"Obedeçam a mamãe"

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Gostaria de poder dizer que o dia passou tranquilamente, mas foi todo o contrário.

Quando o expediente terminou, tudo o que eu queria era poder retirar minhas palavras sobre os gêmeos serem fofos e adoráveis. Eram na verdade uns tipos de cãezinhos com face humana: corriam por todos os lados mexendo nos vasos de plantas e escondendo coisas da mesa do pai, isso sem contar no quanto pediam para ir ao banheiro e comer. Eu quase não tive tempo de fazer meu trabalho, tive de estar cada segundo de olho no que faziam.

Até então os conhecia em sua rotina da manhã, crianças normais pedindo atenção e o café da manhã. Davam certo trabalho, admito, mas nunca foi como hoje. Eu jamais os deixaria vir ao trabalho com o pai outra vez.

— Deem tchau para o papai, vamos subir pra ver a vovó. — Eu disse, os pegando pelas mãos.

— A genti voita ogo pai! — Falou Arthur enquanto acenava em despedida para o pai com a cabeça afundada em papéis.

Entramos no elevador. Enquanto os andares passam, as crianças estão inquietas. Quando as portas se abrem, os gêmeos saem correndo e faço o mesmo indo atrás deles.
Como eu disse antes, pernas curtas, mas ótimos corredores.

Corri o mais rápido que pude, entretanto, com saltos, não havia muito o que eu pudesse acelerar. O corredor era longo e com portas para várias salas e mais outros corredores interligados.

— Merda! — Gritei ao torcer um tornozelo.

Retirei os saltos e os deixei jogados para trás naquele mesmo corredor, as crianças eram mais importantes.

Olhei para todas as portas abertas e coloquei a cabeça dentro de cada uma das salas, umas com pessoas trabalhando e outras apenas vazias ou com computadores ou televisores, típicas para reuniões. Por onde quer que eu revirasse não os encontrava e quando já estava pensando em ligar para o pai deles ou a avó, ambos surgem por trás, agarrando minhas pernas.

— Eles são seus? Se esconderam no quartinho de limpeza ali atrás. — Uma senhora apareceu logo após os gêmeos.

— Obrigada, já estava quase perdendo a cabeça. — Agradeci, me agachando para abraçar os meninos.

Meu coração estava com os batimentos mais acelerados que já tive, abraçar as crianças me confortou e em seguida me levantei para me desculpar com a senhora da limpeza por eles.

— Imagina Sra. De La Torre, não tem de que. — A mulher respondeu ao agradecimento.

Era a primeira vez que me chamavam assim e eu estava sem graça. Claramente ela estava sabendo sobre mim e o CEO, então devia ter notado o anel em minha mão e chegado a suposição de que seria adequado me chamar pelo sobrenome do chefe.

Me fiz uma nota mental para retirar aquele anel do dedo enquanto Maurício De La Torre não estivesse olhando, e colocá-lo de novo apenas se estritamente necessário.

Eu não queria ser conhecida por aquele sobrenome tão cedo e o quanto eu pudesse me manter longe das fofocas, melhor.

— Meninos, não saiam de perto da mamãe, é perigoso. — A senhora lhes afagou a cabeça e eles sorriram assentindo.

A senhora da limpeza se retirou, e eu voltei para o meio do corredor procurando por meus sapatos, assim que os encontrei, os peguei e voltamos a andar pelo andar atrás da sala de minha futura sogra.

Quando avistei sua sala mais tarde, os meninos foram os primeiros a cumprimentar a avó que já cruzava para fora.

— Que bom ver meus pimpolhos de novo! — Ela agachou-se na altura dos netos, os abraçando. — E então? Contem pra vovó, vocês se comportaram?

— Não… — Arthur disse a verdade cabisbaixo. — A genti fugiu da mamãe e ela ico tiste.

— Vocês fugiram da ma… perai. — Ela deixou de prestar atenção aos netos e levantou os olhos me fitando parecendo estar sem palavras. Após alguns segundos se pronunciou: — Eles fugiram de você, não é?

— Uma senhora da limpeza os encontrou e disse pra eles não saírem de perto da mãe, devem ter ficado com isso na cabeça. — Expliquei engolindo em seco, eu não esperava que eles me chamassem assim.

Ela terminou de ouvir os netos, reforçou a bronca por terem fugido e se levantou, entregando as mãos do pequeno novamente para mim.

— Sei que falei sobre dividir o tempo entre vocês e eu, mas tenho uma importante viagem de última hora. Não posso levá-los comigo. — Ela disse, deixando um beijo em cada uma de minhas bochechas e saindo de cena.

Permaneci imóvel por uns bons segundos, pensativa. Pouco antes, no corredor preocupada com os gêmeos, eu reclamei sobre se o dia poderia ficar pior. Bom, eu tinha acabado de descobrir que sim.

𝐕𝐢𝐯𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐮𝐦 𝐝𝐨𝐜𝐞 𝐜𝐥𝐢𝐜𝐡𝐞̂ 𝐜𝐨𝐦 𝐨 𝐦𝐞𝐮 𝐜𝐡𝐞𝐟𝐞 - IncomplDonde viven las historias. Descúbrelo ahora