Capítulo 38 - Mãe viva, filha também.

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Mal raiou o dia e Soraya já estava na rua, buscando farinha para fazer um bolo mais tarde. Os mercados da região eram pequenos e mal cuidados, mas eram o suficiente para que ela tivesse o necessário para seu sustento. Entretanto, não era aquilo que a preocupava.

A barista estava há muito pensando em Rhemi, sua criança de 34 anos que havia partido em busca de Loenna Nalan. Soraya ouvira boatos de que o grupo de Loenna conseguira incendiar uma igreja Kantaa, destruir uma marcha Eran e alguns outros ataques pequenos e pontuais, extremamente significativos para a imagem que a líder queria construir. Mas e Rhemi? Jamais fora mencionado, talvez não fosse um soldado importante. Os únicos nomes que chegavam a aparecer eram o da própria Loenna e de seu marido Fowillar, tão e simplesmente eles. Ninguém se importava com o ex Saphira, talvez sequer fosse aceito em seu bando pela sua origem. Mas Soraya se importava. Era seu filho e, apesar de seus erros, ela o queria bem.

Suspirou fundo, com a cabeça repleta de divagações, e entregou o dinheiro em troca do saco de farinha para a balconista. Seus dias de prostituta eram mais fartos, pensava; Mas eles lhe renderam muito sofrimento e dois filhos, ambos tomados pelo destino. Não, era o tipo de martírio que Soraya não buscava retomar.

Partiu sob a luz da manhã pelas ruas abandonadas e malcuidadas da capital. Os bairros mais afastados se pareciam com verdadeiros lixões desabrigados. Apenas ratos e desafortunados habitavam por ali.

E quem seria mais desafortunada do que uma ex prostituta, cujo destino levara seus dois filhos?

Foi com este pensamento desagradável que Soraya adentrou um beco escuro repleto de bichos tão repulsivos quanto ela. Havia dois homens conversando, e era nítida sua diferença de altura; Um era muito alto, e o outro muito baixinho.

Então, meu colega, mataram o homem. ー Disse o primeiro, mas Soraya não se interessou muito. Morriam pessoas ali todo dia; Não era uma novidade.

Mentira! ー Exclamou, surpreso, o baixinho. ー Monvegar Eran está morto?

Ao ouvir aquilo, Soraya sentiu seus olhos se abrirem; Não era apenas um morto qualquer, mas Monvegar Eran. E a morte de Monvegar Eran definitivamente era algo que não se via todo dia.

Voltou alguns passos e escondeu-se detrás da parede, com o objetivo de bisbilhotar o assunto dos dois homens que sequer a conheciam. Talvez eles tivessem algo de interessante a dizer.

Pois é, saiu no jornal hoje. ー Respondeu o alto. ー Morius está furioso. Ele prometeu vingança aos algozes da morte de seu pai. Diz que é uma ofensa a toda a comunidade Eran e que isso não vai terminar assim.

E quem matou o Eran? ー O baixinho tinha uma voz mais aguda e estridente. ー Não vai me dizer que...

Sim, cara, foi a mando de Loenna Nalan! ー Soraya sentiu seu coração aquecer. Seu pequeno estava em boas mãos, então. ー Essa mulher é incrível! Sou fã!

Loenna Nalan matou Monvegar Eran? ー O garoto baixo assoviou. ー Eu não imaginava. Ela parece ser genial mesmo.

Ah, não foi ela. ー Disse o alto. ー Foi o bando dela, mas aparentemente foi outro cara. Ele se chama Nassere Dreyan. Parece que armou uma armadilha, agiu sozinho. Um gênio, também. Por isso Morius está tão revoltado.

Soraya, esgueirada na parede, permitiu-se sorrir. Monvegar Eran era o pai de sua segunda filha, o seu primeiro amor. Mas todo o encanto que ela tinha por ele desfacelou-se quando o imponente Eran ameaçou matar sua filha. E teria conseguido, se não fosse Soraya a forjar sua própria morte. De que adiantava, afinal? No fim das contas, os Kantaa haviam feito o que o patriarca Eran não fizera.

Caos e Sangue | COMPLETOWhere stories live. Discover now