecesse de algum lugar... Algum lugar bem ali naquele passado que ela queria esquecer...

Entregou a bebida à jovem, ainda inquieta. Ela agradeceu e se pôs a tomar sua cerveja, mas Soraya não era muito discreta quanto às suas desconfianças. A mulher percebeu os seus olhares sórdidos.

Perdão, — Mas não desmanchou o sorriso. Não parecia incomodada, apenas curiosa. — Minhas marcas te incomodam?

Não. — Disse Soraya incisivamente. — Não é isso. Eu... Sinto que a conheço.

A mulher levantou uma sobrancelha, quase como se analisando a possibilidade de ambas se conhecerem. Tomou mais um gole da cerveja.

Talvez eu já tenha vindo neste bar. — Afirmou. — Eu não lembro, não sou daqui. Pode não ser a primeira vez que...

Não. — Interrompeu Soraya. - Eu te conheço de algum lugar do meu passado. Você... Qual o seu nome, jovem?

Erimar. — Respondeu a mulher. — Erimar Lahem.

Soraya franziu o cenho. Tinha certeza de que conhecia aquela moça, mas também tinha certeza de que jamais havia conhecido nenhuma Erimar Lahem em sua vida. Nem nesta nova vida, nem em sua vida antiga.

Perdão. — E fez que não com a cabeça. — Devo ter me confundido. Desculpe-me pelo engano, senhorita Erimar.

Ah, eu não acho que você deva se prender ao meu nome. — Disse-lhe. — Eu tenho alguns segredos no meu passado. Talvez você tenha feito parte de um deles.

Soraya levantou a sobrancelha. Ela mesma tinha segredos, mas não podia contar nenhum deles. Talvez fosse o caso de Erimar.

Que tipo de... Segredos?

Erimar sorriu enquanto bebericava mais um gole de seu copo de cerveja. Havia mais por trás daquelas cicatrizes e acidentes do que ela jamais poderia dizer.

Digamos que eu cometi uns crimes. — E lançou um sorriso travesso. Não era muito esclarecedor, mas Soraya duvidava que ela contaria mais do que isso.

Bom, isso para mim não é nada espantoso. — E voltou a passar o pano pela bancada do bar. — O verdadeiro crime por aqui é ser pobre.

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