Capítulo 59

1.5K 206 37
                                    

Cristal

Me deito na cama perto de minha mãe enquanto sinto ela fazer cafuné em meu cabelo, senti falta disso, do carinho que ela me dava.

Eliza —estrelinha, sabe que estou aqui para qualquer dúvida que tiver não é?— sua voz está tranquila e compreensiva.

—mãe, já ficou indeseja sobre o que fazer da sua vida?— sei que ela não vai entender o que estou tentando dizer, mas eu preciso ouvir um concelho que possa me ajudar e não temer meu fim.

Eliza —sabe filha, durante boa parte da minha vida fiquei em dúvida sim, mas isso faz parte da vida querida,  quando chegar a hora vai seguir um caminho, uma escolha que vai mudar as coisas, talvez para melhor ou pior—– eu não sei bem se isso ajudou.

—mãe, você já foi feliz, quero dizer, de verdade, se já se sentiu completa— eu tenho muitas dúvidas sobre ela.

Eliza —acho que nem eu mesma sei para dizer a verdade, eu já fui feliz sim, mas não sei se estava completa, pois sempre tinha algo faltando na minha vida, acho que ninguém realmente é completo, sempre estamos procurando o que falta em nossas vidas e só paramos quando encontramos— suas palavras são profundas e acho que ela está certa.

—sei que não devia perguntar isso, mas você ainda ama o Dante? Ou já amou?— sei que estou sendo muito intrusiva com essa pergunta, mas eu preciso saber como ela vai ficar quando eu me for.

Eliza —eu já amei seu pai, mas isso é passado, da mesma forma que Amon ficou. Eu me sinto completa em ver você feliz, já é o suficiente— não, isso não pode ser o suficiente para ela.

Tento conter as lágrimas que se formaram em meus olhos, mas não consigo impedir elas de cair, pelo menos estou virada de costas para ela, não conseguirá ver.

Eliza —por que essa pergunta repentina estrelinha? Não está planejando me juntar com o idiota do seu pai né?— quando escuto isso só dou um sorriso triste.

—não, claro que não, você é perfeita mãe, ele não merece você, queria ver você feliz, casada sabe, aí eu poderia ser dama de honra— digo tentando mudar o assunto.

Eliza —entendo, mas isso não vai acontecer querida, estou melhor assim— ela realmente está?

—eu não acho para ser sincera, está sozinha em um reino estranho, sem sua família que mal consegue ver, apenas fazendo seu trabalho e governando da forma que foi ensinada desde criança, nunca conseguiu fazer o que realmente desejou, sair do purgatório— quando digo essas palavras ela apenas fica em silêncio por um tempo.

Eliza —não acha que está pegando pesado comigo? Acha que é fácil aceitar como minha vida é, não é como eu desejei, não consigo nem me olhar no espelho sem me detestar, sinto que todos a minha volta tem a vida que desejam enquanto eu estou estagnada no tempo remoendo meu passado, me culpando por cada escolha ruim que tomei— a voz dela parece tão séria —Eu só quero que você seja feliz, que não cometa os mesmos erros que eu.

—me desculpa, me desculpa por existir— digo não aguentando mais conter as lágrimas, apenas me viro e a abraço forte.

Eliza —não diga isso, eu amo você, de verdade, mais do que eu poderia amar qualquer pessoa no mundo— ouvir isso só me faz chorar mais o que a faz ficar confusa —o que foi, me fala, sabe que pode dizer qualquer coisa né?— só fico em silêncio, pois eu não posso.

—mãe, queria que desse uma chance a um homem ou mulher tanto faz, eu quero de ver feliz, não quero que sua felicidade seja apenas baseada na minha, não vou ficar aqui para sempre, pretendo viajar, sumir do mapa as vezes, conhecer lugares desconhecidos e sem rumo— digo secando minhas lágrimas.

Eliza —filha, eu não sou mais tão nova para querer conhecer pessoas novas, e raramente alguém me interessaria ou chamaria minha atenção, eu não quero sentir ansiedade ou aquele friozinho na barriga que me faz travar e ficar sem jeito, se fosse para escolher alguém eu simplesmente me casaria por conveniência— eu não acredito que ela realmente pensaria em se casar sem ao menos sentir algo pela pessoa.

—esquece o que eu disse, se está bem desse jeito eu não preciso de um padrasto— falo e ela volta a me dar cafuné.

Eliza —se tudo isso foi sobre se achar um erro, saiba que não foi, eu já estava no fundo do poço e sem opções quando fechei o purgatório e me isolei de tudo, quando nasceu acendeu uma luz na minha vida princesa, não pensei que uma criança chorona me daria tanta felicidade— ela me achava chorona?

—nunca pensou em ter outro filho?— pergunto por curiosidade.

Eliza —com certeza não, eu não quero que nada nunca mais saia de dentro de mim, foi agoniante, queria que bebes viessem de outra forma, menos dolorosa— agora ela que está me assustando.

—é tão ruim assim dar a luz a uma criança?— agora estou com medo.

Eliza —não mais que ser esfaqueada na barriga, mas dói bastante, não pense nisso agora, quando começar a querer iniciar sua vida sexual precisará pensar nisso, remédios também erram— ela está tentando me deixar com medo em fazer sexo?

—já vou dizendo que essa sua manipulação não vai fazer eu ficar menos curiosa em querer saber como é fazer isso— digo e ela suspira decepcionada.

Eliza —sabe, sou nova para ser vó, queria que tivesse filhos lá pelos seus 100 a trezentos anos— ela não acha isso muita coisa não?

—mas nem você tem 100 anos— digo e ela fica em silêncio.

Eliza —tenho 39, mas sei que vou viver mais de mil anos, você também vai, pode esperar um pouco para me dar netos sabe— só dou sorriso forçado ao escutar isso, quem me dera viver eternamente.

—não se preocupe mãe, não vou colocar netos nas suas costas— também porque não daria nem tempo de eu querer virar mãe.

Entre Mundos (Deuses Elementais)Where stories live. Discover now