- Capítulo 20 -

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- JOANA FLORES -

Da janela do meu quarto, eu observei que um dos jardins que contornava os fundos da casa, estava mal cuidado, na verdade todo aquele espaço estava abandonado, era como se fosse o local onde geralmente fazemos o descarte de objetos que não queremos dentro da casa.

Àquela hora minha filha já estava na escolinha, Gael havia saído para o trabalho e eu fiquei sozinha naquela mansão enorme, pensando na guerra de torta que tivemos na madrugada, e do quanto fiquei impactada por estar sentindo novos sentimentos por Gael, o ódio já não me dominava mais.

Com as mãos na cintura, decidi que talvez eu devesse fazer alguma coisa diferente naquela casa além de sentir tédio.

Deixei meu quarto, desci as escadas e me dirigi a área do jardim abandonado. De perto pude ver a bagunça que havia ali. Pranchas de surf que com toda certeza eram muito caras, uma rosa e a outra azul. Mesas e cadeiras empilhadas, duas bicicletas uma preta e a outra vermelha, e sacos de lixo cheios de coisas: ursos de pelúcia, roupas femininas, incluindo fantasias e objetos pessoais. O que mais me deixou curiosa era o fato de haver um quadro de recordações em pedaços.

As plantas que ali estavam, encontravam-se todas secas, o gramado do jardim estava queimado pelo sol, e as flores dos jarros resumiam-se apenas em galhos sem vida.

A curiosidade por saber mais sobre aquele jardim tão atípico do restante da casa me fez deixar aquele local e ir procurar por Cristina. Ela era uma das empregadas mais antigas da casa, talvez saberia me explicar melhor o que eram todas aquelas coisas e o porquê daquele jardim estar tão negligenciado.

— Cristina — a chamei enquanto ela conferia alguma coisa nos fundos da casa.

— Olá querida, eu posso ajudar?

— Sim. Quero saber porque diferente dos outros cômodos da casa que são tão impecáveis, existe um jardim interno abandonado?

— Ah! — ela endireitou o corpo e me olhou coçando a testa. — Porque está preocupada, filha?

— É só que... gosto de botânica, e gostaria de cuidar daquele jardim, assim eu não passaria tanto tempo desocupada.

— Olha, se eu fosse você, não mexeria naquele jardim. As coisas que estão lá, tem uma história e não é muito boa. Gael, não gosta que falamos ou mexamos lá.

Ao ouvir aquilo uma ideia surgiu.
Saber sobre o que deixava Gael irritado, era tudo o que eu precisava. O metido a besta tinha um ponto fraco? Então eu iria cutucá-lo, dar o troco pelo que ele estava fazendo comigo. Eu só queria tirá-lo do sério, até que ele desistisse daquela história de me manter refém de seus caprichos.

— Não se preocupe, Cristina. Eu vou cuidar daquele jardim e pessoalmente. E avise Gael para vir almoçar em casa, vou pedir a Luz para fazer sua comida favorita.

A mulher a minha frente, apenas confirmou com a cabeça. Ri diabolicamente enquanto dava as costas. Antes de sair por completo da presença de Cristina, olhei para trás e falei:

— Há, e... não conte nada a ele, ele vai adorar a surpresa que vou preparar.

Entrei no meu quarto e vasculhei no closet até encontrar uma roupa confortável para que eu pudesse trabalhar com terra plantas e aprontar minhas diabices e imaginar a cara do salafrário quando chegasse do trabalho e visse todas aquelas coisas no lixo.

Depois de vestir uma jardineira, calçar luvas de borracha e galochas, desci até o jardim.

Mais de perto deu para perceber que haviam um jogo de namoradeiras e uma mesa de centro de bambu, com revistas que de tão velhas estavam amareladas. Tudo aquilo me passou a sensação de estar em um lugar projetado por uma mulher. Era lindo, porém abandonado.

Prontamente comecei a tirar as sacolas pretas e levar tudo para o lixo, depois foi a vez das pranchas de surfe, as bicicletas, os conjuntos de sofás, é claro pedi a ajuda do motorista para me ajudar a arrastar aquele trambolho para fora de casa, e por fim quando só restavam plantas e folhas secas, sorri maliciosamente.

Peguei a vassoura e comecei ajuntar as folhas secas, e, enquanto eu varria, avistei uma fotografia caída atrás de uma das sacolas que haviam ali. Me agachei e peguei a foto, nela havia a imagem de uma mulher ao lado de Gael. Ela era linda, uma mulher de cabelos loiros cacheados, olhos castanhos claros e sardas nas bochechas. Gael usava um boné vermelho e parecia ser jovem na época em que a foto fora tirada. Eles estavam sorrindo, atrás deles pude ver alguns brinquedos de parque de diversões. Nada muito preocupante, poderia ser a irmã, ou a prima, ou uma namorada... Quem sabe uma noiva... Ou uma... Esposa?

E quando tive a ideia de olhar atrás da foto, havia uma assinatura, com o nome Jasmine, e ao lado uma palavra: Luto.

— Aí Merda! — falei me tremendo toda.

Não acredito que Gael havia perdido alguém importante. E eu havia acabado de jogar todas as recordações no lixo.

Corri até o lado de fora da mansão onde eu havia jogado todas aquelas coisas, na intenção de recuperá-las, mas para a minha falta de sorte, o caminhão de lixo havia acabado de recolher a última sacola.

Será possível que sou desastrada até para me vingar!

Tremendo, voltei ao jardim e me sentei no chão, pensando o que seria de mim, quando Gael chegasse e não encontrasse suas recordações que deveriam ter valores sentimentais.

Tremendo, voltei ao jardim e me sentei no chão, pensando o que seria de mim, quando Gael chegasse e não encontrasse suas recordações que deveriam ter valores sentimentais

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