"Sem reação"

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Depois de deixarmos minha mãe se acomodando no quarto de hóspedes, – apesar de estar mais para meu quarto do quê de qualquer um, com algumas das minhas coisas lá: roupas, pastas e agendas que eu trouxe do trabalho, tudo socado dentro da última gaveta de uma cômoda no quarto para que ela não visse. –  voltamos ao quarto do meu noivo/chefe.

— Senhor… quero dizer, Maurício. — Me corrijo em seguida. — Depois de "casados"... — Menciono a palavra com certa relutância. — Vamos dormir juntos todos os dias?

— Dependerá muito da situação. — Ele responde pegando pastilhas para dormir na gaveta de sua mesa de cabeceira.

Eu o observo se dirigir mais tarde para o closet, e logo depois de alguns minutos se passarem, ele volta de pijama posto.

Nos três dias anteriores eu o tinha visto fazer sempre a mesma coisa: dormir vestido e acordar somente de com a calça ou bermuda do pijama, em comparação a blusa, esta pobre peça sempre terminava atirada para algum canto do cômodo.

— Não precisa disso, não precisa colocar por mim.

— O quê? — Ele se vira para me perguntar, olhando-me sem entender do que eu falo.

— A blusa. — Esclareço. — Pode dormir sem ela. Sempre acorda sem e parece só servir para te atrapalhar ainda mais a pegar no sono.

A princípio meu chefe se vê confuso sobre minhas observações, no entanto, as pondera e por fim se deita sem nada o cobrindo da cintura para cima.

Eu vou logo depois de tomar um banho, não consigo dormir sem um e não entendo como meu chefe acorda mais cedo seis dias da semana apenas para tomar um. Não é mais simples dormir tomado banho? Bem, para ele eu presumia que não.

Já recostada em meu lado da cama, eu começo a ouvir um áudio livro de uma obra de que gosto desde que tinha treze anos: viagem ao centro da terra por Júlio Verne. Ouço em meus fones de ouvido enquanto me ajeito de lado na cama, encarando a parede me focando na história de ficção científica.

Com um pouco mais de uma hora e meia de leitura falada, o lado para o qual me virei já estava doendo da mesma posição, sendo assim viro instintivamente para o outro lado e minha alma quase salta do corpo ao dar de cara com Maurício muito próximo.

— Por que tão perto? — Minha pergunta saiu em um fio de voz.

— Eu estava ouvindo a história. — Ele diz dando de ombros e em parte me deixando aliviada.

— Quer dividir os fones de ouvido? — Proponho, pois assim parece menos estranho.

Ele aceita e ao invés disso me deixar mais confortável, a resposta é um efeito contrário. Ele se acerca mais, pois meus fios de separação são curtos e seu ombros tem uma larga distância, dificultando dividir mesmo estando deitados ombro a ombro.

— Espera. — Maurício fala de repente.

Ele se deita de lado, e do nada seu braço esquerdo levanta minha cabeça para que e o direito possa se ajusta em baixo. Eu estou abalada com a proximidade e talvez por isso não digo ou faço nada. Maurício deita minha cabeça em seu braço estendido como um travesseiro, pega um dos fones de volta e o insere no ouvido, e então me diz para dar "play".

Eu o faço, meio que no automático, tenho medo de que o clima fique estranho e não olho diretamente para ele. Estou deitada de barriga para cima e encaro o teto, sei que ele faz o oposto. Meu chefe está deitado de lado, eu juraria que me fitava, mas podiam ser paranóias minhas, pois ele parecia concentrado na história tanto quanto eu estava antes de me virar na cama.

Com outra hora do audiolivro passada, novamente me incomodava a mesma posição de barriga para cima e deitada nos braços dele. Para qualquer lado que eu virasse, eu corria risco de estar ainda mais incômoda. Suportei outros vinte minutos e quando as costas já me imploravam para me virar, deitei-me de lado, oposto ao rosto do meu chefe, quem para evitar perder a narrativa interessante acabou vindo para mais perto e foi assim como a minha bunda acabou pressionada contra a virilha de Maurício De La Torre.

𝐕𝐢𝐯𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐮𝐦 𝐝𝐨𝐜𝐞 𝐜𝐥𝐢𝐜𝐡𝐞̂ 𝐜𝐨𝐦 𝐨 𝐦𝐞𝐮 𝐜𝐡𝐞𝐟𝐞 - IncomplWhere stories live. Discover now