Capítulo 33

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Cristal

Apenas volto para casa caminhando sem muito ânimo, pois provavelmente irei aparecer em outro lugar de novo.

Eu tô cansada disso, cansada de tudo, o que adianta tentar viver se no final  irei morrer sem conseguir nada duradouro?

***** —Cristal, eu finalmente achei você— me viro para ver quem falou isso, apenas me deparo com Dante, ele apenas vem até mim e me abraça forte —pensei que nunca mais teria a chance de conhecer você depois que sumiu filha.

Fico um tempo paralisada no mesmo lugar antes de retribuir o abraço.

—pai.... Me desculpa— digo sentindo as lágrimas começarem a cair dos meus olhos. Quando ele para de me abraçar e olha para meu rosto fica preocupado na hora.

Dante —quem foi o desgraçado que fez você chorar? Eu prometo que o mato!— apenas seco minhas enquanto abro um sorriso ao ver sua reação de raiva e preocupação.

—não foi ninguém, eu apenas não consigo parar em um lugar sem aparecer em outro, isso me deixa com medo de não conseguir voltar a ver vocês— digo tentando aparentar calma, pois eu não quero demonstrar fraqueza, eu vou aprender a controlar isso.

Dante —eu vou ensinar você, também posso me teletransportar para outros mundos, princesa— diz abrindo um sorriso, vejo quando coloca a mão em cima do meu cabelo e bagunça ele com o cafuné.

—ei, meu cabelo!— digo, pois meu cabelo vai ficar cheio de frizz por ser ondulado.

Dante —ele fica melhor assim, não quer chamar a atenção de algum homem, não é? Nenhum deles presta, pode confiar no seu papai—  diz como se tivesse dando um concelho muito importante.

—gosto do meu cabelo arrumado, e tenho certeza que qualquer homem olharia para mim mesmo cheio de frizz, sou linda de um jeito ou de outro—talvez eu seja meio reta, mas não deixo de ser bonita.

Vejo que ele fica meio sem expressão ao ouvir isso, mas logo depois volta a ficar sério.

Dante —queria saber de quem puxou toda essa autoestima— fico olhando para a cara dele por um tempo, pois minha mãe disse que puxei isso dele, ela disse que ele sempre se achou irresistível, a última bolacha do pacote.

—da minha mãe com certeza não foi— ainda mais por ela ter problemas para se olhar no espelho, minha mãe é uma das mulheres mais lindas que existe na minha visão, mas ela não se vê assim, raramente se olha no espelho, queria entender como ela se vê.

Dante —para com isso, a Eliza sabe que é linda— diz se virando e abrindo as asas.

—você realmente conhece a minha mãe? Pois parece que não—   ele apenas respira fundo e abaixa a cabeça.

Dante —me diz uma coisa Cristal, você acha que conhece a sua mãe?— só fica um pouco confusa com sua pergunta, mas parando para pensar agora, eu realmente não sei, desde criança tudo sempre girou em volta de mim, ela nunca me contava nada sobre ela, nem sobre o que sentia.

—não, eu não conheço a minha mãe, mas também não conheço você— digo e ele apenas olha para cima.

Dante —não precisa se preocupar com isso, vai me conhecer, sempre estarei aqui para o que precisar, Cris. Podemos voltar para o castelo da Eliza? Ela não demonstra, mas deve estar morrendo de preocupação— diz começando a bater suas enormes asas pretas.

—espera, eu não sei voar— digo isso antes que ele voe para cima.

Vejo que ele vira para mim com um olhar incrédulo como se não acreditasse nisso.

Dante —depois a Eliza se diz boa mãe sendo que nem ensinou você a voar — só faço uma expressão de brava ao ouvir isso.

—minha mãe não é perfeita, e com certeza você também não é, você não é melhor que ela. Minha mãe pode não ter me ensinado a voar, mas me ensinou a lutar,  a ser forte— digo e ele apenas abaixa a cabeça com uma expressão de arrependimento —me desculpe, eu não quis...

Dante —tem razão, eu não pude ensinar algo importante a você, com certeza seria pedir demais que me visse como pai já que nunca precisou de um, se nem sua mãe se preocupa acho que estou fazendo isso a toa mesmo— diz batendo suas asas e se afastando de mim.

—pai...
(...)

Apenas caminho para casa em silêncio, pois estou precisando espairecer um pouco.

(Amon —eu ouvi sua briga com seu pai) quando ele diz isso lembro do colar em meu pescoço.

—não foi uma briga, parece apenas que somos orgulhosos demais. Você ficou me observando o tempo inteiro ou só lembrou do colar agora?— pergunto enquanto caminho pelos bosques frutíferos, tem macieiras e outras árvores com frutos.

(Amon —eu lembrei agora para dizer a verdade, senti saudade de você aí resolvi dizer um oi)

—saudade de mim?— pergunto estranhando um pouco isso.

(—é minha sobrinha, lembra? É uma boa garota, só que tem um pavio muito curto, lembre de uma coisa sempre que for conversar com seu pai, ele tem a mentalidade de uma pessoa que acabou de completar a maioridade, além disso, tem que entender que sua mãe tirou a convivência que ele teria com você, algo que nunca vai voltar)

—eu sei disso! Mas não importa o erro dela, sempre será minha mãe. Amon, eu não tenho tempo para sentir raiva, ficar brava ou ressentida com isso, eu vou morrer de um jeito ou de outro!— digo aproveitando para gritar por estar sozinha.

(Amon —não deveria desistir assim)

—eu não desisti, só não posso ficar achando que terei todo tempo do mundo para ser ingênua e irresponsável— digo continuando meu caminho para o castelo.

(Amon —deveria contar isso aos seus pais, quanto tempo tem) Não, eu não vou fazer isso, não vou preocupar eles durantes esses 5 anos.

—vou contar quando voltar 1 ano para minha morte, talvez eu nem conte, só suma.

(Amon —você é muito cabeça dura, a escolha é sua sobre isso no final das contas)

—o que fez você lembrar de mim?— pergunto querendo mudar de assunto.

(Amon —estava falando com minha esposa sobre filhos e aí lembrei de você) Acho extremamente fofo o fato deles quererem ser pais.

—entendi, vocês parecem conversar bastante.

(Amon —nem tanto, a minha Eliza é bastante fechada)

—fala como se a minha mãe também não fosse assi...— paro de falar ao escutar um bater de asas atrás de mim, vejo as asas bicolores da minha mãe de longe, pois são extremamente chamativas.

Eu sabia que ela ia sentir minha presença quando eu pisasse no purgatório, ela sempre sente.


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