"A chamada"

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Por Amanda Monteiro.

Hoje é o segundo dia depois do acidente de Arthur.

Tínhamos passado as últimas duas noites preocupados com sua recuperação, mas para nada ele nos deu trabalho.

Os observo agora adentrando o jardim de infância, estão animados para contar aos colegas o que aconteceu com queixo de Art. Ambos os gêmeos me acenam com as mãozinhas em despedida e me despeço acenando de volta.

É terça-feira, meu dia de descanso e não trabalho.

Penso em ir para meu apartamento, mas também chego a conclusão de que seria estranho com minha mãe ainda instalada na casa de Maurício. O chofer então me leva de volta e eu passo o percurso refletindo sobre um pouco de tudo, até que meu telefone toca.

— Alô? — Atendo a chamada sem identificação.

— Falo com a Srta. Monteiro? — Uma voz feminina questiona.

— Sim.

— Prazer conhecê-la. — Me comprimenta e eu sigo escutando, mas pressentindo que nada bom pode vir da ligação.  — Eu gostaria de marcar um horário para visitar vocês e ver meus garotos. O pai deles não é muito meu fã.

— Seus garotos? — Estou perto de achar estranho, até que me recordo o porquê de tudo isto. — Ingrid?

— Ah, vejo que meu ex-cunhado já me mencionou a você. Espero que coisas boas.

— Olha, não creio ser uma boa ideia nos encontrarmos. Agradeço o convite. — Digo e encerro a chamada.

Quando menos percebo já estou de volta a casa dos De La Torre.

Desço do carro e noto mamãe e a Sra. Alexandra no jardim de entrada, ambas regando mudas de plantas que pareciam ter acabado de serem entregues, dado que quando eu saí mais cedo, não as vi por ali.

Minha tarde foi tranquila apesar das inúmeras perguntas das quais tive de desviar. Como antes disse, eu não conseguia mentir, e agora até mesmo omitir me deixava terrivelmente mal por dentro.

Sentadas na sala, eu, minha mãe e a mãe de Maurício conversavamos sobre os vestidos que eu provaria para o casamento. Tinha me esquecido de que eu teria de usar um, então quando minha mãe comentou com Alexandra que eu era virgem, as coisas se tornaram ainda mais sérias.

— Mas, ela está grávida do meu filho, como é possível? — A Sra. Alexandra estava com o que a filha lhe disse na cabeça.

Minha mãe me olhou e eu cansada de repetir a mesma história várias vezes, simplesmente continuei a folhear a revista.

— Isso deve ser uma brincadeira de Mariana. Também pensei o mesmo no princípio, mas como já deve ter percebido, minha filha não mente, ela não consegue. — Minha mãe assegura e eu deixo minha revista de lado para ir abraçá-la.

— Sabe o quanto eu te amo mãe? — Eu pergunto a apertando forte.

— Deve ser o dobro da força com a qual me asfixia agora. — Ela responde brincando.

Nós três rimos e eu passo a tarde com a sensação do meu corpo mais leve, porém para a Sra. De La Torre, minha virgindade significava a perda de um neto. A mesma me tinha perguntado logo depois disso se eu e seu filho tínhamos planos de sermos pais outra vez.

Eu nem mesmo sabia o que responder e foi por sorte que escapei. Mariana havia chego, e como ela o irmão mais velho, sua mãe o chamou de canto e voltou a fazer a mesma pergunta que tinha feito a mim.

A cara dele foi a melhor ao respondê-la.

— Claro mãe, eu estava pensando em trigêmeas agora.

— Não brinque com isso, Maurício! — Ela o repreende brava.

Ainda mais tarde naquele dia, como a chegada da noite, tivemos a brilhante ideia de assistir um filme em família.

As crianças se renderam na primeira hora, e então nossas mães os levaram para os seus quartos. Mariana por outro lado, continuou firme me na sala assistindo, e por este motivo foi que ao invés de sentarmos simplesmente de mãos dadas, terminamos comigo deitada com a cabeça em uma almofada que estava sobre suas pernas.

A demonstração de carinho que elas tanto queriam ver estava bem ali, eu só não contava com que Maurício fosse me fazer cafuné e isto me rendeu. Quando percebi, já estava na cama do quarto, acordei apenas porque ouvi barulhos de alguém querendo abrir a porta.

— Já vou! — Digo me levantando debaixo das cobertas.

Ando com cuidado para não esbarrar em nada e chego a porta girando a maçaneta.

Não preciso nem mesmo dizer para entrarem, os gêmeos invadem o quarto e em menos de três segundos já estão sobre a cama.

— A gente veio dumin com oxe, mamãe! — Arthur fala com cara de arteiro.

— Tudo bem, mas não acordem o papai em. — Digo, mas Maurício resmunga logo em seguida.

— É tarde demais…

𝐕𝐢𝐯𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐮𝐦 𝐝𝐨𝐜𝐞 𝐜𝐥𝐢𝐜𝐡𝐞̂ 𝐜𝐨𝐦 𝐨 𝐦𝐞𝐮 𝐜𝐡𝐞𝐟𝐞 - IncomplOnde histórias criam vida. Descubra agora