- Capítulo 26 -

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- JOANA FLORES-

Gael nos levou até um restaurante sofisticado, do qual nunca pensei em pisar um dia. Fomos acomodados em uma mesa redonda, forrada com seda, equipada com todo tipo de louças finas. Fiquei grata pelas aulas de etiqueta que recebi no orfanato.

Ele pediu uma xícara de café gelado com limão, minha filha escolheu uma torta de chocolate e eu apenas uma xícara de chá de camomila.

Depois de se entupir de chocolate a menina pediu para ir brincar no espaço reservado para crianças, onde haviam vários brinquedos e recreadores. Na mesma hora Gael sinalizou para que um dos funcionários do restaurante viesse nos atender.

- Pois não senhor? - Perguntou uma das recreadoras que se aproximou.

- Você poderia levar essa princesa linda para brincar no parquinho? - Gael pediu educadamente.

- Mas é claro - a mulher sorriu e pegou a mão da minha filha.

- Obrigada, príncipe. - Isabel agradeceu dando um beijo no rosto de Gael.

- E a mamãe? Não ganha beijo?

A sapeca sacodiu a cabeça, me deu um beijo no rosto e se foi junto da mulher.

Sorrindo observamos Isabel correr ao lado da recreadora, indo em direção ao parquinho.

Quando virei meu rosto para frente, tive que encarar os olhos ferozes de Gael pesando sobre mim.

Incrivelmente quando Gael estava perto de Isabel, ele se comportava, mas quando a menina estava longe ou não prestando atenção em nós, ele fazia suas gracinhas.

- Já vai começar? - Murmurei o encarando.

Ele molhou os lábios com a saliva e me encarou com um sorriso travesso.

- O que é? Eu ainda não fiz nada! E estou me comportando como um perfeito cavalheiro.

- Então é melhor que permaneça assim, senão arranco seu pinto!

Ele riu e se jogou para trás na cadeira cruzando os braços enquanto seus olhos me avaliavam com curiosidade.

- Por que está me olhando desse jeito? - Perguntei constrangida.

- Você e sua filha se parecem muito, mas ela tem o comportamento diferente do seu.

- Ela é apenas uma criança inocente, Gael.

- Me conta a verdade. O que aconteceu com o pai dela? Ele não morreu em um acidente de carro, morreu?

Respirei fundo. Falar sobre aquilo era terrível.

- Eu não quero falar sobre isso - abaixei a cabeça.

Ele jogou o corpo para frente e colocou os punhos na mesa, e tocou na minha mão.

- Não me tire como um sádico, tirano ou coisa do tipo. Mas eu mandei investigar a sua vida. Eu sei a verdade.

Encarei a xícara sem conseguir me mover. A vergonha estampada na minha face me fez corar.

- Você fez o quê?

- Eu queria saber sobre sua vida e acabei descobrindo que você foi violentada.

Finalmente o encarei.

- Você não tinha o direito de fazer isso, Gael! - esbravejei me sentindo irritada.

- Eu sinto muito, Joana. Me desculpe eu...

- Cala essa boca, seu cretino! - esbravejei novamente me controlando para não chamar atenção dos outros clientes.

Como ele tinha a coragem de ser tão frio? Deveria entender que falar sobre esse tipo de coisa é constrangedor, mas já havia tantos anos que eu não conversava sobre aquilo com ninguém, e às vezes a sensação que eu tinha era de estar carregando um fardo mais pesado do que eu podia suportar.

Não era exatamente com um chantagista que eu queria falar sobre as minhas dores, mas eu senti que estava na hora de abandonar aquele fardo tão pesado.

Coloquei adoçante no chá e resolvi tomar coragem para falar.

- Fui abandonada em um orfanato quando ainda era um bebê, e aos dezesseis anos fui adotada por uma família rica. O que era incomum, pois ninguém tem o costume de adotar adolescentes. Fui levada para uma casa linda, ganhei um lindo quarto, eu tinha tudo que sempre sonhei... até conhecer o irmão do homem que deveria ser meu pai adotivo. Ele era um velho barrigudo de aparecia repugnante, a única coisa bonita que ele tinha era os olhos verdes dos quais minha filha herdou.

- No início ele se mostrou amável como o restante da família, mas com tempo passei a perceber que seu olhar estava diferente, e ele sempre me tocava por tempo demais e fazia questão de me dar presentes caros.

Certa noite enquanto eu olhava as estrelas nos fundos da casa, ele me abordou, estava com os modos e a aparência de um bêbado, e eu tive o desprazer de ficar sozinha com aquele imundo naquele estado.
Ele se aproximou e tentou me convencer a beijá-lo, me recusei, então ele me agarrou à força e me arrastou para as dependências de empregados que estavam vazias, trancou a porta e... - Senti a voz embargar pelo choro causado pelas malditas lembranças. - E ele me forçou a ter relações com ele.
Eu fiquei tão desesperada que não consegui me mover, gritar ou pedir ajuda. Eu simplesmente esperei que acabasse. - Limpei a primeira lágrima que escorreu e respirei fundo para continuar a história.

- Depois de conseguir o que planejava ele parou de frequentar a casa, mas alguns meses depois eu comecei a sentir os primeiros sinais das consequências do abuso.
Pedi ajuda a uma das empregadas da casa e ela me levou para fazer um teste escondido dos meus pais adotivos, e deu positivo.
Quando cheguei em casa a empregada contou aos meus pais que eu estava grávida e eles me interrogaram. Contei a verdade pensando que eles me socorreriam, mas eles ficaram com medo de ter as suas imagens manchadas pois eram uma família influente, por isso me colocaram para fora de casa.
Indignada com tudo o que estava acontecendo, a empregada me levou até uma delegacia para fazer uma denúncia, mas como eles eram ricos não foram responsabilizados por nada.

Gael me olhou com o semblante chocado e duro ao mesmo tempo.

- E você decidiu ter a menina mesmo assim?

- Não, eu não queria. Depois de ficar os nove meses em um abrigo para menores, dei à luz a Isabel. Eu estava decidida a me desfazer dela, mas... quando a enfermeira trouxe um pequeno embrulho que apenas se movia e chorava, perdi toda a coragem. Ela era tão pequena, inocente, imaculada, não tinha culpa de nada do que aconteceu. Então me arrependi de deixá-la porque pela primeira vez na minha vida senti que não estava mais sozinha, e decidi enfrentar céu e terra para cuidar dela e nunca permitir que ela passasse o mesmo que eu.

- Sinto muito por tudo - a voz abalada de Gael me fez voltar das lembranças. - Eu sei que sou um homem mau, mas quero que você saiba que enquanto estiver vivendo debaixo do meu teto, eu vou me encarregar de proteger vocês duas.

Olhei no fundo dos seus olhos e ele parecia falar a verdade.

Eu deveria confiar nele?

Eu deveria confiar nele?

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