"Responsabilidades maternas"

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— Pra falar a verdade, você é uma recém-graduada bem esforçada, isso me chamou o interesse. Depois veio a forma com que você se preocupa com as crianças e como sempre está disposta a fazer mais que o seu trabalho, como nos comprar café da manhã todos os dias. E de alguma forma me casar com você não parece uma decisão ruim, logo isso não preocupa. Meu único problema é minha mãe, desde que eu não minta diretamente pra ela, acho que posso lidar com tudo.

— Mas você me chamou de "amor" diante dela hoje de manhã. — Me lembrei, quase sentindo um arrepio.

— Como Emily mesmo diz, você é um amor de pessoa. Tente pensar dessa forma e não estarei mentindo. — Ele deu de ombros.

— Sua mãe é católica. E quando o padre perguntar "você aceita Amanda Monteiro na alegria e na tristeza, na saúde ou na doença, até que a morte os separe?". O quê vai responder será mentira, por que temos prazo de validade.

— Podemos assinar os papéis no registro civil e fazer apenas uma cerimônia de comemoração.

— Você tem jeito pra tudo?

— Gosto de pensar que sim. — Ele responde me revoltando por ser tão seguro de si mesmo.

Mais tarde naquele dia, voltando pra casa, tenho a impressão de estar me esquecendo de algo.

As crianças já ouviam a música da galinha pintadinha pela quinta vez seguida e meus ouvidos imploram para que eu me jogue do carro.

— Meninos, agora chega OK? — O pai disse desligando o som do carro.

— Obrigada. — Falei me sentindo agradecida eternamente.

— Eu não espero que você tolere tudo por eles, Amanda, você não é a mãe deles. São minhas responsabilidades. — Ele me esclarece e sinto como se me machucasse internamente.

De repente me lembro.

— Minha mãe.

— O quê tem sua mãe? — Ele questiona sem tirar os olhos do trajeto.

— Eu não liguei pra ela ontem a noite e não falei com ela hoje o dia todo. — Respondi já imaginando o tamanho da preocupação dela e o tamanho da bronca que eu iria levar também.

— Assim que chegarmos em casa você pode ligar pra ela do meu celular. — Ele oferece.

— Se importa de eu fazer uma vídeo chamada? Mamãe gosta de me ver.

— Não me importo, faça como achar melhor. — Ele diz e isso me despreocupa.

Na verdade eu tinha muito para contar a ela e talvez também o melhor era fazê-lo olhando em seus olhos. Minha mãe é a única coisa importante o suficiente em minha vida e mentir para ela não era a coisa mais legal a se fazer, mas com o tanto de que ela não me pergunte se amo Maurício De La Torre, acho que vou sobreviver.

Chegando na casa de meu chefe, agradeci por poder tirar os sapatos de uma vez, eram muito confortáveis, mas qualquer pé após dez horas de trabalho se esgotava. Eu pedi o jantar para as crianças e liguei para tentar contato com a babá que não deu mais satisfações.

— Precisará contratar outra senhor, ela diz que desistiu da vaga. — Mostrei o e-mail que a mulher respondeu.

— Irei ligar para a agência amanhã cedo. — Levou as mãos às têmporas às esfregando.

Foi um dos dias cansativo entre os mais cansativos e quando finalmente os meninos se entreteram com a televisão, eu parti para a cozinha sentando-me à mesa com o laptop que meu chefe havia me emprestado.

Pela marca aquela máquina que eu segurava não devia valer menos de doze mil, e se tratando do meu chefe ele podia ter retirado da carteira e pago a vista.

— Foco. — Disse a mim mesma. — Fingindo normalidade, não dizer mais que o necessário e contar a mamãe apenas o essencial sobre o casamento. — Repetia ponto por ponto a mim mesma.

Estava tudo organizado em minha mente, o que eu iria fazer, como iria me comportar e o que falaria caso ela me interrogasse como sempre. Entretanto, tudo isso sumiu assim que a vídeo chamada se conectou.

— Deus do céu Amanda! Eu já estava quase chamando a polícia! — Foi como minha mãe começou na chamada.

— Acho que a polícia não teria jurisdição, mas você pode chamar enfermeiros psiquiátricos assim que eu te contar as novidades mãe.

𝐕𝐢𝐯𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐮𝐦 𝐝𝐨𝐜𝐞 𝐜𝐥𝐢𝐜𝐡𝐞̂ 𝐜𝐨𝐦 𝐨 𝐦𝐞𝐮 𝐜𝐡𝐞𝐟𝐞 - IncomplOnde histórias criam vida. Descubra agora