Capítulo 82

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Cristal

Só caio na enorme cama de costas, fiquei quase uma hora arrumando minhas coisas, e só agora que parei para pensar que estou morando sozinha com um ruivo que mal conheço direito, no meio de uma floresta, em algum lugar da terra.

Eu não entendo como minha mãe confia nas minhas escolhas sem nem mesmo eu consigo fazer isso.

Eu preciso descer, acho que Dragomir deve estar fazendo algo na cozinha, ele parece bem tranquilo com o fato de ter alguém morando com ele agora.

Só me levanto da cama e caminho até a porta, fico reparando em toda casa, nos corredores, na parede  bege, no chão de madeira e no teto branco com beiral, a luz é branca alaranjada, tudo me passa uma sensação de casa, de tranquilidade, de lar.

Entro em alguns cômodos, como sala de estar, escritório, biblioteca, um banheiro enorme com uma banheira de hidromassagem, felizmente a próxima porta que abri, foi a da cozinha, fico olhando como tudo é extremamente organizado e limpo. Será que Dragomir paga alguma empregada para limpar esse lugar?

Entro mais a fundo na cozinha e o vejo em frente ao fogão com avental, está com o cabelo preso em um coque, eu não sei explicar o quando essa visão é engraçada, o viril, sarcástico e debochado Drago, cozinhando de avental.

—nunca pensei em ver o famoso Dragomir, o maduro e conservador amigo do meu pai, cozinhando igual uma mulher, pensei que achasse que a função de um homem não fosse essa— digo com um sorriso largo e um tom meio debochado.

Dragomir —está muito engraçadinha, então você acha que uma mulher deveria cozinhar e servir a um homem?— diz se virando para mim, vejo ele caminhar em direção a mesa e colocar o macarrão ao molho branco em uma travessa.

—eu não disse isso, só pensei que você seria como todos os outros homens com mais idade, que não levantam um dedo para fazer algo que consideram trabalho de mulher—  digo e ele abre um sorriso enquanto olha para mim, vejo ele pegar um pedaço de queijo parmesão e ralar por cima, até que essa visão dele é um pouco sensual.

Dragomir —eu tenho um pouco desse pensamento não vou mentir, realmente cresci em uma época que essa era a função da mulher, cuidar do marido, dos filhos e da casa, mas ao contrário da maioria gosto de aprender e mudar, além disso, tenho que ser alto suficiente, pois moro sozinho, quero dizer morava— diz pegando os pratos de porcelana no armário e servindo na mesa —também queria que se sentisse mais em casa, espero que goste da comida.

Vejo ele ir até o forno e tirar um frango enorme, ele coloca em cima da mesa e eu fico olhando.

Dragomir —por que essa cara?  Não gosta de frango?— não é bem isso, a pergunta é, somos duas pessoas como diabos vamos comer tudo isso.

—Drago, estamos em dois, não em cinco— falo enquanto vejo ele tirar um vinho da adega particular dele, no lado do armário de madeira.

Dragomir —não se preocupe com isso,  consigo comer tudo sozinho, minha fome é grande, mas caso queira um pedaço não vou negar, princesa— só fico pasma enquanto olho para cara dele —vamos, pare de timidez e vamos comer antes que esfrie.

Vou até a mesa redonda e sento em uma cadeira em frente a ele, só o deixo servir minha comida e logo depois o vejo abrir o vinho, por que isso está parecendo mais um jantar romântico?

—Drago, posso de perguntar uma coisa?— pergunto enquanto vejo ele sentar em uma cadeira.

Dragomir —claro Abelhinha, sobre o que séria?— diz servindo sua taça de vinho.

—já morou nessa casa com outras mulheres imagino?— pergunto curiosa enquanto pego o garfo para provar a comida.

Dragomir —eu morei aqui com uma mulher, sim, mas ela era como se fosse minha esposa, quero dizer, não tem como eu me casar sem ter algum registro.

—a amava muito?— pergunto e o silêncio se estala na mesa por alguns minutos.

Dragomir —sim, e se eu pudesse trocar a minha vida pela dela faria isso sem pensar já que a culpa de sua morte foi minha, não sei bem o porquê, talvez por ficar ao meu lado— consigo ver culpa em seu olhar.

—Raven disse que sua linhagem foi condenada, acho que quis dizer que seus futuros filhos vão ser condenados a morte, talvez ela estivesse grávida, ela estava?— pergunto e ele fica pensativo.

Dragomir —talvez ela realmente estivesse— o olhar dele mudou completamente.

—Drago, você desejava um dia ter filhos?— pergunto por curiosidade, mas sei que não deveria estar perguntando, deve doer e o incomodar demais.

Dragomir —não gosto de pensar nisso, mas queria ter crianças ruivas correndo pela casa, só que infelizmente eu não posso arriscar que mais pessoas morram por minha falta de responsabilidade. Vamos mudar de assunto e comer, antes que percamos o apetite— ele tem razão.

(...)

Termino de comer ainda impressionada com o sabor marcante dos ingredientes que ele usou, sabe cozinhar, e isso é estranho.

Dragomir —que cara é essa Abelhinha? Não gostou da comida?

—gostei sim, estava maravilhoso, me pergunto onde aprendeu a cozinhar assim—  vejo que ele abre um sorriso ao ouvir minhas palavras.

Dragomir —adoro comidas com variedades de queijo, não sei cozinhar muitas outras coisas além de comidas com esses ingredientes—  então o paladar dele só serve para isso, experimentar queijo?

—daqui a pouco vira um rato e não sabe porque— falo brincando enquanto encaramos um ao outro.

Dragomir —melhor ir descansar, amanhã iremos fazer um tour pela terra, espero que se sinta em casa logo — diz se levantando, então é isso, já vai embora para seu quarto?

—desde quando dorme cedo?— pergunto, pois ele não tem cara de pessoa comportada.

Dragomir —por que acha isso? Quer que eu fiquei acordado com você?— diz me olhando de forma forma divertidamente estranha.

—não!!!— digo nervosamente.

Dragomir —imaginei, espero que tenha uma boa noite de sono, tente relaxar ou ligar para sua mãe quando se sentir ansiosa, não se afaste de uma vez caso planeje isso— diz pegando os pratos e colocando na pia, o vejo levar e logo ir embora.

Entre Mundos (Deuses Elementais)Where stories live. Discover now