"Os pais sempre seram os vilões para os filhos"

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Dolorosamente devagar o tempo passou e com o fim do expediente às seis horas, já estava trocando os últimos detalhes para ver o que Emily conseguiria alterar na agenda dele.

— Sei que somos só colegas de trabalho e não passamos muito tempo juntas, mas sempre achei que saberia se houvesse algo entre vocês dois. — Emily comentava.

Na verdade, para mim ela parecia a escolha mais óbvia para o que meu chefe planejava fazer. Não tinha maus hábitos, tinha quase a mesma idade que ele e tinha uma filha de cinco anos que seria uma ótima irmã mais velha para os gêmeos. E eu, eu na verdade, não teria a menor chance se não fosse por estar todo o tempo ao lado dele e dos meninos. Eu não tinha nada de especial e por alguns poucos segundos que estive a sós sem a gritaria dos gêmeos me peguei pensando se merecia aquela sorte.

Definitivamente ele não era chefe grosseiro, ou cafajeste como os típicos dos clichês, mas normalmente era frívolo, verdadeiro demais e sempre andava exibindo cara de poucos amigos. O Maurício De La Torre com quem tinha passado as últimas vinte e quatro horas parecia ter melhorado muitos pontos e abusado no quesito "mentir". 

Além disso, eu pensava no que eu pediria a troco do nosso acordo. Eu não era como as boazinhas dos filmes e livros, se ele estava oferecendo, eu sem dúvidas iria aceitar.

— Amanda? Amanda?!

Quando pisquei, Emily chamava minha atenção.

— Oi?

— E então, vai me contar pra que ele quer uma semana inteirinha vaga?

— Dia trinta nos casamos, e suponho que a lua de mel dure alguns dias. — Revelei sem muito alarde.

— Você o quê?!

— Mais baixo Emily. — Pedi, não querendo que qualquer um do pessoal da limpeza escutasse e espalhasse.

— Desculpa. — Ela pareceu tentar se conter. — Repete outra vez, eu acho que posso ter entendido mal.

— Não Emily, você ouviu certo. Me caso no fim deste mês com nosso chefe. — Terminei de confirmar, pegando a lista de compromissos e vendo o que mais poderia ser reagendado. — Marque essa viagem de fim de mês, para o próximo sábado e veja se os contratantes estão de acordo.

— Certo, verifico amanhã assim que eu chegar, estou atrasada para pegar minha filha na creche.

— É claro, perdi a noção do tempo me desculpe. — Digo verificando o horário no celular e o devolvendo ao bolso. — Será que o centro ainda está aberto? Preciso comprar um telefone novo.

— Não, fecha as dezoito.

— Que droga… — Murmuro pensando no quão difícil será ficar até o dia seguinte sem meu celular. — Vai lá Emily, bom descanso.

— Pra você também! — Emily acena correndo para pegar o elevador.

Sem muito mais o que fazer entro no escritório e uma zona cada vez maior se estabelece à medida que o tempo passa com os meninos dentro do espaço.

Me sento no sofá esperando que meu chefe termine o que está fazendo para irmos embora, já que não vim em meu carro.

Arthur se cansa por milagre e vem sentar ao meu lado na parte ainda branca do sofá.

— Mamãe, quelo i binca a casa. Papai é sato qui… — Ele choraminga e eu não posso esconder a vontade de rir.

— Vocês já mexeram em tudo que tem pra fazer, e o papai que é chato? — Pergunto o apertando em meus braços. — Vocês dois são uns cara de paus, isso sim.

— Eu já estou acostumado a ser sempre o vilão da história. — Meu chefe diz dando de ombros para o papel de mal que o filho o dá.

— Senhor, posso fazer uma pergunta?

— Em primeiro lugar, já estava fazendo uma pergunta ao perguntar se pôde. Em segundo, me chame de Maurício, Amanda. 

— Acho que só consigo se estou brava, ou frustrada.

— Você é estranha, mas OK. — Ele se levantou de seu assento e caminhou até o centro da sala se sentando sobre a mesa de centro. — O que quer perguntar?

Eu levo alguns segundos para tentar fazer o cérebro trabalhar depois de ele estar tão fixamente me olhando nos olhos.

— Sua mãe me disse uma vez que você odeia mentiras. Como pode estar tão bem fazendo isso agora?

𝐕𝐢𝐯𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐮𝐦 𝐝𝐨𝐜𝐞 𝐜𝐥𝐢𝐜𝐡𝐞̂ 𝐜𝐨𝐦 𝐨 𝐦𝐞𝐮 𝐜𝐡𝐞𝐟𝐞 - IncomplWhere stories live. Discover now