Melissa
Faz três longas semanas da ida de Lurdes para o descanso eterno. Christian parecia ter virado outra pessoa, vive recluso em nossos aposentos, é como se a dor tivesse tomado conta de todo o seu ser.
No funeral vi meu esposo como nunca havia visto, seu corpo desmoronou conforme o caixão ia sendo fechado. Os cacos do seu coração estavam despedaçados envolta do seu corpo, seu olhar perdeu a vida e é como se ele vivesse somente para existir.
Eu vivia constantemente tentando fazê-lo voltar, mas no fundo sei que o que ele precisa de tempo e apoio. Eu tentava de tudo para tentar agrada-lo, mas era inútil. Ian também não estava bem, ela era como uma mãe para ele também e ter que lidar com tudo era doloroso. Eu o compreendo, perdi a minha mãe tão cedo, tive que aprender a ser forte, então Katherine e eu estávamos vivendo como rochas, sempre tentando os alegrar, mas era difícil.
Sigo assentada na biblioteca, olho para o céu através da janela. Ouço uma batida oca na porta e logo o mordomo Phillip adentra de maneira murcha.
Ele e Lurdes eram próximos, desde o principio foram uma magnifica dupla que se dispuseram a ministrar seus trabalhos da maneira única e harmoniosa. Phillip não se conteve nos atos fúnebres e sentiu em seu amago a dor da perda, a amizade deles se consolidou com os anos unidos e de certa maneira os dois agiram como pais para Christian e Ian e agora Phillip estava sozinho, destinado a seguir o que os dois iniciaram.
-Senhora, seus dois amigos da paroquia estão aqui para vê-la. -presumo que sejam Oliver e Daniel.
A alguns dias em uma das visitas do padre Arthur, ele mencionou que os dois pretendiam vir me ver. Ele confessou que a dupla estava cheia de dramas, pois desejavam me ver e então sugeri que eles viessem.
-Agradeço por me avisar, Phillip. - ele assente e faz menção de se retirar. -Um instante, por favor. -o chamo.
-Pois não, senhora? -ele segue a me fitar em desanimo.
Me levanto de meu assento e sigo para perto dele de maneira rápida, então toco seu ombro de maneira gentil.
-Devo desculpas ao senhor... -inicio, mas ele me intercede assustado.
-Não deve. -ele me fita em negação.
-Devo sim, sabe por quê? -ele nega. -Percebi que tem sofrido com a falta de Lurdes, eu percebi, e sequer lhe dei um abraço de conforto.
-De fato estou a sofrer pelo falecimento de Lurdes, admito. -Phillip suspira. -Mas não é o dever de ninguém perceber. -conclui com simplicidade.
-Está redondamente enganado, apesar de ter falhado, eu me importo. -puxo-o para um simples abraço. -Sinto tanto pela sua perda, sei o quão próximos eram.
Ele amolece em meio ao abraço e ouço suspiros contidos em meus ouvidos, o barulho do seu choro em meio ao desabafo silencioso.
-Ela era tudo para mim... -afago suas costas. -Ninguém nunca soube, sequer ela, mas eu era perdidamente apaixonado por aquela mulher teimosa, nunca tive coragem de me confessar e agora é tarde demais.
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Artimanhas De Uma Paixão (Série Destinados Ao Para Sempre)
Historical FictionLondres, março de 1842. Christian Francis Ross, um homem que aprendeu desde cedo as dificuldades da vida. O reconhecimento que aguardou pela vida inteira, enfim chegou. Mas com tantas mudanças, surge a vontade de enfim dar sentido e finalmente conta...