50_ Sonhos destruídos.

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Eliza Claire

O Theo uma vez disse que eu deveria me apaixonar, que eu deveria dar uma chance para a paixão ou amor. Ele ousou me convencer a dar uma chance para a paixão, mesmo depois de eu ter explicado que aquele era um jogo que eu não estava disposta a participar.

E aqui estou eu, tendo que lidar com os cruéis resultados de ter seguido o seu conselho.

O silêncio na sala era ameaçador, todos os participantes dessa competição para a bolsa de estudos estavam a minha volta. Alguns sentados e outros mal conseguiam conter o nervosismo e decidiram ficar em pé.

Eu me sentei, por mal conseguir ficar de pé sem sentir que o meu mundo estava desabando. O Theo ficou de pé, não conseguindo se sentar.

Eu gostaria de saber o que fez ele ficar de pé.

Será que ele apenas não queria ficar do mesmo jeito que eu? Ele me desprezava tanto agora? Ele estava tão envergonhado de mim ao ponto de não conseguir sentar em uma cadeira parecida com a minha ou até mesmo na mesma mesa circular que eu?

Eu sou patética pelos meus pensamentos.

Eu conseguia sentir o olhar de algumas pessoas sobre mim. Provavelmente pessoas que presenciaram a situação vergonhosa no corredor.

Nenhum desses olhares, porém, era do Theo. Eu chequei. Vezes mais do que eu me orgulho. Ele encarava o chão, ou então perdia o seu olhar em um canto aleatório da sala.

Eu me encontrei questionando se aquelas paredes brancas eram mais interessantes que eu.

Posso afirmar que, apesar do meu senso de humor depravado, sei fazer piadas engraçadas.

Cedendo mais uma vez, eu desviei o olhar para ele, notando agora que tinham alguns amigos dele ao redor dele.

O seu olhar estava em mim.

Os nossos olhares se encontraram e eu senti um alívio por estar sentada.

As sobrancelhas do Theo pareciam ter subido por um momento e logo depois se franziram. Não por irritação ou confusão, mas por medo.

Preocupação, talvez?

Segurei o seu olhar, algo que muitas vezes não consegui.

Agora eu precisava desesperadamente da segurança que o seu olhar me passava.

Os olhos castanhos que sempre escureciam quando encontravam o meu olhar, agora permaneciam claros.

Tão claros quanto a torturante verdade.

*flashback*

— Você disse que não foi desse jeito, certo? — Questionou depois do cruel silêncio que me fez sentir mais pesada em segundos. — Como? Qual foi o jeito? Me conte.

— Eu não estava lá por vingança — comecei, ainda em choque por ele estar disposto a me escutar.

Ele queria me escutar.

O Theo, mesmo depois da minha resposta, estava disposto a me escutar.

— Eliza, eu não quero saber da vingança. Eu não ligo para a vingança. Eu entendo a promessa de vingança, na verdade. Foi minha culpa e eu seria um completo idiota por tentar te culpar naquele momento ou agora. A única coisa que me importa é se você viu, e se você realmente viu... Nós não podemos falar disso aqui. — Olhou em volta, estando mais uma vez ciente da quantidade absurda de olhares que estavam em nós e na Zoé agora.

— SUA VADIA! — Foi tudo que eu escutei antes de ver uma mão acertar o rosto presunçoso da Zoé.

A Soso empurrou a sua namorada — agora ex, muito provavelmente. Com ódio nos seus olhos ela gritava coisas sem sentido no rosto da loira de olhos azuis. Tudo que eu conseguia entender do tanto de coisas que a Soso gritava era "cobra", "Eliza", "eu avisei todo mundo", "você não ousou fazer isso..." no meio de tantas outras coisas horríveis.

Não demorou até a voz do diretor soar no corredor cheio de gente.

Mas diferente do que eu esperava, o diretor apenas chamou duas pessoas dali:

— Claire e Cooper, na sala número 347. Agora! — A sua voz soou, brava demais pra deixar espaço para a esperança, ecoando pelos corredores e fazendo o meu corpo enrijecer.

No fundo do meu coração, eu acho que sabia o motivo de ter sido chamada. Eu sabia o motivo de nós dois termos sido chamados.

Eu sabia que envolvia a bolsa de estudos.

Talvez foi por isso que eu entrei em pânico e estive em pânico o tempo todo, mesmo depois de entrar na sala 347.

Todos os outros participantes estavam aqui.

*flashback*

Talvez o medo preso nas sobrancelhas do Theo fosse a resposta dos meus questionamentos.

O resultado, o vencedor, será anunciado em segundos.

Com tudo em minha alma, eu pedia para que não me castigassem e esmagassem os meus sonhos na frente de todos.

Com tudo no meu coração, eu implorava para que não destruíssem o Theo, eu desejava que não acabassem com as esperanças dele tão cedo.

Por fim, tomei uma áspera lufada de ar. O ar cortou os meus pulmões e o seu caminho até ele.

Apertei as minhas mãos, só então percebendo que elas tinham começado a suar.

Desviei o olhar do Theo, muito tempo depois dele ter desviado o olhar de mim.

Eu sentia vontade de chorar, não apenas por essa situação inacabada em particular, mas por desespero. Por estar ciente do quão próximo os meus sonhos poderiam estar de acabar ou começar. Por ter a maldita consciência que era eu, ou ele, ou nenhum de nós.

Em todas as situações, alguém sempre acaba magoado.

Alguém vai acabar com os sonhos destruídos.

continua...

O IntercâmbioWhere stories live. Discover now