- Capítulo 24 -

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- JOANA FLORES -

Depois de quase me beijar e me deixar com a respiração descontrolada. Gael se sentou no banco de madeira com o semblante inexpressivo, e olhou tudo em volta. Talvez estivesse irritado demais para me dar uma bronca ou me colocar em meu lugar.

Me sentei lentamente ao seu lado e segurei a sua mão. Eu sabia o que era a dor de uma perda, eu sabia que era a dor do luto, do abandono, da solidão, eu sabia o que ele estava sentindo.

— Me desculpe — mostrei a ele a foto que havia encontrado. Ele me encarou com o semblante mais suave e pegou a foto das minhas mãos. — Eu não sabia que você estava de luto — falei sendo compreensiva.

— Ela não morreu. Foi embora — confessou.

— E, você não tem família? — Perguntei.

— Tenho um irmão — ele disse.

— Tá melhor que eu, não tenho ninguém, somos só minha filha e eu.

Ele acariciou meu rosto e finalmente eu cedi ao toque de suas mãos que eram grandes, suaves e macias. Seus afagos eram gentis.

— Eu estava tentando ganhar coragem para me desfazer dessas coisas. Eu a amava muito, mas ela não sentia o mesmo. Parece que ninguém sente nada por mim, até quando quero amar — ele disse em tom abafado como se estivesse tentando esconder sua dor.

— Mas está escrito luto — eu disse ainda intrigada olhando o verso da foto.

— Ela morreu para mim quando me deixou no momento em que mais precisei, por isso escrevi isso atrás da foto.

— Não deveria dizer que ninguém sente nada por você. Minha filha te adora. Ela acha que você é um príncipe.

— Ela é uma criança — ele retrucou.

— Dizem que os sentimentos de crianças são os mais verdadeiros, não deveria desacreditar disso.

Ele me olhou novamente e abriu um sorriso fraco.

— Fica tranquila, eu não vou ficar bravo com você. Não mais do que já estou — me confortou.

Era reconfortante saber que eu havia feito a coisa errada que deu certo, então não era uma morte de verdade, apenas uma hipérbole. Deu para perceber que Gael tinha sentimentos muito intensos, por isso se irritava com facilidade, e era controlador. Talvez se eu soubesse lidar com ele o clima entre nós mudaria.

— Esse lugar é lindo demais para ficar abandonado — falei quebrando o silêncio que se fez entre nós.

— Acho que vou chamar uma bola de ferro para demolir tudo isso — ele resmungou.

Ri de suas palavras.

— Não precisa ser tão radical — falei.

— O que sugere?

— Refazer! Vamos terminar o almoço, e podemos redecorar esse lugar, eu te ajudo. Não há nada melhor do que se desfazer as antigas lembranças, e recomeçar. É assim que tenho feito, para conseguir estar de pé e esquecer tudo o que me aconteceu de ruim no passado. Afinal a cada dia é uma nova oportunidade de sonhar novos sonhos.

Ele sorriu com as minhas palavras. E pela primeira vez, não foi aquele sorriso arrogante, mas simples e singelo. Senti meu estômago revirar quando percebi que seu sorriso era tão bonito e me cativava.

— Queria que um dia você confiasse em mim. Tenho a impressão que você sofreu muito na vida, e tem muitos fardos a compartilhar — ele disse.

Desviei o olhar dos seus. Falar sobre meu passado ainda era muito difícil.

— Quem sabe um dia — respondi. — Então, vamos terminar o almoço e colocar a mão na massa?

— Trabalhar juntos? Será que vai dar certo? — me provocou.

— Não sei, só vamos saber se tentarmos — respondi com um sorriso tímido.

— Se você me prometer que não vai jogar mais nada na minha cara.

Rimos juntos.

— Não posso prometer nada, mas dou a minha palavra de que vou me esforçar para isso — respondi.

— Não posso prometer nada, mas dou a minha palavra de que vou me esforçar para isso — respondi

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