"A vinda de Mariana"

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Papai somente me encara, não diz nada. Eu jogo a bebida doce no piso e digo a ele que não vou mentir, não guardarei o segredo e contarei a mamãe assim que formos pra casa.

— Macaquinha, isso não vai mudar nada. O pai precisa ir. — Ele volta a falar, meu pai se afasta de mim e tudo fica escuro de repente.

Então percebo ser minha memória de quanto me tranquei no armário do meu quarto para chorar depois de assistir ao velório do papai e me despedir dele no caixão.

Tenho Dudu, meu elefante de pelúcia favorito entre meus braços, Mamãe está do lado de fora me pedindo para deixar de chorar e ficar com ela.
Tudo o que tínhamos era uma a outra, eu a tinha mentido. Me sentia a pior filha do mundo e pensava que a culpa do papai ter morrido era toda minha. Não queria que minha mãe olhasse para mim, achava que ela ficaria com raiva assim que soubesse que eu menti.

Passei o restante do dia dentro do meu guarda-roupas. Mamãe deixou de insistir pra que eu saísse em algum momento e quando acordei estava em minha cama, debaixo das cobertas. Ela devia ter me tirado do armário assim que eu dormi.

Tudo isso sendo rebobinado em meus sonhos me fazem sentir vontade de chorar, e quando desperto com movimentos ao meu redor, a primeira coisa que faço é levar a mão aos olhos chorosos.

— Mamãe, oxe tá bem? — Arthur pergunta tão logo me vê acordada.

Estou surpresa, está deitado comigo debaixo das cobertas.

— Eu estou bem bebê. — Garanto ao pequeno com um sorriso que me custa esforço dar.

Eu mentia para Arthur e mentia a mim mesma. 

— Onde está seu irmão? — Perguntei ao garoto, tentando mudar de assunto.

— Eu num chei. — Diz dando de ombros.

Depois de me espreguiçar levanto da cama, pego Arthur no colo e vou verificando nos quartos para ver se encontro o segundo clone ou ao pai deles. 

Nada no quartinho deles, nada no quarto do meu chefe e quando desci ao primeiro andar da casa também não os encontrei. Comecei a me desesperar um pouco confesso, mas então contro uma nota sobre o balcão da cozinha.

Na nota dizia: "Max acordou com febre, vou levá-lo ao pediatra.
Aproveite sua folga e me desculpe por ter deixado Arthur com você.
Ligo em casa assim que eu puder ".

Quis saber na mesma hora se Max estava bem e me amaldiçoei internamente por ter sido descuidada e quebrado smartphone no dia anterior. Agora precisava ligar para saber notícias e a única opção que existia era esperar pela ligação de meu chefe.

— Eu nem mesmo sei se devo levar você a creche, droga o que eu faço? — Murmuro a mim mesma enquanto encaro o pequeno e este faz o mesmo, provavelmente me achando a adulta mais doida que já conheceu.

— Dloga? — Ele repete a palavra proibida.

— Não, não, não pode dizer esta palavra feia. — Tento corrigir.

— Dloga! Dloga! Dloga! — Ele repete outras vezes, me vê desesperada e cai na gargalhada.

— Que merda, como faz pra desligar a capacidade de memorizar as palavras. Onde fica o botão. — Digo olhando ao redor, procurando qualquer coisa para distraí-lo e fazê-lo esquecer que falei aquilo.

Meu estômago então ronca se mostrando presente e especialmente faminto. Me dá raiva saber que não posso pedir nada para entregar sem meu celular.
O jeito é ir pra cozinha, trago Art comigo, rezando para que o menino esqueça o que ensinei sem querer.

Nos armários e na geladeira encontro tudo. Sirvo cereal com leite ao menor, e a mim duas grandes torradas com creme de avelã acompanhadas de um copo de suco de laranja.

Estou para terminar de comer, quando ouço a porta da frente da casa se abrir. Corro esperando ser Maurício com Arthur nos braços, e para a minha surpresa tenho Mariana chegando com duas grandes maletas.

— Eu posso ajudar? — Questiono.

Ela se sobressaltou, estava de costas e claramente não me notou chegar.

— Você tão cedo aqui?

— Bem… é… — Eu não tinha ideia se devia começar a me explicar alí. — Melhor eu te ajudar a colocar isso pra dentro, não acha?

— Tem razão. Estão muito pesadas.

Com minha ajuda, trouxemos ambas as malas para dentro, Arthur pulou no colo da tia assim que a viu na sala de estar e eu segundos depois já estava sentindo o nervosismo tomar conta.

— E então? — Mariana estava sentada em um dos sofás da sala, pronta pra me ouvir.

𝐕𝐢𝐯𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐮𝐦 𝐝𝐨𝐜𝐞 𝐜𝐥𝐢𝐜𝐡𝐞̂ 𝐜𝐨𝐦 𝐨 𝐦𝐞𝐮 𝐜𝐡𝐞𝐟𝐞 - IncomplWhere stories live. Discover now