𝐅𝐄𝐄𝐋 𝐈𝐓 𝐒𝐓𝐈𝐋𝐋 ៸ 𝖻𝖺𝗄𝗎𝗀𝗈𝗎 katsuki

⩩ : 𝙩𝙝𝙞𝙧𝙩𝙮 𝙛𝙞𝙫𝙚 , Oikawa.

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O silêncio é a excessividade ontopoética do nada. A mudez não é silêncio porque é a falta do que ainda não se tem e se pode vir a ter. A mudez é estéril até que a insemine a poíesis do silêncio.

Às vezes o silêncio significa tristeza, raiva e frustração. É violento e evenena, nos mergulha em um abismo depressivo. É escuro, vazio. Deixa-nos sem direção, sem chão, sem fim, sem nada.

Aprisiona a alma e como um bombardeio de sensações malíssimas, atinge meu âmago, me entorpece e paralisa.

Esse é o silêncio que escuto agora.

A brisa fria ondula nossos corpos e circula pelo espaço destruído pelo combate entre Mirio e Overhaul. As sombras rondam o corpo do meu irmão, ao qual acreditei em toda a minha vida ser a pessoa que eu poderia confiar de olhos fechados, pois nunca me trairia; nunca me faria mal; nem a mim e nem aos nossos pais.

Eu não podia estar mais ludibriada.

Ludibriada por suas ações que me faziam vê-lo da forma como eu via. Ludibriada por seus abraços e conselhos. Ludibriada pelo seu apoio ao meu sonho de ser heroína, que não passava de uma maneira de me tirar de seu caminho. Ele causou o acidente do nosso pai. Ele o fez ficar em estado vegetativo por três meses. Ele fez com que eu e minha mãe ficássemos todos esses dias sofrendo pela saúde do homem que ele próprio feriu.

É como se todas as lembranças dos últimos meses viessem à tona. A piora no estado de saúde do meu pai após sua única visita. A forma como ele nunca o visitava, usando a empresa como desculpa para isso, pois era exatamente o que ele queria: a empresa. Só podia ser isso e ainda assim, não fazia sentido.

A sensação de perigo se intensifica e a fumaça se espirala por minhas veias, cresce abaixo da pele para me proteger. Meus olhos ardem e sinto uma lágrima grossa escorrer pela bochecha ao mesmo tempo que levanto minha mão para repelir um ataque de Overhaul. Enquanto acompanho Keishin se abaixar e quase se fundir com o chão para escapar dos enormes pedregulhos que se espalham pelo ar, eu permaneço imóvel. Não consigo desviar meu olhar da sua figura. Não consigo controlar minha mente. Não consigo sequer escutar algo ao meu redor.

Dou dois passos na direção do homem que um dia chamei de irmão. Ele volta sua atenção para mim com seu olhar impassível; não há nada ali. Seu corpo se ergue e fica há poucos centímetros de onde estou, suas orbes estão focadas nas minhas, as quais eu sinto que possuem lágrimas acumuladas, prestes a percorrerem minhas bochechas. É nesse momento, quando minha atenção está inteiramente imersa em Keishin, que o chão sob nossos pés some e despencamos até uma sala escura.