- Capítulo 59 -

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- JOANA FLORES -

— Mamãe, podemos voltar para casa?

Toda vez em que eu ouvia isso, meu coração ficava minúsculo no peito.

— Filha, pela décima vez: aquela não é a nossa casa — tentei explicar.

Isabel fez biquinho para chorar.

— Não chore — a tomei em meus braços, ela descansou a cabeça em meus ombros enquanto eu a sacodia suavemente.

— Eu quero o papai, Gael.

Suspirei cansada demais para explicar mais uma vez para Isabel, que Gael não era seu pai, não de verdade.

Sinceramente não sei onde eu estava com a cabeça quando permiti que minha filha chamasse Gael de pai. E, agora eu me sentia péssima com a sensação de ser a bruxa malvada da história, tirando da minha pequena o que ela mais queria: ter uma família completa.

Caminhei em direção aos corredores do apartamento em que estávamos instaladas e a coloquei na cama.

— Agora, vá dormir — falei puxando a coberta sobre suas perninhas.

Apaguei a luz do abajur, e quando estava saindo do quarto...

— Conta uma história, mamãe.

Parei onde estava e virei meu corpo em sua direção novamente.

— Tudo bem — tornei a acender o abajur.

Me deitei ao seu lado, olhando fixamente para o teto e cruzei os dedos em cima da barriga, pensando em Gael.

— Era uma vez, uma princesa perdida, ela pensou que nunca encontraria o amor, mas certo dia, ela conheceu um lindo príncipe que morava em um belíssimo castelo e... foi amor à primeira vista.

— O que é isso, mamãe? Amor à primeira vista?

— É quando duas pessoas se gostam quando se veem pela primeira vez.

— E o que a princesa fez?

Me lembrei de quando eu já não conseguia comportar em meu peito todos os sentimentos que eu sentia por Gael.

— Ah, ela escondeu seus sentimentos por muito tempo, até o dia em que ela percebeu que... não podia mais.

— E, o príncipe?

Me veio a memória a noite em que ele me contou sobre o que sentia como um leão rugindo de tamanha angústia. Foi impagável ver a cena de um homem durão como Gael falar de sentimentos.

— Aconteceu o mesmo, mas um dia eles conversaram e decidiram contar seus sentimentos um para o outro. E, depois disso, eles viveram um lindo romance juntos.

— E, o que aconteceu, eles se casaram? Fizeram uma linda festa?

Pensei em tudo o que acarretou nosso término e todas as coisas desprezíveis que Gael fez para me manter como sua refém e a forma como tudo acabou antes mesmo de começar.

Só de pensar naquele cínico mentindo para mim, eu ficava furiosa.

— Não. Um dia a princesa descobriu através de um bruxo malvado que o príncipe... era um safado mentiroso!

Minha filha enrugou a testa e fez uma careta.

— Hum. História feia, mamãe!

— Nem todas as histórias têm um final feliz, filha. — Virei meu rosto em sua direção e beijei sua testa. — Agora vá dormir já está tarde.

Minha filha abraçou a srta. Pompom e fechou os olhos, minutos depois ela estava dormindo em um sono profundo.

Apaguei a luz do abajur, e me levantei lentamente da cama, e quando saí do quarto senti novamente o terrível vazio que a alguns dias me acompanhava.

A Garota perfeitaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora