"Um convite para o próprio velório"

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Tratar com o garoto foi mamão com açúcar, eu apenas o propus um acordo. O único problema era que em nosso acordo, Maurício também se envolveria.

Eu levei a colher com o xarope até sua boca e depois de dizer que o trenzinho tinha que entrar, Max cedeu rindo e tomando por fim o remédio.

— Bom garoto, tomou tudo!

— Agola a mamãe deta aqui! — Ele diz animado para que eu me deite em sua cama. — E o papai aqui! — Ele bate na outra ponta da cama.

A pobre cama de solteiro não cabia ou muito menos aguentaria três de nós.  Passei a mão por sua cabeça e lhe expliquei que o papai era muito grande pra deitar com a gente e que o melhor era Maurício dormir na sua própria cama.

Estava mais do que claro que Max não daria o braço a perder, foi quando o espertinho apelou para os olhinhos de gato pidão. 

Enormes íris esverdeadas e brilhantes me encaravam, um beicinho vermelho se formou em seu rostinho e as mãozinhas se juntaram implorando.

— Quem ensinou isso a vocês? — O pai do garoto questiona esfregando a cara incrédula.

Eu estou a pouco de ceder, mas não posso, mamãe está me esperando no andar de baixo.

— Meninos eu ficaria com vocês sem pensar duas vezes por que é muito difícil ficar longe dos dois, mas a minha mãe veio passar a noite comigo também e eu…

— A mamãe da mamãe?! — Os gêmeos me perguntam animados com a informação.

— Sua mãe está na cidade? — Desta vez é Maurício quem me questiona.

— Na verdade ela está aqui, veio me acompanhar.

— Por que não disse antes Amanda… — Ele passa os dedos entre o cabelo que se despenteia e o deixa ainda mais bonito.

Estou para dizer que ele não se preocupe, quando este, antes de eu abrir a boca, pega Max no colo e se levanta me dizendo para trazer Arthur.

— Espera! Não precisa…

— Você devia ter me dito assim que atendeu ao celular! — Ele me repreendeu enquanto descíamos a escada.

— O mais importante agora é a febre do Max. Minha mãe a gente resolve depois… — Digo tratando de acompanhar a velocidade com que ele desce os degraus.

— Vamos dar conta das duas coisas juntos. — Ele responde encerrando a discussão.

Chegamos na sala, e minha mãe que batia um papo com a babá, de repente nota nossa presença e se levanta para cumprimentar o "genro".

Seu primeiro comentário sobre ele é sobre sua altura. Definitivamente Maurício De La Torre era alto, mas eu também não era nenhuma baixinha.

— Combinamos de ir visitá-la amanhã, me deixou surpresa sua vinda à cidade.

— Tive um sonho ruim, sobre um acidente com vocês e como coração de mãe não se engana, preferi eu vir do que vocês terem de se locomoverem com duas crianças pequenas até um povoado distante. — Ela explica passando a mão no peito.

Minha mãe sempre me pareceu ter um sexto sentido, então quando a ouvi explicar, entendi tudo.

De qualquer forma era bom vê-la à minha frente depois de meses que eu me mudei para a capital.

Enquanto conversávamos, atenciosamente Danica preparou um pouco de chá e nos serviu na sala. Mamãe e Maurício, como o esperado, haviam se dado melhor do eu poderia esperar e apesar de situação estar se desenrolando a velocidade máxima sem motivo, ela não parece incomodada com minha escolha pra marido.

— Como deve saber, somos só eu e minha filha. Mas eu valho por dois e se machucar minha garotinha, terá de se ver comigo. — Minha mãe o adverti em certo tópico da conversa.

Eu ri, porém com respeito é claro.
Minha mãe era quase uma anã, e se tratando de paciência ou tolerância, a coisa ficava ainda mais curta.

Era divertido ouvi-la conversando com ele sobre tudo e contando outras histórias de quando eu era pequena.
Os meninos em nossos colos, nesta altura já estavam familiarizados com a nova avó e quando me preocupei pelas horas, Max já havia adormecido nos braços dela.

— Vou levá-lo para cima. Vocês continuam. — Digo pegando Max dos braços da minha mãe.

— Mamãe, eu quelo domi com oxes… — Max resmunga.

Minha mãe ouve e diz que já está tarde.

— Olha, não sou do tipo que iria acreditar que vocês não dormem na mesma cama. O menino mesmo já disse. — Ela fala dando de ombros. — Você pode dormir aqui com seu noivo e eu vou chamar um táxi.

— Mãe, eu….

— Isabel, somos familia. Gostaria que você se sentisse em casa. —
Maurício me interrompe.

— Não quero atrapalhar. — Minha mãe insiste se levantando.

— Mas é claro que não atrapalha. Passe esta noite aqui, temos quarto de hóspedes e amanhã tomaremos café da manhã juntos. O que me diz?

— Se não for incomodar.

— De forma alguma. — Ele responde e subimos as escadas.

Estava mais do que claro que ele não sabia que estava nos metendo em uma situação difícil, e isso para não dizer que cavava nossa própria tumba.

𝐕𝐢𝐯𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐮𝐦 𝐝𝐨𝐜𝐞 𝐜𝐥𝐢𝐜𝐡𝐞̂ 𝐜𝐨𝐦 𝐨 𝐦𝐞𝐮 𝐜𝐡𝐞𝐟𝐞 - IncomplWhere stories live. Discover now