51_ Você é suficiente.

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Eliza Claire

Alguém vai acabar com os sonhos destruídos.

— Boa tarde, alunos — cumprimentou o diretor, recebendo vozes ansiosas e com medo na resposta. — Mesmo depois dos rumores que estão correndo sobre mim na escola. Rumores idiotas alegando que eu e uma professora tran- tivemos relações sexuais cheias de gritos e tapas, eu achei que eu precisava comunicar finalmente os resultados da bolsa de estudos.

O Theo fez um barulho com a garganta desconfortável e eu me forcei a não encarar ele.

— Como eu informei no baile de máscaras, os resultados chegariam hoje pela manhã. — Lembrou o diretor de algo que eu nem tinha o conhecimento, erguendo um envelope que estava na mesa que ele havia se sentado. — Foi uma competição difícil, cheia de desafios que me fizeram perceber o potencial de muitos aqui. É pena que exista apenas uma bolsa de estudos para oferecer.

Com as suas últimas palavras, eu pude sentir a tensão se formar novamente em todos — não que ela alguma vez tivesse deixado de existir.

O olhar do diretor caiu sobre o envelope que segurava.

Até mesmo o diretor parecia nervoso.

O pedaço de papel entre mais camadas de papel segurava os destinos de todos aqui.

Não era apenas a minha desgraça ou a do Theo, também era a de todos aqui presentes.

Todos aqui seguravam o coração nas mãos e provavelmente rezavam e apelavam para uma entidade.

Alguns tinham o olhar baixo, decidindo encarar o chão, outros preferiam observar as paredes com o olhar nervoso, enquanto os restantes se contentavam em olhar para o diretor e amaldiçoar a demora.

O Theo encarava o diretor, quase pulando no pescoço dele pela espera. Eu encarava o diretor, querendo arrancar o envelope das suas mãos e queimar.

Seria melhor se eu não soubesse o resultado.

Eu podia viver na dúvida.

Eu preferia viver na dúvida do que ter o meu coração quebrado.

Eu queria me contentar com a dúvida e não com a dor.

Seja lá qual for a dor, ganhar ou perder, de qualquer jeito eu sentiria uma perda.

E talvez, eu não conseguiria decidir qual perda era pior.

De algum jeito, já parecia que eu havia perdido o Theo, então, por que o pensamento de ganhar a bolsa e ele não, simplesmente me aterrorizava?

— Não vamos enrolar muito mais. — Decidiu o homem, se ajustando no assento e abrindo o envelope de maneira ruidosa.

Era tortura, só podia ser tortura.

O som do papel do envelope sendo rasgado era o único som que podia se escutar naquela sala gigante de paredes brancas e mesas redondas vazias.

— O vencedor da bolsa de estudos de uma das universidades mais prestigiadas dos Estados Unidos na Califórnia é — encarou o papel em suas mãos, demorando o tempo necessário para levar a maioria de nós a loucura. — Theory Cooper.

Senti o meu coração cair.

O meu estômago afundou e se revirou, não eram borboletas. Era desilusão, preocupação, medo, choque, um coração quebrado.

Se eu não estivesse sentada, eu precisaria me sentar.

Ao mesmo tempo eu desejava ter ficado em pé, para pelo menos ter uma noção que eu estava bem — que eu estava viva — e não me afundando.

O IntercâmbioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora