Capítulo 40 - Uma opinião feminina

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 Serpente não era muito ocupada aos domingos. Se preocupava geralmente em curar seus ferimentos, conhecer seus companheiros de luta e, como era comum, estar com Loenna. Mas desta vez a líder e amante estava ocupada bolando planos de ataque a um forte Kantaa com seu marido Fowillar, e os ferimentos da mulher já haviam sido suficientemente assistidos pela enfermeira Aya, então nada havia de fazer além de caminhar sem rumo, com uma garrafa de cerveja nas mãos, observando seus colegas.

O último ataque havia sido extremamente proveitoso. Os Eran não esperavam que tantos guerreiros fossem atacá-los de uma vez só e suas armas de fogo foram completamente inúteis. Sim, o bando estava crescendo. E em breve Loenna teria um verdadeiro exército. Já inspirava medo e receio aos seus adversários, não era necessário mais que os rebeldes se escondessem; Serpente sorriu consigo mesma. Loenna era a continuação de seu legado, a pessoa que levaria sua força para frente. Não poderia estar mais orgulhosa; A garota não apenas reproduzira o que Serpente havia lhe ensinado como também a multiplicara e fizera dar frutos. Ela foi uma excelente aprendiz, e agora era uma excelente líder.

Mas, apesar de tudo, Serpente sentia falta de ter alguém a quem transmitir seu conhecimento novamente. Sentia falta de ser uma mestre, uma professora. Agora Loenna era independente e Serpente era útil para dar conselhos, apoio psicólogico e, claro, dar-lhe prazer... Mas talvez ela sentisse falta deste vínculo entre um professor e um aluno que entre as duas não mais existia.

E foi neste momento, entre seus pensamentos inusitados, que Serpente se deparou com o som de risadas ao longe e o doce aroma de lenha queimada de uma fogueira.

Aproximou-se de onde o som ficava mais intenso e o cheiro de cinzas era mais acentuado, e deu de cara com duas figuras conhecidas: Digan Wuri, amigo de Loenna, a quem ela já havia sido apresentada... E Lenrah Moran, que ela conhecia de vista. Este afiava sua adaga, como um dedicado ferreiro aprimorando suas armas. As risadas eram, logicamente, de Digan; O outro talvez fosse sério demais para embarcar em suas piadas sobre peidos (ou o que o valha).

Posso me juntar a vocês? ー Disse Serpente a Digan, tomando um gole de sua cerveja. O rapaz imediatamente desviou o olhar; Lenrah, contudo, continuava sério. A adaga parecia mais importante.

É assunto de homem, hein? ー Advertiu Digan, com um sorriso no rosto. Aparentemente, assunto de um homem só.

Precisamente o tipo de conversa em que eu costumo me meter. ー Com uma piscadela, Serpente sentou no chão ao lado de Digan.

E o rapaz, naturalmente, pôs-se a rir novamente.

Estou brincando. ー E deu um tapinha nas costas de Serpente. ー É um assunto para todos. Seria até mesmo proveitoso ter uma opinião feminina sobre o assunto, não é, Lenrah?

O garoto assentiu com a cabeça, sem emitir um som sequer com a boca. Serpente teve a impressão de que ele achava Digan tedioso.

Minha opinião feminina não é a mais confiável de todas... ー Disse Serpente. ー Mas vamos lá. Sobre o que você quer que eu opine?

Digan lambeu os lábios, num sorriso. Aquele assunto o deixava bastante animado.

Digamos que eu estou com uma moça... ー E ajeitou o cabelo enquanto falava. ー Ela é linda. Incrivelmente linda. E eu queria dar a ela um presente para mostrar o quanto ela é especial.

Serpente ergueu as sobrancelhas.

E você quer que eu te ajude com isso? ー Concluiu ela. Digan fez que sim. ー Eu sou uma péssima conselheira. Diria que o melhor que você pode dar a ela é o seu carinho e o seu amor.

Caos e Sangue | COMPLETOWhere stories live. Discover now