Londres, março de 1842.
Christian Francis Ross, um homem que aprendeu desde cedo as dificuldades da vida. O reconhecimento que aguardou pela vida inteira, enfim chegou. Mas com tantas mudanças, surge a vontade de enfim dar sentido e finalmente conta...
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—Você? —olho assustado quando fito lady Catharina no reflexo do espelho.
—Sim eu, meu querido. —seu sorriso sedutor se faz em seu rosto pálido. —Estava com saudades de mim? —seus lábios se movem para beijar meu ombro, mas na mesma hora me afasto dela e removo suas mãos de meu corpo.
—O que faz aqui? —olho para seu sorriso que se intensificou ao ver eu agir de modo brusco com ela.
—Eu ainda mexo com você, não é? —olho-a de maneira indignada.
—Se mexe? —meu riso sai de maneira que se transforma em gargalhada.
—Qual a graça seu estupido? —seu semblante que antes transmitia malicia, agora está convertido em ira.
—A graça? Você achar que algum dia mexeu comigo. —endireito a minha postura e a fito com intensidade. —Vá embora, agora!
—Por isso você é um chifrudo, meu caro. —seu riso volta ao seu rosto. —Já vou indo, deixarei você a sós com os seus chifres.
—Do que está falando?
—Não se faça de inocente, não combina contigo.
—Saia! —berro alto para infame mulher.
—Sairei, mas voltarei. —ela empina seu nariz e da o seu melhor sorriso. —Pois ao contrário de sua esposa, você sempre foi e sempre será único para mim.
Vou até ela e a empurro para fora de meu quarto, em um baque surdo bato a porta com força. Ando até o centro de meus aposentos olhando em todas as direções, mas minhas pernas perdem as suas forças e eu caio de joelhos ao chão.
É como se o mundo que ela terminou de colorir ao mesmo tempo o tenha pintado de preto e branco e destruído todas as minhas esperanças. Ian sempre me materializou como alguém completamente de bem com a vida, alguém que nada pode e nem poderia desestabilizar e estava correto. Eu sempre levei tudo com leveza e a minha vida era relativamente calma, eu vivia na minha zona de conforto, mas ela destruiu todas as minhas barreiras.
Desde que ela surgiu em minha vida naquela noite, foi como se todas essas barreiras ruíssem com o vento e tudo que eu sabia passou a ser desconhecido. Eu queria que as coisas fossem diferentes, mas como eu poderia seguir como se nada tivesse acontecido se aconteceu. Como eu posso seguir como se tudo estivesse normal se meu coração está completamente destruído.
Mas porque caralho aquela mulher viria até aqui? Depois de anos sem demonstrar a sua presença surge novamente em minha vida com a cara deslavada. Cerro os olhos e respiro com profundidade, é como se cada situação me levasse ao chão.
Me levanto com prontidão e me assento na escrivaninha, caço um papel e uma pena imprensada no tinteiro negro. Removo o excesso de sua ponta e o introduzo na folha, sigo escrevendo as palavras no papel envelhecido e enfim termino. Pego a vela próxima a mim e esquento a cera avermelhada nela, derramo um pouco de seu liquido sobre o papel e depois firmo sobre ela o carimbo em formato do brasão de Royer.
