"Passando a noite"

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— Certo, então vamos usar "contrato" no lugar de "casar". O quê acha?

Assinto com a cabeça de forma positiva.
Na verdade poderia concordar com qualquer coisa naquele momento. Em quase três meses, jamais vi o CEO se importar com quaisquer sentimentos além dos dele mesmo e dos filhos. E agora eu simplesmente o tinha presenciado levar em consideração meu estado psicológico. 

Absorta no que ele diz, o deixo continuar a explicar como funcionaria tal contrato. E para nenhuma surpresa, todas as regras são parecidas aos que os dramas mostram. Parecem simples de seguir.

O casamento duraria cerca de um ano, e o acordo somente poderia ser rescindido se as duas partes estivessem de acordo. Seria dado em troca a parte B – esta sendo eu – qualquer coisa que desejasse. Eu seria esposa às vinte e quatro horas, com folga às terças e tendo a possibilidade de ter alterações se a parte A assim solicitar. Outras regras e cláusulas poderiam ser revisadas com a finalização do contrato redigido pelo advogado de meu chefe.

— Concluiremos o contrato no final deste mês. Limpe uma semana em minha agenda com Emily.

Ele queria dizer que nos casaríamos ao fim dos mês? Isso significava menos de quinze dias, e eu parei para me perguntar como abriria uma semana na agenda tão lotada de compromissos que ele mantinha. Emily Collin, a secretária executiva, teria um infarto tão logo eu a pedisse quando chegassemos ao escritório.

E quando ela perguntasse? O que eu responderia? Droga!

— Pode dizer a ela a verdade. — Meu chefe respondeu, quase como se pudesse ter ouvido as perguntas mentais que eu me fazia.

Eu assenti.
Me levantei do sofá assim que o assunto se encerrou. Me dei também conta de que nunca havia ouvido Maurício De La Torre falar tanto em um único dia. Na realidade, acho que nem mesmo cheguei a escutá-lo dizer mais que duas ou três frases.

Já me dirigia à porta para ir embora quando a abri e uma pancada de vento e chuva me atingiu. Fechei-a de pressa, dei dois passos atrás e me vi refletida e em um espelho do corredor.

Notei que apenas usava uma blusa regata branca que transparência meu sutiã cor da pele, e meu shortz jeans surrado mal cobria minha coxa. Eu gostava de usar roupas leves e que pouco tampassem em casa, mas vir até a casa do chefe, naquelas vestimentas e com meu chinelo velho que eu havia consertado com um prego para não ter de gastar tempo tendo de ir comprar outro, não era para nada apropriado.

Dei uma olhada para a chave de meu golzinho, esperando do lado de fora naquela chuva.

— O quarto de hóspedes está limpo, pode passar a noite lá. — Ele sugeriu, surgindo atrás de mim.

Virei-me bruscamente tomando um susto com a proximidade. Não tínhamos acendido a luz da sala, porque normalmente era bem claro de noite pelas luzes da lua entrando pelas enormes portas de vidro de correr na sala de estar, abrindo caminho para o jardim e a piscina coberta ao fundo.

— Eu, eu… an… — Tentei recobrar a consciência, mas ele realmente estava muito perto.

Dei um passo atrás trombando com a cômoda no corredor de entrada em que ainda estávamos. O móvel normalmente servia de porta trecos para quando chegássemos pudéssemos colocá-los ali temporariamente. Mas estava precisando ser organizado, eu trombei de costas com o mesmo e vários brinquedos de pelúcia caíram, fazendo barulho, tocando música e me deixando constrangida.

— Desculpa, desculpa, desculpa. — Pedi três vezes muito rápido, pegando as pelúcias do chão.

— E então? Vai ficar? — Ele tornou ao assunto.

— Bem, eu não… — Antes que pudesse dizer, fui interrompida por um choro.

Saindo às pressas, meu chefe subiu as escadas e adentrou o quarto dos gêmeos. Eu estava atrás e fiz o mesmo.

Acalmado pelo pai, Max, pouco a pouco deixou de chorar, devia ter se assustado com o barulho que fiz no primeiro andar.

— Agora pra cama filho. — O pai o deitou e antes que pudesse cobrir o garoto, ele correu até mim.

Acolhi Maxwell nos braços. O menor se enroscou em meu pescoço e não quis soltar mais.
Olhando no relógio, passava da meia-noite, se não fosse me deitar não poderia dormir o suficiente.

— Anda pra cama filho, Amanda vai ficar com você. — O pai do garoto promete sem me consultar.

Engasgando com o ar o pergunto assim que posso:

— Como é?

𝐕𝐢𝐯𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐮𝐦 𝐝𝐨𝐜𝐞 𝐜𝐥𝐢𝐜𝐡𝐞̂ 𝐜𝐨𝐦 𝐨 𝐦𝐞𝐮 𝐜𝐡𝐞𝐟𝐞 - IncomplWhere stories live. Discover now