"Um simples elogio me derruba"

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— Uma delícia. — A avó dos meninos foi a primeira em elogiar.

Tinha colocado de tudo um pouco em seu prato, e pareceu nunca ter comido um café da manhã como aquele.

— Em casa, meu marido sempre foi um fresco. Toma apenas um café forte e vai almoçar lá pelas duas da tarde. Então quando Maurício e a irmã cresceram, deixei de tomar um café da manhã como este, tudo o que faço é pegar uma xícara do extra forte na cafeteira. — Ela contou com desânimo.

— Pode vir tomar com a gente sempre que quiser mãe, você sabe disso. — As palavras vieram de trás de mim, meu chefe tinha descido ao primeiro andar, ao que parecia há algum tempo, já que ouviu o que a mãe disse.

Ele se aproximou da mesa e puxou a cadeira ao meu lado. Passou um braço por trás de minhas costas e me tombou para mais perto dele, beijando minha testa quando o encaro.

— Obrigada pelo café, amor.  — Disse, me soltando em seguida sem mais palavras entre nós.

Tudo o que eu queria era poder me concentrar na conversa com a mãe dele e esquecer que aquele toque tinha ocorrido.

— Não fique sem graça na minha frente querida. — A mulher mais velha me disse.

Toquei minhas bochechas e elas queimavam. 

— Manda. Quelo maisi suco! — Pediu Arthur.

Dos dois, ele era o mais independente e maduro.
Uma versão mais fofa e adorável do pai.

— Aqui bebê. — Digo colocando até a metade de seu copo.

— Obligado.

— De nada. — Esfrego sua cabeça, o fazendo sorrir.

Ao menos não penso mais no pai, era bom ter mais pessoas no ambiente. Geralmente éramos só eu, meu chefe e Emily no escritório. E com ela passando mais tempo organizando reuniões e conferindo papeladas, no fim só restavamos ele e eu.

Pensando no trabalho me levanto da mesa mais do que de pressa.

— Tenho que ir tomar banho e me vestir, se não vamos nos atrasar. —  Explico antes de sair da mesa.

Os adultos assentem e eu desapareço do ambiente.

Tomo um banho rápido, apesar de morrer por não poder me demorar naquela ducha perfeita. Vou para o quarto e sobre a cama encontro algumas peças que meu chefe deixou.

Tento não enrolar muito, então escolho uma calça Fraire jeans, uma blusa com pegada social branca e um blazer amarelo, penteio o cabelo em um coque desarrumado e agradeço que minha bolsa esteja sempre no carro. Pego um salto alto de dez centímetros e me surpreendo que Mariana use o mesmo tamanho que eu. Todas as suas roupas estão justas, mas entram sem problemas.

Em todo o tempo que levo com Maurício De La Torre, havia visto sua irmã quatro vezes no máximo. A garota não para no país e parece ser uma compradora compulsiva já que seu irmão me mandava esvaziar o guarda-roupas dela a cada quinze dias. Roupas com etiquetas e sapatos na caixa eram aos montes enviados para abrigos que eu conhecia.  No entanto, se tratava da primeira vez que eu pessoalmente os tinha parado para olhar. Normalmente só tirava as peças ainda dobradas das prateleiras dos armários e caíam direto para os sacos.

De repente parei para pensar, era questão de dias para que Mariana voltasse a casa. Como seria se ela me encontrasse ali, casada com seu irmão e dormindo no quarto de hóspedes?

Como se pronto para escutar minhas dúvidas, ele bateu a porta do quarto.

— Entre! — Disse ainda arrumando as mangas da blusa com a do blazer.

A porta se abriu, meu chefe entrou, ele fecha a porta atrás de si e me avalia de cima a baixo.

— Não combina? Estou horrível assim, não é?

— Não se preocupe Amanda, você está bonita. — Ele diz passando por mim e indo até o banheiro.

Bonita? Um elogio simples como "bonita" apenas por vir dele já me deixava com a moral lá em cima. Não que eu precisasse de alguém para me validar, mas as vezes é bom ter a autoestima levantada por mais alguém do que apenas minha mãe.

Lembro então de que não liguei para ela na noite passada e bato com a mão contra a testa.

— Pronto, estou ferrada!

𝐕𝐢𝐯𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐮𝐦 𝐝𝐨𝐜𝐞 𝐜𝐥𝐢𝐜𝐡𝐞̂ 𝐜𝐨𝐦 𝐨 𝐦𝐞𝐮 𝐜𝐡𝐞𝐟𝐞 - IncomplDove le storie prendono vita. Scoprilo ora