Capítulo 4 - O namorado de Quentin

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Psst. Ei. Fowi? — Sussurrava Quentin, por entre as catacumbas escuras. — Eu trouxe comida, Fowi!

Um rapaz maltrapilho surgiu dos entremeios dos rochedos. Era alto, tinha cerca de um metro e noventa, negro e bastante magro — Não mais que Quentin, no entanto. A barba por fazer lhe cobria o rosto e haviam alguns arranhões espalhados pelo seu corpo. Tinha o desenho de uma safira no braço direito e parecia bastante assustado.

Comida? — Retrucou, incrédulo. — Onde tem comida?

Quentin tirou da bolsa metade de um sanduíche de presunto; O sanduíche que Loenna lhe dera.

Eu guardei pra você. — Afirmou, ao passo em que Fowillar engatinhava em direção à Quentin. — Tenho dinheiro também. Deve ser suficiente pra comermos por... Dois meses, eu acho.

Fowillar tomou a bolsa de dinheiro em suas mãos e contou, uma por uma, as moedas de ouro que ali estavam. Em seguida, balançou a cabeça em negação.

É o suficiente para você comer por dois meses. — E mordeu uma das moedas, como se verificasse sua autenticidade. — Não para nós. Esse dinheiro não dá para dois.

Quentin suspirou fundo enquanto mordia o lábio. Parecia estar buscando uma solução para ambos, mas não havia muito o que ser feito. Loenna não sabia da existência de Fowillar até o momento, e ele não queria pedir da irmã mais do que ela já vinha lhe fornecendo; Primeiramente porque ela já fazia muito em lhe fornecer sustento, segundamente porque... Bem, porque aquele dinheiro não vinha de vias corretas.

Podemos nos segurar. — Disse ele, e o fio de luz que adentrava as catacumbas fazia seus cachos arruivados brilharem. — Podemos comer menos esse mês, e...

Menos do que já estamos comendo, Quentin?

Os ombros de Quentin caíram automaticamente. Ele pareceu então sentir o peso do próprio corpo, a magreza que quase não se sustentava mais. Seu rosto já estava cadavérico, apenas pele e osso, e seu estômago roncava há muito tempo. Eles já haviam chegado no limiar da fome.

Eu sinceramente não sei por que você ainda me inclui nisso. — Fowillar suspirou fundo. — Sua irmã não sabe que eu existo, e se soubesse eu não acho que se importaria. Tudo o que você ganha é para você e apenas para você, o mais correto a se fazer é me deixar morrer. É isso que minha família queria, afinal.

Eu jamais faria isso. — Respondeu Quentin, firme. - Você é meu namorado.

E lançou-se em cima de Fowillar, dando-lhe um singelo beijo.

Você é muito bom. — Os olhos de Fowi estavam em lágrimas. — Se eu ainda estou vivo, foi porque encontrei você...

Não se preocupe. — Quentin sorriu. — Sua família vai aceitá-lo de volta. Dias melhores virão, eu sei disso.

Sendo um pederasta? Eu duvido muito. — Fowillar deu de ombros. — Eu não sou mais Fowillar Saphira. Sou apenas Fowillar agora. Eu sujo a honra e o sobrenome, não deveria sequer me considerar parte deles mais. Triard Saphira deixou isso bem, beem claro. Não tem mais volta, Quentin, eu sou uma vergonha efeminada.

E tomou um pedaço do sanduíche de presunto em suas mãos, fungando baixinho, segurando o pranto dentro de si. Quentin não sabia muito o que dizer; Ele jamais havia sido um Saphira, jamais havia tido contato com nenhuma família rica de Carmerrum; Para ele, a pobreza já era uma regra, independentemente de seu gosto por garotos (e garotas também).

Caos e Sangue | COMPLETOWhere stories live. Discover now