"De mãos dadas"

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O trajeto apenas teve duração de quinze minutos, porém a tensão no ambiente fez parecer uma hora e meia.
Ao menos para mim, tinha sido assim.

A chegada na empresa causou um alvoroço nos curiosos de plantão, e alguns descarados disfarçavam seus movimentos para tirarem fotos da família.

Alexandra De La Torre estava ao lado do filho, meu chefe no meio segurando Arthur no braço esquerdo e eu, carregando Max no braço direito. Em algum momento ele decidiu entrelaçar nossos dedos e uma série de acidentes surgiram por onde passávamos.

Eu quis retirar minha mão da sua, mas já era tarde depois de ter atravessado todo o hall de mãos dadas.

As garotas da recepção estavam de olhos arregalados, não prestavam a mais mínima atenção aos telefones tocando. Um grupo de engravatados que conhecíamos como "os puxa-sacos do alto escalão", quase caíram um sobre os outros. O primeiro parou de repente e atrás dele vários se trombaram. Foi como assistir um bando de patetas.
Para cereja do bolo uma senhora da limpeza havia acabado de passar pano em uma área da entrada e várias colaboradoras do RH, em seu percurso automático não desviaram e escorregaram por estarem olhando para nós ao invés de por onde andam.

— Todos estão olhando… — Digo enquanto esperamos pelo elevador.

— Acostume-se. — Foi tudo o que ele respondeu.

— Querida, de início é difícil, todos vão querer falar pelas suas costas ou dar palpites em sua vida, mas é só seguir seu coração. — A senhora me dá o conselho sem desconfiar que em meu coração, um sinal de alerta escrito "fuja" em maiúsculo piscava.

Eu não disse nada.
Esperamos o elevador, e assim que entramos na caixa metálica, os burburinhos de comentários de outros seis ocupantes do espaço me fizeram encolher atrás do meu chefe.

Quando descemos no andar presidencial, minha sogra – ah, chega a me dar arrepios por chamá-la assim — , enfim, minha sogra se despede de todos com dois beijos na bochecha e comigo não é diferente.

— Precisando é só chamar. — Diz acenando enquanto as portas do elevador se fecham.

— É, parece que agora somos só nós quatro. — Digo abraçando a Max apertado.

— Ta me apeitando muitu…

— Oh, é que vocês são as coisas mais fofas que eu conheço. Dá vontade de não solta mais! — Digo beijando sua cabeça.

Estamos caminhando para a sala dele e roubando a atenção de todos os gestores, incluindo de setores mais altos, como os responsáveis em análise financeira, análise de mercado e os estrategistas de marketing. Ficavam todos naquele andar em seus "aquários". Isto porque não havia paredes, apenas colunas com vidros do teto ao chão separando os ambientes, mas dando a sensação de todos juntos.

Nunca odiei tanto aquele designer quanto agora. Tudo o que quero é poder esconder minha cabeça em um buraco. Chamamos atenção demais e ele ainda insiste em estar de mãos dadas. 

— Senhor, eu não vou conseguir se todos me olharem assim.

— Segure firme Max. — Ele pede a mim.

Me certifico de que estou e de repente ele leva nossas mãos entrelaçadas para perto de seu rosto, então beija as costas da minha mão. O gesto causa novos acidentes.

Vejo o pobre Joshua da impressão apertar alguns botões aleatórios e os papéis começarem a cair da impressora.
Angela, gerente de marketing, quem estava em uma reunião com seu pessoal parece deixar a fala de lado e nos encarar, como resultados todos se levantam de suas cadeiras para nos verem passar, posso ouvi-la gritando para se sentarem.

— Nunca passaremos de mãos dados pelo estacionamento. Ouviu?

— Por que? — Ele me olha como se não percebesse que roubamos as atenções.

— Podemos causar um acidente sério!

𝐕𝐢𝐯𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐮𝐦 𝐝𝐨𝐜𝐞 𝐜𝐥𝐢𝐜𝐡𝐞̂ 𝐜𝐨𝐦 𝐨 𝐦𝐞𝐮 𝐜𝐡𝐞𝐟𝐞 - IncomplOnde histórias criam vida. Descubra agora