Capítulo 54

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Cristal

Eu não sei a quanto tempo estamos andando nesse corredor cheio de livros sendo escritos, mas meus pés estão começando a doer.

—não tem um atalho para chegarmos até onde quer me levar, pois pelo que estou vendo esse corredor literalmente não tem fim— digo, mas ele me ignora e continua andando sem dizer uma palavra.

Raven —nunca disse que seria fácil chegar onde quero te levar, mas se quiser desistir é contigo— ele é literalmente muito irritante.
(...)

Parece que faz uma eternidade que estamos andando sem rumo para frente, mas tem algo diferente nesse corredor branco cheio de livros, uma porta lateral, e mais para frente continua o corredor sem fim.

Fico instantaneamente aliviada ao ver ele ir até a porta e abri-la, pensei que fossemos continuar reto nesse corredor de livros sem fim.

Apenas o sigo para dentro da porta, é um cômodo vazio na cor azul claro, tem apenas um espelho no centro, um espelho enorme com enfeites em ouro e cristais preciosos.

—o que tem nesse espelho, vai falar que ele é mágico e mostra o que eu quero ver?— digo, pois me parece aquele espelho da história da branca de neve, só falta eu precisar dizer, espelho, espelho meu.

Raven —ele mostra o que os deuses querem ver, serve como uma câmera em tempo real, mostra pessoas caso queira saber de alguém, responde algumas perguntas que não fazem diferença  saber ou não— então é literalmente um espelho mágico e inteligente.

—ele também responde?— pergunto curiosa, mas ele revira os olhos, ele perde a paciência rápido demais.

Raven —Skirax, mostre os possíveis destinos para a alma dessa garota quando ela morrer— quando ele fala o espelho parece se acender como uma televisão, vejo que o moreno se vira e se senta em cadeiras que não estavam alí agora a pouco, quando pisco outra cadeira aparece em frente ao espelho —sente-se na cadeira e veja as probabilidades.

Apenas faço o que falou um pouco confusa, olho para o espelho e vejo uma imagem de uma criança ruiva de olhos azuis, acho que é uma menina pela roupa lilás, escuto uma voz feminina sair do espelho.

Espelho —essa é a primeira probabilidade, que reencarne como sua possível prima, nasceria ruiva ou com outra variação de cabelo, depende da escolha da sua tia.

—então eu seria filha da Scarlett?— pergunto um pouco confusa, acho que não seria tão ruim ser sobrinha da minha mãe.

Raven —não quer dizer que seria, é só uma possibilidade. Skirax, mostra a segunda possibilidade— então tem mais

Só olho para o espelho novamente,  vejo a imagem mudar, vejo um bebezinho de cabelos pretos e roupinha preta, seus olhos são azuis e sua pele morena.

—espera, é um menino?— pergunto, pois com certeza é um garoto, vejo a criança ser tirada do berço por minha mãe, mas logo depois vejo Amon se aproximar e dar um beijo na testa dos dois.

Raven —quando reencarnar não precisa necessariamente ser uma menina— sei lá, eu sempre quis ser um garoto, mas saber que realmente posso me tornar um me assusta um pouco.

Espelho —a segunda possibilidade mais possível é que reencarne como filha da sua mãe de outra dimensão, já que eles estão tentando a bastante tempo.

—mas o Amon não é infértil?— pergunto seria.

Espelho —ser infértil não quer dizer ser estéril, ele tem poucas chances naturalmente, mas com fertilização é possível, seria a criança desejada deles.

—a segunda opção não é ruim, mas eu sinto que não seria eu, mas eu teria uma família completa de certo forma— digo ficando pensativa.

Raven —seria a criança mais amada deles, o herdeiro do purgatório— parece tão bom, mas ao mesmo tempo tão ruim.

—tem uma terceira probabilidade?— digo olhando o espelho.

Raven —é a possibilidade menos possível, mas existe, Skirax, mostre— quando ele diz isso a imagem muda para uma garota de cabelos castanhos ondulados e pele morena, está dormindo no colo da minha mãe, acho que minha mãe real.

Espelho —se sua mãe tiver outra criança poucos anos depois de sua morte é possível que sua alma reencarne na criança, mas aí é sorte, da mesma forma que foi sorte você ter sido criada nessa década decadente.

—para ser sincera, ver essas coisas não ajudam, não seria eu de qualquer jeito, não teria minhas memórias, não pensaria como eu penso, não agiria como eu faço, seria outra pessoa— sei lá, fico feliz por saber que isso deixaria o Amon e a outra Eliza completos por finalmente conseguirem ter filhos.

Raven —você tem razão, não seria você, a criança iria trilhar outra história, mas alivia saber que não acaba simplesmente não é?

—acho que alivia sim, mas não deixaria de ser difícil abrir mão dessa vida e aceitar que outra vai começar— mas é algo inevitável.

Raven —é por isso que é tão difícil conversar com mortais, nada nunca alivia o inegável fim de vocês— pelo tom irritado dele, acho que está fardo de minhas palavras.

—se eu morresse e fosse reencarnar, lembraria de algo ou simplesmente nada? Só teríamos a mesma essência?— acho que pelo olho tremendo perdeu a paciência.

Raven —provavelmente não, mas pessoas com a alma reciclada costumam lembrar de destinados, de amores que impactaram de forma brutal na sua vida, mas você é jovem, não ama ninguém dessa forma então não lembrará de nada— ele poderia ser menos insensível.

—podemos voltar para festa, eu cansei disso, não vou mais perturbar você— digo abaixando um pouco a cabeça.

Raven —como quiser— diz estalando os dedos, logo aparecemos no jardim, em frente a porta de entrada da festa, será que ele poderia ter usado esse poder para chegarmos lá de uma vez? Acho que não, aquelas salas me passavam uma sensação estranha.

—eu preciso de uma bebida, acho que te vejo depois ceifeiro— digo me virando para entrar, pois depois de passar por todos aqueles corredores infinitos minha cabeça parece que vai explodir.

Raven —antes de ir, preste atenção para não se embebedar, se a festa acabar e você ainda estiver aqui vou levar você antes— diz se virando e sumindo da minha frente.

Ele acabou de me ameaçar?

Entre Mundos (Deuses Elementais)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora