20_ Prima do Bolsonaro.

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Eliza Claire

7 horas e 44 minutos antes da merda...

O Theo chutou a caixa que eu estava apoiada na estante me fazendo cair sentada no chão e soltar um grunhido de dor.

Encarei o Theo com ódio enquanto ele prendia a risada.

Pobre!

Ainda sentada no chão, puxei a perna dele fazendo ele cair também com a bunda no chão.

O Theo gemeu de dor enquanto tentava se sentar e eu vi os seus olhos se fecharem com força.

Eu prendi a risada considerando a cena um pouco engraçada, até ver as costas dele se arquearem um pouco, me lembrando das suas cicatrizes.

O meu sorriso caiu e eu encarei ele com medo.

Não era preocupação, apenas medo de ter machucado ele mais.

- Tá tudo bem? - Me deixei perguntar.

- Você acabou de me deixar cair e ainda me pergunta se tá tudo bem? - Ele soltou irritado.

- Você também me deixou cair! Pelo menos eu não gemi igual um cabrito... - Reclamei. - Dramático.

- Eu não sou dramático e eu aposto que você adorou me ouvir gemer. - Sorriu de lado se ajeitando no chão.

O Theo e eu estávamos sentados em lado opostos do armário minúsculo, e de algum jeito, eu me sentia confortável naquele chão com os detergentes.

Consegui sentir o olhar penetrante e insistente do Theo sobre mim, desviei o olhar pra ele e os nossos olhos se encontraram instantaneamente.

Parte da luz que escapava da porta do armário era direcionada para o rosto do Theo, fazendo os seus olhos castanhos brilharem em um tom quase preto sobre as suas pequenas olheiras.

Eu provavelmente causei as olheiras nele durante a semana na biblioteca.

Ele tinha a cabeça apoiada contra uma prateleira e eu quase desejei que uma aranha entrasse no olho dele, apenas pra me livrar do seu olhar.

- Por que você tá me encarando assim? - Questionei com a voz baixa, tendo o privilégio da música parecer abafada dentro do armário.

- Você sabe o porquê. - Ele sorriu de lado.

Eu não sabia.

Mas também não tinha certeza se queria descobrir.

Eu semicerrei os olhos para o Theo, movendo as minhas costas da estante em uma tentativa de ficar mais confortável.

O Theo abriu um sorriso maior e começou a cantarolar uma das músicas que tocava lá fora.

Eu quase gritei de alegria e quebrei a porta pra correr uma maratona em comemoração pela minha mais nova descoberta. O Theo tem um defeito!

A voz dele parece um urubu sendo atropelado e eu senti os meus olhos se encherem de emoção pela descoberta.

- Não faz isso. - Pedi me referindo mais ao sorriso dele enquanto cantava do que ao fato que ele estava cantando.

O IntercâmbioWhere stories live. Discover now