O Intercâmbio

44_ Vingança.

Eliza Claire

Quando eu voltei a abrir os olhos, a Brenda havia desaparecido.

Desnorteada, eu afastei o corpo do Theo do meu, arrancando a mão dele do meu quadril, e a outra mão que estava na parte inferior das minhas costas, tocando a minha pele com carinho, foi junto.

Não era meu carinho, tentei lembrar.

Eu prometi que não se tornaria o meu carinho.

Preocupação e confusão foram desenhados por todo rosto do Theo.

Eu recuei, quase sendo atropelada por um casal dançando alegremente.

O casal era a Zoé e a Soso.

Elas gargalhavam e tentavam conversar enquanto pulavam pela pista de dança.

Um som agudo preencheu o salão de festas escuro, me fazendo recuar ainda mais e me virar por instinto para o palco que ficava na frente do baile todo.

A visão da pessoa segurando o microfone se tornou o meu pior pesadelo.

A revelação do vencedor da bolsa...

O meu coração ficou acelerado e em poucos segundos, era como se ele fosse uma bomba prestes a explodir dentro de mim.

Eu estava paralisada, encarando o diretor enquanto ele agradecia a presença de todos no baile. Eu não sabia o que fazer, muito menos o que sentir. Era como se o meu corpo todo estivesse em uma guerra e eu não podia fazer nada além de sentir o pânico vencer.

Eu não queria descobrir se eu ganhei a bolsa assim.

Principalmente porque eu não suportaria o olhar do Theo sobre mim...

Eu não suportaria encarar o Theo se ele tivesse vencido.

Em total estado de terror, eu recuei, caminhando em direção da porta de saída e tentando não ser vista. A luz do corredor cegou os meus olhos quando eu abri a porta do lugar, arrastando o meu corpo para fora do espaço escuro.

Eu não sabia o que exatamente eu estava fazendo, mas eu sabia que preferia escutar mais tarde pelos rumores se eu ganhei a bolsa, do que ter que encarar o rosto do Theo enquanto anunciavam o vencedor.

Eu sabia que ele merecia a bolsa e que precisava dela mais do que tudo... mas eu também mereço, não?

Me sentir culpada e egoísta por isso não é justo.

Eu trabalhei duro em cada trabalho e apresentação que eu recebi desde que entrei na competição. Eu passei noites acordada tentando criar o trabalho perfeito e eu fui até o final quando tudo deu errado.

Eu sei que a perfeição é impossível, mas eu não me importo de chegar o mais próximo possível dela.

Eu fiz tudo isso pela minha mãe. Eu fiz tudo isso para ser aceita pela família da minha mãe. Eu fiz tudo por um bom futuro pra mim e até mesmo para toda a minha família.

Por que eu deveria me sentir culpada por querer tanto ganhar algo que eu mereço?

Sem essa bolsa... sem ela... eu volto pro Brasil.

A realização passou pelos meus pulmões e eu senti o meu corpo fraquejar por um segundo.

Eu não tinha me dado ao luxo de pensar que se eu não ganhasse a bolsa, eu não teria argumento nenhum para ficar nos Estados Unidos. O intercâmbio vai eventualmente acabar e eu vou embora.

A bolsa teria sido a única solução.

Fui arrancada dos meus pensamentos com o som da porta sendo aberta e o som de passos pelo corredor em que eu estava.